Livros Nostalgia Preguiça
A propósito de uma conversa neste blog e também do post anterior lembrei-me da altura em que li os Maias. Não foi uma experiência de terror. Eu era muito atinada e lia tudo o que era preciso alem de usar isso como desculpa: reparem não sou eu que quero mais um livro, é a escola que pede. É um post nostálgico: li-o durante as férias da Páscoa talvez, no sofá da sala, de lado, com a porta fechada em sossego e sem relógio. Era mais concentrada do que hoje, não tinha blog nem passava tanto tempo na net, por isso ficava assim bastante tempo na mesma posição até ficar dormente. Depois vinha a melhor parte: espreguiçar-me toda, o livro no colo. Por mais deprimente que possa soar, não trocava essas horas por nada. Nessa idade achamos que temos todo o tempo - tínhamos todo o tempo do mundo o livro e eu. Tão impressionáveis e sensíveis...Não sei porque será, mas tenho memórias precisas do acto de ler quando era mais nova. Não das impressões que ficaram depois de acabar o livro, mas do momento em si - como estar sentada numa cadeira dura como tudo com o livro aberto no colo ou de barriga para cima enquanto alguém arremessa coisas no andar de cima. Aquelas horas no sofá ficaram assim cristalizadas. E resultaram em que virasse uma queirosiana até hoje, um amor que não pode ser negado. Acho que dos vários tipos de livros que existem há uns que dão vontade de espreguiçar - A Dona Flor dá-me vontade de fazer isso. São tão bons, que lê-los é quase um acto de luxúria. Há uns que dão vontade de encolher...Tipo a Metamorfose. Não quer dizer que não seja uma obra soberba, claro. O pior é quando o livro não desperta qualquer reacção, nem de ódio. Também segundo as minhas experiências o facto de o livro não existir em papel dificulta o desenvolvimento em profundidade destas vontades exteriores. Imaginem um dia os nossos descendentes a fazerem amor com robots...