Dois meses depois do acontecimento aqui está esta que vos escreve para contar que efectivamente foi à Feira do Livro. Na verdade fui três vezes o que resultou naquilo que se vê nestas fotos e que dá a entender que comprei tudo o que me apareceu pela frente. Temos de ser honestos, nenhum de nós vai a uma livraria ou Feira porque precisa mesmo de algo novo para ler e depois temos de arranjar desculpas para apaziguar a consciência. Aqui está uma lista com as minhas:
Não fui à Feira o ano passado
(Já li alguma coisa do que comprei no ano anterior a esse? Não, mas isso não interessa)
Ainda não tinha comprado livros este ano
(A última vez foi no passado Agosto de 2023 quando comprei uns sete ou oito livros naquele stand na estação, de acordo com os registos neste blog. já lá fui este ano mas consegui não trazer nada)
Quase todos custaram menos de dez euros
E quando se encontram boas oportunidades é de aproveitar não é?
(Esta é uma das minhas desculpas preferidas. Ao contrário do que se lê por aí - e mesmo admitindo que aqueles em segunda mão já estiveram mais baratos - ainda é possível encher o saco de livros em conta enquanto se vai Feira abaixo)
Alguns livros podem ser difíceis de encontrar fora da Feira
Tive que acompanhar Leitura Júnior
(Uma pessoa tem de promover a leitura entre a juventude. Não que eu tenha tido que fazer muito esforço - o saco dela começou a encher a grande velocidade)
É melhor comprar e ler antes que comecem a ser queimados em fogueiras nas praças
Mais livros da Fundação Francisco Manuel dos Santos para juntar à colecção. Sim, parece inacreditável que aqui a leitora ainda não tenha comprado aquele sobre bibliotecas e também um outro sobre livrarias e alfarrabistas só que a variedade de temas é realmente extensa - é difícil escolher especialmente com o sol a queimar os costados...Não percebo bem o que querem dizer quando falam numa FL mais acessível quando nem existem uns simples repuxos para beber água.
Estes títulos foram os que me chamaram mais a atenção no momento - já não me lembro bem mas penso que os dois do meio, Martim Moniz e o das mulheres refugiadas, custaram 4 euros por serem novidade, os outros dois custaram 2 euros e tal. O primeiro da fila veio de oferta com um livro que comprei na Antígona.
Acho que a este ponto devia ser óbvio que a banca dos descontinuados da RA não devia ser a última parte da Feira a visitar, é a última porque costumo entrar sempre pelo lado oposto...Se calhar para a minha carteira é melhor não começar por aqui. Todos os anos tem coisas de interesse mas neste em especial o stand estava on fire - não literalmente atenção, embora no dia em que fui à noite para aproveitar a hora H raios tenham rasgado o céu e depois começou a chover.
Trovoadas na FL é algo que nunca tinha visto. Angelchamou-me a atenção numa livraria então quando o vi aqui decidi aproveitar visto estar bem mais barato - é uma autora inglesa, não a actriz. OGarden-Partyjá li mas sem ser em papel, já sei que foram 5 euros bem gastos. As outras autoras também já li mas não estes títulos.
O da Muriel Spark não ficou a ver-se lá muito bem na foto, o título é Raparigas de Escassos Recursos ("Há muito tempo, em 1945, todas as boas pessoas de Inglaterra eram pobres, salvo certas excepções." - é a primeira linha), Cranfordda Elizabeth Gaskell ("Em primeiro lugar, Cranford pertence às amazonas; todos os moradores das melhores casas são mulheres. Se um casal se muda para a cidade, por algum motivo, o cavalheiro acaba desaparecendo (...)") comprei na tenda dos pequenos editores, tem sempre clássicos a bom preço. É a mesma autora de North And South obra que não me parece receber tanto amor quanto outras do mesmo período, mas devia.
Luz Coada Por Ferros foi outro livro que trouxe dessa tenda. Havia uma interessante promoção de obras do Júlio Verne (que nunca li) do tipo leve quatro pague três mas o que é isso comparado a trazer mais outra escritora - neste caso tenho dúvidas que seja do conhecimento geral que Ana escrevia sequer. Numa das vezes em que estava nos descontinuados uma pessoa ao lado estava à procura de livros do Nabokov, achei curioso o facto de ela estar a perguntar por uma boa quantidade de títulos incluindo Ada ou Ardor sobre o qual já falei aqui algumas vezes - não é um livro fácil. Talvez compre um livro dele para o ano ou talvez devesse parar de meter o nariz nas compras dos outros...
Mas isso é uma das partes divertidas de ir à Feira. Gioconda Belli é uma autora da Nicarágua, actualmente exilada em Madrid, que encontrei durante a volta ao mundo mas não tive tempo de ler. Estava a menos de quatro euros. josefine klougart também não tive tempo de ler nessa altura, encontrei o livro num cesto a sete euros. Ali não eram cestos, mas estão a ver - aqueles livros aleatórios que se encontram no meio dos recintos. Boas oportunidades que uma pessoa não pode deixar de aproveitar certo?
Eu e Leitora Júnior andámos a meter o nariz em todos os cantos da Feira e num desses - vamos ver o que há aqui só porque sim - encontrei mais um livro ilustrado e não resisti. A Liberdade é Uma Luta Constante estava como livro do dia no último Domingo. Estar a passear e casualmente encontrar algo que se quer muito como livro do dia é uma coisa que não acontece comigo. Se um livro que quero estiver "no dia" estará sempre no outro a seguir a eu ter ido só para fazer pirraça. Os Domingos do fecho costumam ser a pior altura para ir à FL por causa dos magotes de gente e neste calhou a estar um calor horrendo...Mas por dois livros achei que valia a pena.
E esquecemo-nos de levar água - não estávamos tão preparadas como da primeira vez que fomos. Mas não nos esquecemos de levar os nossos saquinhos de pano. A Chegada das Trevas: Como os Cristãos Destruíram o Mundo Clássico era o outro título que também estava como livro do dia neste caso na Saída de Emergência, emparelhado por mera coincidência na foto com o livro sobre a caça às bruxas que finalmente consegui comprar - depois de ter levado com a funcionária mal educada na FL anterior e de ter ido à procura numa livraria mas disseram-me que só dava para adquirir pelo site. Quando se pega nele parece um bocado uma gelatina, meio mole e a capa é tão fina. Preocupante quando a intenção é escrever e sublinhar o dito, de qualquer modo fiquei contente.
Para não pensaram que sou uma leitora modelo que nunca se contradiz:
(a Saída de Emergência edita aqueles livros de fantasia, não é um género literário que me interesse muito. Mas podem adivinhar a única coisa que me chamou atenção porque também já foi mencionada neste blog no passado, sim eu vi-te Howard Phillips, nasty thing, a olhar lá de cima da prateleira, todos os volumes de short-stories a quase dezanove euros cada, treze o preço de Feira. Estou a notar que já li quase todos os contos nos primeiros dois volumes pelo menos - em parte deve vir daqui a minha tendência para coisas estranhas. Mas segui em frente.)
E para terminar mais coisinhas que trouxe dos descontinuados! Um título de Eudora Welty (O Coração dos Ponders) e de Yaa Gyasi - é uma autora nascida no Gana, sim mais uma descoberta decorrente da volta ao mundo será que não me posso calar com isso um bocadinho. O livro que li na altura foi Rumo A Casae como gostei muito não hesitei em trazer este. Frankie e o Casamento já li mas tinha de ter em papel, é tão bom. Os dois primeiros lembro-me de ter visto em blogs e pareceram-me interessantes. Foram as compras da Hora H mais o Mulheres Invisíveisque já estava há algum tempo na wishlist.
A cada ano que passa fica mais difícil escrever um texto sobre a Feira do Livro [de Lisboa] que não seja parecido com os anteriores - isto faz-me lembrar que este blog fez doze anos em Julho, coitado...Já deixou de merecer um post de comemoração. Talvez deva contar como foi o meu percurso na Feira, certamente uma ideia original. Fui no Fim-de-Semana que é uma boa altura para ir se vocês sentirem saudades de se roçarem em muita gente, gostarem de ser atropelados por carrinhos de bebé com os gritos dos seus ocupantes a agredirem os vossos ouvidos. Empurrar um carrinho de bebé é algo que nunca farei, mas vi umas pessoas que me fizeram mudar de ideias - pois lá dentro iam dois cães! Assim, sim. Parei na Leya mas só para ver onde estavam os livros que queria comprar na promoção.
Continuando a íngreme descida, parecia-me ter visto que o Conduz o Teu Arado Sobre os Ossos dos Mortos ia estar como livro do dia. Não vi exemplar algum do livro, mas em compensação fui abordada por dois funcionários sem ter pedido: um para perguntar se eu precisava de alguma coisa e outro para recomendar o Rapariga, Mulher, Outra da Bernardine Evaristo. Aprecio funcionários prestáveis, mas a minha introversão não aguenta. E fui brindada com alguém que pegou no The Haunting of Hill House da Shirley e se perguntou se valia a pena comprar, se seria parecido com a série. Senti dores físicas.
Não vou dizer aquilo em que pensei quando na Tinta da China perguntei por quatro títulos e se iam estar na hora H e responderam-me que só um deles é que ia ser colocado na promoção...Ainda assim comprei O Último Amante da Teresa Veiga mesmo só com o desconto de Feira. Entretanto houve uma paragem no stand da Fundação Francisco Manuel dos Santos, tomei conhecimento dos pequenos livros que publica através de um blog amigo.
Na verdade, o que me atraiu para lá em primeiro lugar foi um papel a anunciar livros a 2 euros. Havia muitos temas interessantes, escolhi quatro (já vi que trazem a fotografia de capa no interior na forma de um postal) e em compras acima dos dez podia-se trazer outro de oferta, da colecção ensaios. Também entrei na tenda das pequenas editoras - o melhor lugar da feira era num canto desta tenda onde estava uma ventoinha. Comprei A Idade da Inocênciade Edith Wharton. Havia vários clássicos a menos de cinco euros.
Nos alfarrabistas a Bernardine Evaristo voltou a fazer uma aparição e desta vez não podia deixar de trazer o livro, ainda por cima estava novo. Também encontrei outros dois títulos que tinha na lista. Um foi Ministros da Noite: Livro Negro da Expansão Portuguesa, trata-se de uma colectânea de textos históricos que mostram as barbáries cometidas durante a expansão\colonização, uma tentativa de desmontar o discurso glorificado que nos enfiam pela goela abaixo desde crianças e onde vão beber o racismo e a xenofobia que vemos hoje. Foi publicado nos anos noventa por iniciativa de um movimento anti-racista. A editora lançou uma nova edição com prefácio actualizado, mas este estava a cinco euros.
E o outro foi A Costa dos Murmúrios - queria um livro da Lídia Jorge e a escolha acabou por recair sobre este, visto que é antigo pensei que o poderia encontrar em segunda mão e assim sucedeu. Estou a dar a entender que andei activamente à procura destes livros, mas foi sorte. A seguir passei para o outro lado da Feira antes que continuasse por ali abaixo a gastar mais dinheiro.
Quando cheguei à Orfeu e perguntei por dois títulos levei logo com um: mas é para comprar ou só para ver? A medo perguntei se iam estar na hora H, a resposta foi não (mas um deles foi editado em Junho de 2020?), num trémulo fio de voz perguntei então se iam estar como livros do dia, a resposta foi que um deles sim mas o outro não (mas esse outro está como livro no dia no site da Feira? Passando de 22 euros para 13), já a jazer no chão eu disse que lá teria que esperar pelo ano seguinte, se não houver falha de stock acrescentou a funcionária acabando de me aniquilar.
Dos descontinuados da Relógio D'Água trouxe Vidas de Raparigas e Mulheres da Alice Munro uma autora da qual gosto bastante, o Tchekhov canadiano como costuma ser apelidada, mas de quem só tenho um livro na estante, o resto não li em papel. Acho que não é assim muito reconhecida por aqui, também porque algumas pessoas parecem achar que o romance é o feito último da literatura e que quem escreve não-ficção, contos ou poesia não merece um Prémio Nobel. Este livro por acaso é um romance, mas provavelmente não terá a estrutura normal de um.
Voltei à Feira dias depois para aproveitar a hora H e trouxe Poesia e Prosa de Judith Teixeira - há uns tempos o Público lançou colecção chamada Censura no Feminino, andei a pesquisar os nomes e estava lá Judith com a sua primeira colectânea de poemas, Decadência (1923) também incluída neste volume. Uma modernista, os seus livros foram mandados queimar, foi dito que ela não tinha "lugar, abstracta e absolutamente falando" e que era uma desavergonhada. Foi este último que me convenceu. Tenho sempre espaço na estante para desavergonhadas. Meninasé uma espécie de livro de contos, estava dividida entre este ou o Anunciações que na capa diz que é um romance mas está escrito em verso. Por pouco não trazia os dois.
A seguir apanhei uma desilusão: queria o primeiro volume das obras completas da Virginia Woolf mas debalde! Já não havia. Ainda assim pensei que valia a pena levar o segundo especialmente a metade do preço. Há que admitir que o primeiro parece mais apelativo pois além de Mrs Dalloway e do Orlando tem As Ondas e também o do farol. Dos títulos que fazem parte deste nunca li nenhum, embora tenha uma pequena edição de Entre os Actos que comprei em segunda mão. Flush é a biografia de um cão - soa aleatório, mas claro que estamos a falar de alguém que podia escrever sobre qualquer coisa. Como escrever um ensaio inteiro a partir de uma saída de casa para comprar lápis.
Nova volta pelos descontinuados e de lá vieram A Filha do Optimista da Eudora Welty (já li, mas não em papel. Gostei bastante na altura), Histórias Naturais de Clara Pinto Correia, só custou três euros, e os Contos de Dorothy Parker. Foi um bom passeio e fiquei contente com o que trouxe - com certeza boas experiências de leitura se proporcionarão.
Sei que algumas pessoas não ligam à hora em que os livros têm cinquenta por cento de desconto na Feira do Livro - para outras será impossível aproveitar visto que acontece durante a semana à noite. Deve ser a única altura em que penso que este país devia ler ainda menos, quem vir aquelas filas vai pensar que somos os mais cultos da Europa. Eu aproveito para comprar livros que de outro não seria possível ao preço normal - com uma excepção ou outra, só estão no meu radar títulos abaixo dos dez euros. É verdade que também se podem encontrar estes descontos em outros sítios, mas a variedade disponível é um ponto a favor. Mas a Hora H acrescenta uma dose extra de adrenalina à experiência de comprar na FL ainda antes de uma pessoa por lá os pés.
Para começar é preciso verificar se os títulos desejados ainda estão na promoção, agora que a lei fez aumentar o tempo para vinte e quatro meses - é muito irritante quando falham a promoção por duas semanas, aconteceu-me com dois. Depois há títulos que não aparecem na pesquisa do site - erro ou estarão mesmo esgotados? Valerá mesmo a pena encetar conversa com as pessoas da banca para saber? Como boa introvertida eu não enceto diálogo a menos que seja estritamente necessário - o horror quando o livro calha a ser de uma editora que faz batota e só coloca com o desconto alguns livros, não todos e não existe maneira de saber de antemão a não ser perguntando.
E mesmo que o livro esteja dentro da promoção, apareça na pesquisa e que não seja de uma editora batoteira - pode ainda acontecer que essas bancas estejam em outra ponta da Feira e contando o tempo das filas e tudo mais não vai dar para chegar lá em tempo útil a menos que vocês sejam o Flash. Claro que nada disto faz com que a minha lista tenha um tamanho razoável e exequível. Tem dezassete títulos (e no início tinha trinta!)...E não contando com os descontinuados e os usados.
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