A inspiração hoje não dá para mais...
Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.
Bertolt Brecht
Honoré Dumier A lavadeira
Hoje lembrei-me de ti
E da tua luta para viver
Que todos desprezam
Levantas-te quando ainda não se apagaram as estrelas
Andas pelos caminhos empoeirados
O céu conhece o teu destino
Quando te escondes na sombra
Vergas as costas ao sol que te há-de queimar
E o rosto à terra crestada
Que não te dá descanso
E que há-de tragar todas as tuas forças
Tens a pele tisnada pelo calor
As mãos calejadas
Os olhos mortos e vazios
És um corpo que apodrece escondido
O chão conhece os teus passos
Carregas os teus proventos à cabeça
Tens o mundo agarrado às saias a pedir pão
E já carregas outro no ventre condenado à mesma sorte
Mas algo que não te podem tirar
É a esperança que trazes na alma reprimida
Nas covas que são os teus olhos
E que acalentas todos os dias
Quem te pode abafar os sonhos?
As tuas lágrimas não se vêem
Quem pode saber que desejas a liberdade
Quando não passas de um vulto?
E há-de chegar o dia para soltares esse grito sufocado
Porque estás grávida não dos filhos que te fazem à força
Mas de sonhos de vida
Que dás à luz nesse caminhos de morte
A noite fria desce como um véu
A lua guia-te na escuridão
Amanhã será mais um dia de luta
Nesse corpo de mulher que deus te deu
Sara
Agora que já apresentei o blog é justo que me apresente também:
Análise a um Ser Profundamente Banal…
Deusa do paleolítico, olhos de avelã abertos para o mundo,
fisionomia de coruja, porém não sapiente;
cabelo cor de noite sem luar,
banal no resto, conforme quis a natureza.
Onda do mar, abrigo escondido, conforme a inclinação,
brisa suave mais do que ventania,
bebendo a eterna novidade da sua prematura vida,
morrendo e renascendo conforme deseja o coração.
Como lírio do campo, apreciadora de coisas simples
já que outras não pode almejar,
vivendo de breves momentos
já que longos sua vista não pode alcançar.
Mais não podereis vós saber,
pois está nas profundezas do mar;
só mais saberá
quem as souber ir lá buscar...
(Poema escrito quando andava no 10º ano..)