Ansiedade literária: breve reflexão
Estou neste momento a ler Literary Witches de Taisia Kitaiskaia com ilustrações de Katy Horan, um compêndio que celebra várias escritoras - estou sempre interessada em celebrar escritoras (incluindo claro a que escreviam coisas degeneradas e há várias no livro), bruxas, mulheres em geral e por isso não podia deixar passar. Cada capítulo começa com uma ilustração (são lindas, já as usei em tempos num post), depois um texto ficcional e um pequeno parágrafo de biografia, terminando com sugestões de leitura. É rápido de ler e não será o livro mais informativo pois o parágrafo é mesmo pequeno, mas penso que a intenção também não era essa.
Já as sugestões posso dizer que são uma verdadeira toca de coelho e aumentam muito a ansiedade literária, entre autoras que uma pessoa já leu mas quer ler mais ou reler e as que nunca leu. Esta ansiedade é real para muitos leitores, a esmagadora sensação de que nunca iremos ler tudo o que gostaríamos - não admira que a frase tantos livros, tão pouco tempo seja tão partilhada. Pensando nisto, acho que esta ansiedade nunca me afligiu em excesso...Sempre pensei que o que tivermos de ler, leremos um dia. E pelo meio não sabemos que outros títulos cruzarão o nosso caminho e isso é muito entusiasmante. Parece que estou outra vez a falar de quantidades e da pressão, mas é uma coisa um pouco diferente - tenho essa pressão por seguir sites\blogs e ver que há pessoas que lêem imenso, fico a pensar que tenho de fazer o mesmo...
Não estou a dizer que vocês devem ler mais devagar ou de cabeça para baixo...Não é minha intenção dizer como é que vocês devem ler. No meu caso, se não tivesse um blog sentiria pouco essa pressão de terminar o mais rápido possível. Assim como sem a internet acho que não me lembraria de decorar as páginas do meu diário de leituras - os meus primeiros cadernos são tão feios e não dá para encontrar nada pois só mais recentemente é que comecei a fazer uma lista no fim do ano com todos os livros. Para encontrar algum título é preciso navegar entre hieróglifos...Mas com mais rapidez ou menos a probabilidade de lerem tudo o que desejam é a mesma que a colonização de Plutão, por isso acaba por ser uma preocupação um bocado inútil.
Alguns poderão dizer que uma certa direcção é essencial para sair do cânone masculino-hetero-branco e é verdade. Mesmo lendo consistentemente autoras desde há alguns anos a esta parte, livros como o acima mencionado vem mostrar que essas leituras foram apenas uma parte ínfima. Tento olhar para o que está por ler com entusiasmo pelas possibilidades...Quem sabe o que aconteceria mesmo que tivessem todo o tempo e todos os livros à disposição, podiam partir-se os óculos! É curioso que eu não era assim desprendida em tudo - como privilegiar livros das listas de clássicos ou nunca abandonar um a meio, ainda bem que já me deixei disso.
E agora que penso nisso, ficar entusiasmada pelas possibilidades não é o único sentimento que me lembro com agudeza dos tempos de garota. Também o sentimento de não partilhar uma boa leitura em lado nenhum - nada de blogs, canais de Youtube...Nada dessa parafernália para mostrarem como estão entusiasmados com o novo livro da Sally Rooney (Ah!) - nem sequer partilhar com alguém. Sabe bem fazê-lo é certo, ao mesmo tempo significava que a experiência era incrivelmente íntima. Uma pessoa podia apaixonar-se, chorar, viver e morrer durante a leitura e tudo ficava no interior.