Quando tinha uns 8 anos a minha psicóloga costumava perguntar-me o que é que eu tinha sonhado. Era muito chato porque ela perguntava isso todas as vezes. Então comecei a inventar coisas. Acho que ela não acreditava, mas agora pensando nisso dá-me vontade de rir. Eu era, salvo seja, uma pequena Humbert inventando sonhos complicados para o seu terapeuta. Mas eu não fazia isso para troçar das ideias do doutor Froit, só queria que ela me deixasse ir brincar com o que havia na sala. Uma vez fiz um jardim zoológico - colocando cada animal de plástico no seu sítio específico. Acho que nos divertíamos muito juntas, mas a nossa relação não tinha sido feita para durar.
A propósito de uma conversa neste blog e também do post anterior lembrei-me da altura em que li os Maias. Não foi uma experiência de terror. Eu era muito atinada e lia tudo o que era preciso alem de usar isso como desculpa: reparem não sou eu que quero mais um livro, é a escola que pede. É um post nostálgico: li-o durante as férias da Páscoa talvez, no sofá da sala, de lado, com a porta fechada em sossego e sem relógio. Era mais concentrada do que hoje, não tinha blog nem passava tanto tempo na net, por isso ficava assim bastante tempo na mesma posição até ficar dormente. Depois vinha a melhor parte: espreguiçar-me toda, o livro no colo. Por mais deprimente que possa soar, não trocava essas horas por nada. Nessa idade achamos que temos todo o tempo - tínhamos todo o tempo do mundo o livro e eu. Tão impressionáveis e sensíveis...Não sei porque será, mas tenho memórias precisas do acto de ler quando era mais nova. Não das impressões que ficaram depois de acabar o livro, mas do momento em si - como estar sentada numa cadeira dura como tudo com o livro aberto no colo ou de barriga para cima enquanto alguém arremessa coisas no andar de cima. Aquelas horas no sofá ficaram assim cristalizadas. E resultaram em que virasse uma queirosiana até hoje, um amor que não pode ser negado. Acho que dos vários tipos de livros que existem há uns que dão vontade de espreguiçar - A Dona Flor dá-me vontade de fazer isso. São tão bons, que lê-los é quase um acto de luxúria. Há uns que dão vontade de encolher...Tipo a Metamorfose. Não quer dizer que não seja uma obra soberba, claro. O pior é quando o livro não desperta qualquer reacção, nem de ódio. Também segundo as minhas experiências o facto de o livro não existir em papel dificulta o desenvolvimento em profundidade destas vontades exteriores. Imaginem um dia os nossos descendentes a fazerem amor com robots...
Os livros do calvin and hobbes foram muito possivelmente as primeiras coisas mais a sério que li. Quando me deram o primeiro acho que ainda nem sabia ler direito, devia ter uns seis anos...As aventuras deste puto levado da breca e do seu tigre de peluche acompanharam as minhas primeiras incursões nas letras e acabaram por acompanhar muito mais fases. Nunca me consegui desfazer dos livros apesar de já estarem em bastante mau estado, alguns já perderem as folhas outros a capa...Quando o dia está a correr mal vou á estante e folhei-os e apesar da passagem do tempo continuo a deliciar-me com o cinismo mas também a ternura daquelas tiras e a reparar em coisas que até então me tinham escapado...Thanks, Mr. Watterson! Algumas das minhas tiras favoritas:
Feminista * plus size * comenta uma variedade de assuntos e acha que tem gracinha * interesse particular em livros, História, doces e recentemente em filmes * talento: saber muitas músicas da Taylor Swift de cor * alergia ao pó e a fascistas * Blogger há mais de uma década * às vezes usa vernáculo * toda a gente é bem-vinda, menos se vierem aqui promover ódio e insultar, esses comentários serão eliminados * obrigada pela visita!
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.