Leituras no limbo
(Sophia de Mello Breyner e Conceição Lima em São Tomé. Anos 80. Tirado daqui)
Que não sou a leitora mais organizada, já não é nenhuma novidade. E recentemente dei por mim com vários livros no limbo - tinha a intenção de os ler, mas outros títulos acabaram por se sobrepor. Por outro lado não queria estar a devolvê-los às estantes então ficaram à espera. Um deles é Vagina: A re-education de Lynn Enright, também é sabido que me entusiasmo facilmente com livros que versam sobre o pipi, comecei a ler mas depois havia este sentimento de culpa por o Sensibilidade e Bom Senso estar ali a ganhar pó e considerei ler os dois ao mesmo tempo - só que fiquei empolgada e a não-ficção ficou para trás.
A empolgação durou até mais de meio e depois foi decaindo pelo que achei que o melhor seria pegar em outra coisa - A Dolorosa Raiz do Micondó, um belíssimo livro de poesia de Conceição Lima. É o segundo que leio dela, o primeiro foi O País de Akendenguê que li durante a volta ao mundo. Estão ambos editados pela Caminho. Agora que penso nisso o desafio foi pródigo no que toca à poesia pois também gostei muito de Odete Costa Semedo e Ana Paula Tavares. E recorda-me mais uma vez como é absurdo que a literatura de países de expressão portuguesa esteja ausente dos currículos nas escolas...
Neste momento estou a ler Raparigas Mortas de Selva Almada. Este já estava à espera há um tempinho considerável - narrativa centrada no homicídio de três jovens mulheres nos anos oitenta na Argentina. Vendo a perspectiva de ler mais de cem páginas sobre mulheres violadas e assassinadas eu tinha-me acobardado logo na introdução. Recorda-me mais uma vez de como o feminicídio devia ter o mesmo estatuto que a prática de genocídio e ser julgado no Tribunal Internacional - muito difícil encontrar um genocídio que seja cometido de forma tão ampla em todos os países do mundo, todos os dias e no entanto aceite como perfeitamente normal...Já estou quase a acabar. A minha mente quer logo saltar para a próxima autora latina a descobrir, mas vou tentar acabar o que falta primeiro.