O Diário das Nossas Imperfeições
(tirei daqui)
Como moça com peso a mais fui aprendendo umas coisas ao longo da vida...Por exemplo, que há um código de roupa para cada tipo de corpo e se vocês forem gordas é bastante restrito: calções, biquínis, tops, vestidinhos, padrões com riscas, mini-saias, cores claras que chamem a atenção...Olá jovem gorda aqui está a sua melhor amiga: a cor preta. E os seus conselheiros: os artigos das revistas que ensinam a tapar as diversas misérias. O que não se pode fazer: não é como se vocês pudessem estar sentadas na borda de um fontanário numa praça qualquer a comer algodão doce e a ler um romance...É uma imagem romântica mas não se forem gordas ou pelo menos eliminem a parte do algodão - gorda comer coisas dessas em público é admitir o erro ainda por cima estão a influenciar os outros a fazer o mesmo. Não querem que as pessoas vos respeitem? Coisas que não devem dizer: que gostam de pizza se não querem levar com um olhar reprovador se bem que se responderem alface levam com ele à mesma: gostas, mas não deves comer muita. Ou: essa nova dieta não me interessa muito...Erro fatal.
Uma gorda tem de estar sempre obcecada por dietas...Coisas que não devem sentir: auto-confiança. Ou sentirem-se bonitas, ou livres - tirarem a roupa e correrem para debaixo de um repuxo sem enojar ninguém. Ou amor: "se perdesses esses quilinhos ele olhava logo para ti". Vergonha, no entanto, é algo que vocês podem sentir à vontade e todos os dias. Depois fui notando que tal sentimento revigorante era extensível até a quem não tinha gordura a mais. Eu pensava que se até as modelos se sentem pouco confiantes às vezes apesar de serem bonitas e magras então não existia esperança para mim. No Verão é sempre pior...Aqueles anúncios. Os meus preferidos são os da Depuralina que mostram uma jovem deprimida enquanto atrás duas "em forma" escolhem roupas alegremente. Não há grande diferença entre esse anúncio e um monte de entulho na sarjeta, excepto que o monte de entulho não pratica bullying com ninguém, só está ali sossegado.
Lá acabei por chegar à grande verdade: todos são bonitos independentemente de qualquer padrão previamente estabelecido. Demorou um bocado. Na verdade é mais um work in progress. Alguns dias não são assim muito bons...Mas parte-me o coração que metam estas ideias horríveis na cabeça de meninas (e meninos) pequenos e jovens. A net nem sempre é o melhor sítio para falar disto a julgar por algumas coisas que se lêem, desde insultos até argumentos como " não devias publicar essas fotos porque estás a incentivar à obesidade". Queria ganhar um euro toda a vez que encontro esta balela. Os blogs não escapam, há muito polícia da moral a escrever por aí - "não imaginam a baleia que vi na rua hoje...Porque não se vestem estas pessoas com a roupa indicada para o seu corpo?" Felizmente, nem tudo é mau: há gente que indiferente aos insultos não deixa de se mostrar. Fico super contente quando encontro páginas pessoais ou sites que incentivam ao positivismo corporal e mostram que não há nada de vergonhoso nos pneus a mais, nos ossos salientes, nas cicatrizes, nos sinais, na cor...Não é o que temos a mais ou a menos que nos deveria definir certo?