Autoras pelo mundo: o balanço
(Mapa feito neste site. Para ficar mais apelativo dividi por cores: livros a laranja,
contos e outros textos a verde e filmes a cor-de-rosa)
Como anunciado cá está o post com o balanço do desafio! Esta ideia de ler escritoras de diferentes países surgiu já 2019 ia a mais de meio, mas foi quando me apercebi de que as minhas leituras estavam muito centradas em certas áreas. Mesmo lendo apenas mulheres é fácil saltar por cima da diversidade e ficarmos apenas pelo que nos é próximo - as anglo-saxónicas, até mais do que as portuguesas. Logo nessa altura decidi ler escritoras de outros países que estivessem na minha lista de espera e ainda consegui, junto com a leitura de contos, preencher 21 locais. Parece alguma coisa, mas olhando para o mapa era evidente que seria preciso muito mais esforço e tempo...
Ler à volta do mundo não é um conceito novo e muitas pessoas até criam blogs\sites de propósito para partilharem as suas viagens literárias (como o da Ann Morgan - A Year of Reading the World), mas fazer isso exclusivamente com autoras já não é tão comum (um que encontrei, e de onde terei sugestões, foi este - Reading Women Worldwide). E a verdade é que muitos desafios mistos acabam por ter um número bem superior de homens...Pode ser um tanto desanimador. Não posso dizer que tenha pesquisado todos os territórios que existem, mas pesquisei em todos os continentes e dentro destes tentei o máximo de países que consegui. Usei listas e o método simples mas eficaz de abrir um mapa e ir escrevendo no Google o nome dos países + autoras [ou realizadoras] e ver o que acontecia.
E o que aconteceu é que tantos, mas tantos nomes foram surgindo diante dos meus olhos que não tardei a ficar assoberbada. Não houve nenhum sítio onde não tivesse encontrado produção feminina em qualquer das três categorias: contos, livros ou filmes. E mesmo falando apenas dos livros o número de países que pesquisei e em que nenhum nome surgiu foi muito residual...As expectativas foram completamente superadas. O problema é o acesso aos livros. Encontrei várias autoras sem nenhuma obra traduzida para inglês [é a única língua estrangeira que leio]. Por exemplo, a percentagem de livros traduzidos nos Estados Unidos é muito baixa, cerca de 3%. Destes menos de 30% são de autoras.
"Less than a third of all literary translations published in the UK are written by women, and the ones that are translated win far fewer prizes than male writers. (...) Book agents, and even translators themselves, tend to try to convince presses to publish a book by calling it a “classic” when the author is a man (...) They’re less likely to do so when a woman wrote the book. And influential publications (...) review books by men more often than those by women."
(Citação tirada daqui e daqui)
Elas são a minoria de uma minoria. Este desafio fez-me pensar bastante na invisibilidade feminina e como isso também tem impacto no modo como olhamos para outras mulheres, especialmente em certas partes do mundo: como submissas, pobres, analfabetas...Porque tão poucas vezes as vemos como protagonistas. Como mulheres corajosas e dignas. À medida que o ano foi avançando tornou-se claro que não daria para encaixar tudo o que eu gostaria. Não estabeleço metas ou planos literários e tendo em conta 2020 penso que é especialmente importante referir que os números não passam disso mesmo. Ninguém é menos leitor só porque não conseguiu ler a quantidade que lhe era habitual...
No final, em termos de aprendizagem e prazer na leitura este desafio também superou largamente as expectativas e isso deixa-me feliz. Alguns detalhes técnicos: a ideia foi escolher escritoras que tivessem nascido nos países. Não é uma questão assim tão simples mas o que não pretendia era uma história passado no Egipto escrita por uma autora inglesa, por exemplo. Fora isso as histórias podiam passar-se em qualquer lado e dentro do possível tentei diversificar os géneros.
Como tenho o hábito de ter à mão contos para ler entre livros então eles foram naturalmente sendo incluídos e a ideia de intercalar filmes com leituras foi algo que vi neste site e pensei: porque não? Pode parecer uma forma fácil de preencher países, mas é todo um universo em si mesmo e quero continuar a explorá-lo. Já a nível literário o plano é mesmo não ter planos e ler qualquer coisa que me apeteça, mas sou capaz de pegar em livros que tiveram de ficar de fora deste desafio. Agora aqui fica a lista com tudo (incluindo os países que não se veem no mapa). A ordem é a de leitura\visionamento.