Mulheres na Guerra
Recentemente em conversa nos comentários aqui no blog surgiu o tema do papel das mulheres na guerra - pouco conhecido, como acontece em muitas outras áreas. Manuais de História e afins passam a imagem das senhoras a acenar com lenços e depois a voltarem para os seus novelos, fomentando a ideia que elas eram umas incapazes especialmente em "assuntos de homens". O ano passado escrevi um post sobre isto e lembro-me de ter ficado sem espaço para tantas personagens femininas que encontrei. Elas eram aviadoras, condutoras de tanques, espiãs, mecânicas...Assim, é com prazer que este estaminé apresenta mais um episódio da rubrica que também se podia chamar: histórias sobre as quais Hollywood fará cerca de zero filmes.
Filha de mãe americana e pai indiano, descendente de uma dinastia imperial, Noor Inayat Khan era uma princesa de coragem invulgar. Em 1940 entrou para a Women's Auxiliary Air Force onde recebeu treinamento como operadora de rádio e em 1943 tornou-se a primeira mulher operadora a ser enviada para a França ocupada. O trabalho era tão arriscado que em média um espião só conseguia trabalhar seis semanas antes de ser descoberto. Mas quando o grupo de Noor foi descoberto ela recusou-se a fugir, tornando-se o único operador de rádio em Paris - tinha que estar em movimento constante para não ser apanhada. Isso aconteceu duas vezes: quando se recusou a assinar um papel renunciando a novas tentativas de fuga enviaram-na para Dachau. Noor foi morta a tiro lá em Setembro de 1944.
Simone Segouin era membro de um grupo da resistência durante a ocupação. Era mensageira (passava secretamente mensagens de um grupo para outros), participava nos combates de rua e em missões que incluíam explodir pontes, descarrilar comboios e capturar soldados alemães: em Agosto de 1944 (e com 19 anos) ajudou capturar 25 na sua cidade natal Thivars, a cerca de 80 km de Paris em cuja libertação também se envolveu. A sua coragem valeu-lhe a Cruz de Guerra, uma condecoração militar. O ano passado foi dado o seu nome a uma rua e ela esteve presente na cerimónia.
Rose Valland era funcionária do Museu Jeu Du Paume - uma galeria nas Tulherias que está anexada ao Louvre - quando em 1940 o Reich decidiu usar o espaço para guardar obras recolhidas em outros museus ou retiradas a famílias judias e que depois eram enviadas para a Alemanha. Rose foi o único funcionário francês que não foi despedido, pois além de trabalhadora era discreta. Tão discreta que eles nunca perceberam que Rose era fluente em alemão e que entendia tudo o que era dito. Num diário ela ia secretamente registando o nome de cada peça e o sítio para onde seria enviada. Mais: ela entregava esses registos à resistência que tentava impedir o embarque. Ao longo de 4 anos ela catalogou mais de 20 mil obras: graças a isso quase todas foram recuperadas no fim da guerra.
Roza Shanina era sniper do exército russo, conhecida como O Terror invisível pela sua precisão e capacidade de camuflagem. Quando estava na escola de snipers o seu bom desempenho fez com que lhe oferecessem o lugar de instrutora, mas ela preferiu ir para a frente de combate. Lá comandava um pelotão de mulheres atiradoras. Um dia chegou uma ordem: todas as mulheres se deviam retirar. Isso não estava nos planos de Roza - quando lhe recusaram o pedido de ir para a frente, ela foi na mesma. Esteve na ofensiva de Vitebsk–Orsha na Bielorrússia no Verão de 1944 e na batalha de Vílnius, na Lituânia, no mesmo ano - recebeu três condecorações incluindo uma medalha de coragem. Morreu enquanto lutava na Prússia oriental a 28 de Janeiro de 1945.
Nancy Wake, nascida em 1912 na Nova Zelândia, foi uma das heroínas de guerra mais condecoradas. Foi enfermeira em Sidney, jornalista em Paris e em 1940 juntou-se à resistência: era mensageira e ajudava aliados e judeus a escapar. Era tão esquiva que a Gestapo a apelidou de rato branco e oferecia 5 milhões de francos pela sua captura. Em Abril de 1944 aterrou em Auvergne (no centro de França) com a missão de organizar os grupos da resistência ali. Conseguiu recrutar quase 7.500 membros que atacavam instalações alemãs usando uma táctica de guerrilha. Além de manter o pessoal coordenado e motivado ela tinha de localizar e gerir o armamento que era enviado pelo ar e garantir que as ligações via rádio com a Inglaterra se processavam. Tudo isto pelo meio do mato, com escaramuças constantes e quase sem dormir. Uma vez matou um tipo só com as próprias mãos.