Filme: Lucy
Dizem que só usamos 10% do nosso cérebro. O que aconteceria se usássemos 100%? Lucy é uma moça uma bocado doidivanas que gosta de ir para a borga e que pelo meio estuda qualquer coisa...Nada fora do comum. Até ao dia em que se vê envolvida com um cartel de droga que lhe enfia no estômago um saco com um pó azul. Uma nova droga, capaz de aumentar a capacidade cerebral de quem toma. Obrigada a servir de correio, o saco acaba por rebentar e Lucy passa subitamente de uma mulher meio patética que está metida em sarilhos para uma mulher com poderes extraordinários que incluem conseguir criar matéria. Fiquei curiosa com o buzz criado à volta deste do filme...E pronto, tem a Scarlett. Mas cheguei ao final com a sensação de oportunidade desperdiçada - basicamente o realizador pegou no seu Quinto Elemento, juntou-o com o Old Boy e compôs a coisa com uns efeitos que não havia na altura em que a Milla aterra na navezinha do Bruce Willis e lhe pede ajuda. O resultado acaba por ser mais aziago que outra coisa...
A primeira parte do filme é razoável. É apresentada a questão central da capacidade do cérebro, mas também algo que me parece muito premente: o que fizemos à terra desde aqui estamos? o que estamos a fazer agora? Não estaremos mais preocupados com o ter do que com o ser? Uma mistura interessante de ficção com documentário e com alguns pormenores dignos de nota como a relação entre esta lucy e a outra - o hominídeo que dizem os cientistas viveu há cerca de 3,3 milhões de anos e que foi descoberta na Etiópia em 1974. Creio que a ideia era estabelecer um paralelo entre dois pontos extremos da evolução. Se vocês acreditarem em australopitecos com é evidente - ou a parte dos golfinhos. Nota-se que o filme tem algum potencial.
Mas quando chega á outra metade perde-se. Acho que o problema é tentar combinar demasiadas coisas - ficção científica, documentário, filme de acção...Too much. A questão central afoga-se no meio de tantos tiros. O final é a derrapagem total: uma apoteose de efeitos especiais que parecem estar ali mais para tapar os buracos da narrativa que outra coisa. Atenção que nada tenho contra efeitos, acho que havia alguns bem conseguidos como quando Lucy viaja pelos tempos numa cadeira...Parece ridículo dito assim mas eu achei aquilo giro. Só que é o mesmo problema - too much. Nos últimos minutos quase nem há diálogo, é como se os efeitos fossem simplesmente atirados para encher o olho e ainda que alguns fossem pertinentes no contexto o resultado final soa exagerado.
Não sei se realmente só usamos 10% do cérebro, já li isso em vários sítios mas também já li que era um mito tipo ver-se a muralha da china da lua. Acredito que aquilo que sabemos sobre o funcionamento do cérebro seja apenas uma ínfima parte do todo. A sua capacidade de Regeneração, o processo da memória, as conexões...Talvez haja realmente coisas, talvez não mandar pessoas pelo ar estalando os dedos, que somos capazes e não sabemos. Mas como as pessoas são más por natureza e só pensam no seu próprio umbigo, talvez termos mais capacidade mental significasse o total caos...Ou conseguiríamos usar isso para nos tornarmos melhores? A melhor coisa destes noventa minutos é mesmo a Scarlett. Ela consegue ser fria e badass e ao mesmo tempo frágil e desolada - excelente interpretação. As restantes também são competentes...E não se pode dizer que a premissa base não seja interessante e que não seja capaz de nos por a reflectir, além de ter um pormenor ou outro bem pensado. Se fosse mais focado em vez de se desperdiçar em soluções comerciais mais que vistas e em exageros digitais, teria saído algo melhor...