History Lover Problems - III
Em miúda sempre que pensava num jornalista imaginava um senhor num apartamento minúsculo sentado a uma secretária com uma máquina de escrever, um cinzeiro de um lado e um copo de whisky do outro, papel amassado por todo o lado no chão - quem disse que para escrever só era preciso ter inspiração estava enganado - é de noite ou está a ser e como a divisão tem pouca luz tudo fica meio sombrio. Mais tarde acrescentei a fotografia de uma mulher estrategicamente guardada numa das gavetas da secretária e depois música: uma melodia vinda de um aparelho qualquer na obscuridade e que fica a pairar na atmosfera sufocante. Demasiado triste talvez...Não me perguntem porque é que pensava em jornalistas como senhores saídos do Mad Men. Acho que é por isto que não se deve ler ou ver TV em demasia - fica-se com a cabeça cheia de disparates. Ainda por cima nos exames nunca perguntavam o que eu achava que as pessoas pensavam ou diziam naquela altura, só coisas teóricas, tipo explique o plano económico de x...Seca.
Entretanto para compensar esta imagem masculina inventei uma investigadora - à secretária com os pés displicentemente para cima, num gabinete arrumado no ultimo andar de um prédio (lá em baixo está o carro preto que ela conduz com demasiada velocidade e que tem um peluche pendurado - prenda de um ex), a arma estrategicamente guardada numa gaveta, a soltar uma baforada de fumo enquanto olha com ironia para o cliente à sua frente que claro estava à espera de encontrar um homem...Ela publicita os seus serviços com um nome ambíguo de propósito. Gosta de fazer tartes de mirtilo nos tempos livres e tem uns pais amorosos que acham que ela é dactilógrafa numa grande empresa e que vai casar com um tipo chamado Rudolf que eles nunca viram mas da qual já ouviram falar muito bem. Na verdade ela é amiga do senhor do jornal que escreve à noite - não era mas achei agora que era giro se fosse. Ela está a tentar arranjar coragem para se declarar à irmã dele que é a verdadeira dactilógrafa.