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Desabafos Agridoces

"Enfim, bonito e estranho, desconfio que bonito porque estranho"

Desabafos Agridoces

"Enfim, bonito e estranho, desconfio que bonito porque estranho"

Então, como foi o ano literário?

Foi muito feliz, embora só tenha tomado plenamente consciência disso quando fiz a lista com todos os livros lidos - à mão numa folha como é costume, sublinhando a marcador os títulos a que dei 5 estrelas. Mais coisa menos coisa fiquei com 30 candidatos à lista final...Precisei de uns segundos para assimilar esta informação e depois devo ter dado um gritinho (para dentro pois era muito tarde na noite)

 

O ano passado foi óptimo e neste as coisas encaminharam-se ainda mais no sentido de me fazer ver a importância de ler autoras e de celebrar o talento e expressão feminina. Houve alturas em que além da questão literária e de escrita eu estava contente pela mera existência daquele livro. Por uma mulher decidir falar sobre a relação com o seu corpo ou sobre a sua experiência de índia numa sociedade branca e intolerante. Ou decidir ilustrar um livro sobre cientistas ou que o seu romance terá senhoras idosas como protagonistas.

 

Não é apenas crescermos como leitoras(es), mas também como humanas(os). Mas é preciso estarmos na disposição de ouvir estas vozes à margem. E o que li afinal? Bem, não achavam que eu ia ficar pelos quatro subtilmente mencionados acima...Aqui vão mais alguns dos favoritos: 

 

. Orlando, Virginia Woolf

Uma sátira deliciosa, um triunfo contra as convenções e a rigidez (tudo é fluido aqui incluindo claro: o género) pela liberdade de sermos quem quisermos ser. Maravilhoso. É também uma longa carta de amor. Por exemplo, para as imagens de Orlando no livro, Virginia usou fotografias da própria Vita. 

 

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Virginia Woolf and Vita Sackville-West, Monk's House

(Rodmell, England), 1933. Taken by Leonard Woolf

 

. Vozes de Chernobyl, Svetlana Aleksievitch

A 26 de Abril de 1986 a humanidade perdeu a inocência e acordou para o potencial de destruição maciça do seu próprio progresso. Dando voz a centenas de pessoas que viveram o acidente, Svetlana coloca a nu a sua dimensão humana e as suas extensas e devastadoras consequências. 

 

Hidden Figures, Margot Lee Shetterly 

The American Dream and the Untold Story of the Black Women Mathematicians Who Helped Win the Space Race. Livro que resgata do esquecimento o trabalho fundamental das mulheres negras na NASA

 

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A Vindication of the Rights of Woman, Mary Wollstonecraft

Uma obra corajosa e essencial para entender a trajectória dos direitos das mulheres. Mary sentiu na pele o que acontece a uma mulher quando denuncia a injustiça - alguém disse que ela era uma hyena in petticoats. Ela desmonta argumentos misóginos de filósofos bem conhecidos e aborda muitas questões pertinentes. Algumas dependendo de onde se vive podem já ter sido (com muito esforço nosso) ultrapassadas, outras não. Brincar com bonecas não é uma coisa natural das meninas, o casamento não deve ser o único alvo na vida de uma mulher, o cavalheirismo é degradante - ideias que ainda não entram na cabeça de muita gente.

 

. Woman at Point Zero, Nawal El Saadawi

Numa cela de prisão, Firdaus aguarda para ser executada. No pouco tempo que resta ela conta a sua história. Que ecoa o sofrimento de milhões de mulheres no mundo. Nawal é uma proeminente feminista egípcia. Este livro é baseado num encontro que ela teve com uma mulher condenada à morte numa prisão do Cairo.

 

"Men impose deception on women and punish them for being deceived, force them down to the lowest level and punish them for falling so low, bind them in marriage and then chastise them with menial service for life, or insults, or blows."

 

 

. A Pianista, Elfriede Jelinek

Violência, repressão feminina e hipocrisia social - um soco bem dado (e necessário) no estômago do leitor.

 

. We Were Young and at War, Sarah Wallis e Svetlana Palmer

The first-hand story of young lives lived and lost in World War Two. Testemunhos de adolescentes de diferentes partes do conflito que lançam uma visão pujante sobre os horrores da guerra e do que é crescer no meio disso...

 

. Nothing to Envy: Ordinary Lives in North Korea, Barbara Demick

Um livro fantástico para tentar compreender como funciona a Coreia do Norte. Demick passou sete anos a investigar e a entrevistar dissidentes para conseguir reconstruir o dia-a-dia das pessoas comuns que lá vivem.

 

"If you look at satellite photographs of the Far East by night, you'll see a large splotch curiously lacking in light. This area of darkness is the Democratic People's Republic of Korea."

 

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View of Korean Peninsula at night from space. 23 Março de 2017

 

. Bloody Chamber and Other Stories, Angela Carter

Angela pega em histórias clássicas como o Capuchinho Vermelho ou A Bela e o Monstro e usa-as como base para falar de formas de opressão patriarcais, objectivação feminina e sexualidade. Contos inesquecíveis, um pouco negros, um pouco sangrentos...

 

A Paixão Segundo G.H, Clarice Lispector

A história de uma mulher e de uma barata...Tão simples, mas que dimensão, que densidade. Te amo Clarice.

 

Cleópatra, Stacy Schiff

Excelente biografia de uma mulher inteligente e poderosa, cuja imagem tem sido sucessivamente manipulada pela sociedade machista.

 

Why I'm No Longer Talking to White People About Race, Reni Eddo-Lodge

Textos sobre racismo estrutural, feminismo interseccional, privilégio branco e outras coisas importantes. 

 

. Lab Girl, Hope Jahren

A auto-biografia da cientista Hope Jahren, eleita uma das pessoas mais influentes pela Times em 2016. Plantas, amizades fortes e uma mulher a aprender a mover-se num mundo de homens.

 

. Frida Kahlo: Uma Biografia, María Hesse

Um livro lindo - as ilustrações são baseadas em quadros da Frida e o texto, bem integrado com a componente visual, é escrito na primeira pessoa e inclui excertos dos seus diários. Dá-nos uma visão desta artista diferente da que é dada pelas biografias tradicionais e faz-nos amá-la ainda mais.

 

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La Columna Rota, 1944 

 

. I Am an Emotional Creature: The Secret Life of Girls Around the World, Eve Ensler

É um conjunto de monólogos ficcionais inspirados por situações vividas por raparigas ao redor do mundo. Este é um deles: A teenage girl´s guide to surviving sex slavery 

 

"Rule 3. Build a hole inside yourself and climb into it

He will be on top of you. He will be old enough to be your father (...) He will hold his hand over your mouth. (...) You are only fifteen. He will remind you that no one is coming. Imagine you are dancing. Think of your favorite song. Remember your mother braiding your hair. Feel her kindly roughly braiding hands. Hear her calling your name...”

 

. The Female of the Species, Mindy McGinnis

Young adult que aborda o tema da cultura de violação. É este o tipo de YA que o mundo precisa: bem escrito, com boas personagens e temas importantes. Ainda tenho um aperto no coração quando penso nele.

 

. I'll Be Gone in the Dark, Michelle McNamara

Arrepiante, honesto, uma investigação obsessiva e meticulosa para conseguir apanhar um violador e assassino em série que aterrorizou a Califórnia por mais de dez anos. Este livro merece tornar-se um clássico do género.  

 

. Goblin Market, Christina Rossetti

A história de duas irmãs, Laura e Lizzie, e do forte laço que as une. É contada em verso, num poema lindíssimo e profundo com uma atmosfera de conto de fadas. Mas aquilo de que fala ainda não deixou de ser actual...

 

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Feminista * plus size * comenta uma variedade de assuntos e acha que tem gracinha * interesse particular em livros, História, doces e recentemente em filmes * talento: saber muitas músicas da Taylor Swift de cor * alergia ao pó e a fascistas * Blogger há mais de uma década * às vezes usa vernáculo * toda a gente é bem-vinda, menos se vierem aqui promover ódio e insultar, esses comentários serão eliminados * obrigada pela visita!

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