Mais coisas que faltam nas novelas!
Já aqui falei de algumas coisas que me intrigam nas telenovelas: a misoginia - podíamos todos estar num resort de luxo algures e sem precisar de roubar por cada cena de ódio entre mulheres, cada estereótipo sexista e cada personagem feminina mais desinteressante que uma couve-lombarda; os cenários insanos (às vezes ao deitar ainda penso naquele ananás aberto ao meio, na fruteira...), os diálogos igualmente insanos (outro dia vi uma personagem perguntar a outra que segurava um ramo de flores se aquilo eram flores. Por um momento pensei que ela ia responder que não, que aquilo era uma broa de milho. Infelizmente não aconteceu) e o desprezo pela pantufa - drama que a sociedade ainda se recusa a abordar.
Mas as novelas também têm as suas próprias ideias no que concerne à reprodução humana. Primeiro sempre que elas estão enjoadas é porque estão embaraçadas - claro que vocês podem dizer que isto é comum também em séries e filmes e não é mentira, mas tinha de mencionar porque não consigo parar de imaginar isto na vida real - miga, estás agoniada! Estás prenhe? Nah, só estou nervosa porque tenho um exame de História e não estudei bem a subida ao poder do Terceiro Reich. Admitindo não tem tanta graça como estar de esperanças, os telespectadores mudariam logo de canal (eu realmente fico agoniada com os nervos e chumbei num exame de História na faculdade, embora não tenha sido por causa deste tema. Outro trauma para juntar ao ananás e à visão do quadro do Menino da Lágrima que insistem em usar como decor)
E é sempre um enjoo, é raro se mencionar um período atrasado...No universo das novelas também parecem nunca existir contraceptivos. Não sei em que sociedade distópica vivem estas pessoas que não parecem ter acesso a um simples preservativo a fim de poupar o espectador (a bem dizer, eu. Embora tenha a certeza que há mais pessoas a pensar na problemática da contracepção enquanto a kelly Bailey se desunha numa cena dramática) ao cenário de uma, duas ou várias personagens femininas com pãezinhos no forno ao mesmo tempo...Por consequência é um universo onde o aborto é igualmente inexistente. Mesmo que a mulher tenha sido violada isso não é sequer mencionado.
Se é mencionado é apenas por quinze minutos e acaba com ela a sentir-se corajosa e confiante que vai dar tudo certo. Longe de mim pisar neste empoderamento da pobre personagem feminina que teve de ficar de barriga para tapar buracos na narrativa e empurrá-la para a frente...Vamos acreditar que seja mais por isso do que por ideologia (às vezes durante esses quinze minutos em que se fala do assunto ouvem-se coisas muito interessantes...). É com alegria que noto o esforço dos conteúdos televisivos e cinematográficos para mostrarem que as mulheres têm importância...
Por as fazerem emprenhar, serem violadas ou serem corpos esquartejados num matagal - chocante, e nem têm de falar. Há uns tempos apanhei este diálogo: uma mulher diz que não dormiu com x porque quis e a outra atira de volta céptica: como assim não quiseste?
Se conseguirem resolver o mistério de como é que tal pode ter acontecido recebem um queijinho. A bem dizer tem de existir um bebé para que este possa depois ser roubado pela vilã, em geral solteira, sexualmente activa e com interesse nos negócios. O que me faz lembrar que também não há nas novelas muitas mulheres a ficarem sozinhas, estando perfeitamente bem com isso. Ficar fora do matrimónio e sem filhos é a punição para as más - para mim não soa a punição, mas...Será que a Santa Igreja patrocina estes conteúdos? É verdade que outra coisa que existe sempre é um padre e este nunca veste roupa casual e moderna, como se ainda estivesse no tempo do outro...Deve ser product placement.
No final do dia, todos esperamos que as meninas com um bom coração recebam o seu respectivo par (masculino) e que ambos sejam felizes para sempre continuando a estenderem-se em cima da cama com os sapatos calçados. A vida é mais simples do que parece.