Aquela sensação quando acabamos um livro e ficamos a pensar que o nosso tempo poderia ter sido melhor aproveitado se tivéssemos simplesmente largado aquilo e ido fazer outra coisa. Não acontece muitas vezes, mas nada é um mar de rosas o tempo todo. Por exemplo, ontem após terminar uma leitura ocorreu-me o seguinte pensamento: de 0 a 10 quanto é que beneficiei de ter levado isto até ao fim em vez de ter desistido? Fiquei frustrada. Não ando nesta vida literária para andar a atribuir 1 ou 2 estrelas - na contagem final a maioria tem de ter 4. Vamos ver o que reservam as próximas paragens.
Até nem tenho lido livros muito maus...Mas tem sido difícil atribuir mais de três estrelas. Só dei quatro estrelas a dois. Isto de ter vontade de desistir acontece mais com livros no telemóvel - meto para lá coisas a granel e há uns em que nem chego a passar dos primeiros capítulos. Com livros em papel isto acontece menos - escolho com cuidado. Este último que acabei ontem não gostei, mas já ia a 50% e pensei - não hás-de de ser mais forte que eu! Aquilo não ia melhorar, mas eu tenho um lado masoquista e teimoso.
Mas eu escolhi bem escolhidinho, por isso, o problema não sou eu, são eles... Um é do Coetzee, que me impressionara com o "Disgrace" e nunca mais voltou a encantar-me. O outro é o "Revolutionary Road", que está muito bem escrito, mas tem as personagens mais sonsas, mais irritantes, a quem só me apetece dar estalos. E pronto, anos 50... E o teu, qual foi? Conta! Conta! Paula
Esses autores nunca li...O meu tinha uma personagem feminina passiva e sem sal nenhum, personagens femininas secundárias que eram todas umas piranhas (claro), personagens masculinas chatas e paternalistas, uma narrativa que parecem pequenos ensaios cosidos uns aos outros e longos debates pretensiosos sobre a arte e a vida. Cá está ele: http://www.goodreads.com/book/show/15803141-the-flamethrowers
Nunca tinha ouvido falar desse, e pelo que dizes posso esquecer que ouvi agora, não é?! ;-) Só li "A Filha do Optimista" e sei que ela é muito estimada, mas a mim não me tocou. As personagens pareceram-me quase caricaturas e a filha do optimista em si uma mosca morta. Diz-me o que achaste, se leste ou quando leres. Pode ser que tenhas uma perspetiva que me ajude a perceber o encanto desta obra. Paula
Eu gostei da filha do optimista - achei um livro inteligente que diz muito com pouco. Parece uma história simples à primeira vista mas quando começas a ler nas entrelinhas percebes que é um texto profundo sobre perda e memórias. Gostei muito da escrita...É tão poética e as imagens são tão vívidas! Especialmente na parte final. Também me pareceu haver muito simbolismo e espaço para interpretação, o que significa que podes ler mais vezes e apanhar coisas novas - também gosto disso num livro. Em relação às personagens, talvez tenha sido propositado - a segunda mulher representa o futuro e uma ruptura com a tradição da pequena cidade, enquanto a filha está presa no passado. Ela não é muito expressiva, mas consegues ver o sofrimento e o seu isolamento nos pequenos detalhes. Há uma variedade de sentimentos fortes neste livro, mas não são expressos directamente em explosões. Não sei, quanto mais penso nele mais gosto...Claro que isto é tudo muito subjectivo, também não gostei do Flamethrowers e no entanto é um livro muito cotado xD
Eu gosto de ler testamentos sobre livros, só não gosto de os escrever porque não racionalizo muito o que leio e resumo-os ao que sinto: "gostei", "adorei", "detestei" e pouco mais. Muitos anos a dissecar literatura, bah! Então, se já leste... Percebo o apelo de tudo que tu dizes, mas aqueles pacóvios, e as damas de honor beca, beca, beca irritaram-me tanto! Eu só pensava "Ela vai dar um murro na mesa não tarda nada. É agora... Ai, é agora... Agora é que é!", mas o livro acabou e não aconteceu nada. Nada... Mas a Eudora tem outras obras, pode ser que eu faça as pazes com ela! Paula
Achei que as diferenças de classe eram um sub-tema...O choque de valores. Quando todos se encontram dá-se um choque, embora esse choque nunca seja mostrado explicitamente. Ela não ia dar um murro na mesa, porque isso não é o tipo atitude que lhe foi inculcada, é por isso que ninguém expulsa os outros do funeral. No final nota-se que ela está a deixar o passado para atrás e a seguir em frente - uma atitude muito diferente do inicio, logo não é um livro onde não acontece nada :) Eu gosto de dissecar obras (dentro das minhas limitações claro...), não sei fazer uma conta de dividir à mão mas posso escrever uma folha inteira sobre porque é que as cortinas são azuis xD
Ler é analisar o que se lê, não é passar os olhos pelas frases. Era uma escritora com muita sensibilidade, ainda que por vezes rude para efeito choque, e com muito para se ler nas entrelinhas. Há sempre um efeito "luz sombra" interessante. Tal como McCullers e O'Connor também Welty faz uma construção de personagens e situações muito surpreendentes, a meu ver. A papinha está feita, está na mesa, mas nós temos que a deglutir ;) Conselho para a Paula, se não gostou deste livro o melhor talvez seja não ler "O coração dos Ponders", e optar pelos contos.