Ideias importantes sobre consenso e sexo positivo
Não tinha planeado este post, mas ontem estava a pensar que além de haver tanta gente que parece simplesmente não ver a violência sistemática contra as mulheres, há um número arrepiante que não entende o significado da palavra não nem entende o conceito de consentimento. Reuni alguns pontos importantes sobre isso. Obrigada de antemão a quem quer que esteja desse lado a ler.
Ponto 1: o consentimento não tem excepções. O vosso não é sempre válido, sempre! Não interessa com quem estão e em que fase - se ainda estão no restaurante ou no quarto já sem roupa. Quando alguém diz para parar, é para parar. Fim da história. Até podíamos correr nuas pela rua e ainda assim não haveria desculpa para uma agressão sexual. Não interessa a vossa roupa, cor, profissão, o que fizeram antes, o número de parceiros sexuais que tiveram. Não há desculpa. NUNCA.
Ponto 2: é válido mudar de ideias. Não interessa se foram para o quarto com a ideia de fazer sexo, se chegaram lá e mudaram de ideias - é totalmente válido mesmo que já estejam na cama. É válido em qualquer momento. Não continuem com algo com a qual não estão confortáveis. Já sabias ao que ias, estavas a pedi-las. Não acreditem nesta merda.
Ponto 3: O corpo é vosso, vocês devem tomar as decisões que acharem melhor. Querem esperar, não estão preparadas - isso é totalmente válido. Arrepia pensar no número de raparigas que se sujeitam, porque ele quer e é tudo uma questão de “relaxar”. Não! Ignorar as dúvidas da outra pessoa descredibilizando-as dizendo que ela está a complicar tudo, usar meios para ela “relaxar” ou coagi-la do tipo se recusas mostras que não me amas...Amor envolve respeito e envolve saber ver quando um lugar e um momento não são apropriados e quando a pessoa não está confortável. Ignorar isso e continuar: mesmo que o não, não tenha sido dito explicitamente - é violação.
“Ele também me beija, e logo estamos nos agarrando como se fosse a única coisa que soubéssemos fazer. Não é o bastante. Minhas mãos descem pelo peito dele, e ele está com um volume em outras partes além dos braços. Eu começo a abrir o zíper da calça jeans dele. Ele segura minha mão.
— Opa. O que você está fazendo?
— O que você acha?
Os olhos dele observam os meus.
— Starr, eu quero, quero mesmo…
— Eu sei que quer. E é a oportunidade perfeita. — Beijo o pescoço dele e acerto cada uma daquelas sardas perfeitamente posicionadas. — Não tem ninguém aqui além de nós.
— Mas a gente não pode — diz ele, a voz tensa. — Não assim.
— Por quê? — Eu enfio a mão na calça dele com a intenção de tocar no volume.
— Porque você não está bem.
Eu paro.
Ele olha para mim e eu olho para ele. Minha visão fica embaçada. Chris passa os braços em mim e me puxa para perto dele (...) Ele me deixa chorar tanto quanto preciso”
(eu queria muito arranjar forma de encaixar esta cena num post)
Ponto 4: não têm de fazer sexo para mostrar que gostam de um tipo. Esta ideia está em todo o lado: amo-te agora abre as pernas. Bullshit! O Amor não é um dever. Isto leva ao Ponto 5: uma mulher não deve sexo a homem nenhum. Não interessa se é vosso namorado ou marido ou o que for. Vocês são seres humanos completos e têm o direito de estar com alguém que faz coisas para vos ver felizes não simplesmente porque quer enfiar a pila.
Nunca percebi qual é a dos maridos que lavam um copo e esperam que a mulher se ajoelhe logo, ainda menos quem se finge amigo só para isso. Vão-se foder com a vossa friendzone. Ponto 6: maridos (parceiros) também podem ser violadores. O problema não apenas o simpático estudante nota 20 que faz voluntariado e que violou uma rapariga à saída de um bar, mas também os que o fazem a coberto de instituições socialmente aceites. Não importa que estejam casadas há 10 anos - é violação.
Ponto 7: uma mulher têm o direito de dizer ao seu parceiro para usar protecção. Arrepia pensar em raparigas assustadas até para dizer ao namorado para usar um preservativo. A nossa segurança vem em primeiro lugar! Podemos fazer as perguntas que quisermos e devemos poder dizer o que queremos e o que não queremos, o que gostamos e o que não. Não é feio nem é sinal de promiscuidade falarem de sexo com o vosso parceiro. Se ele ficar chateado, então é um idiota. Não percam o vosso tempo com tipos assim. Temos de ensinar as raparigas que elas têm valor e que não se devem anular a favor de ninguém. Isto pode prevenir uma vida inteira de sofrimento.
Ponto 8: o nosso prazer é importante. Temos o direito de ser felizes na cama com outra pessoa. Quem é que tem o único órgão do corpo humano cuja única função é o prazer? Exactamente! E não só. Não é admissível ainda termos em países que afirmam ser civilizados, mulheres que nunca tiveram um orgasmo ou qualquer tipo de intimidade real na vida ou que suportam dores e desconforto.
Ponto 9: assédio não é piada, é uma agressão que deve ser punida. há quem ainda não tenha percebido que temos o nosso espaço e o direito de decidir quem nos irá tocar e em que circunstâncias. Toques e elogios não solicitados tal como as violações são motivados por dominância: eu ponho a mão aqui porque quero e posso e não há nada que possas fazer. Mas quem quer ser macho alfa que vá para selva. Não temos de tolerar esta merda em lugar algum.
Ponto 10: temos o direito a ser ouvidas. Quando acontece sabemos o que tanta gente diz. Vão dizer que é melhor ficarem caladas. Vão esmiuçar a vossa vida, insultar-vos...dizer que a culpa foi vossa. Não acreditem e não se esqueçam que há milhões de mulheres em todo o mundo a passar pelo mesmo, algumas tão longe, como no Congo, outras tão perto que é só virar a esquina. Não estaremos sozinhas.