A minha estante não precisa de ajuda
Como para variar estou sempre fora de tudo, não sabia que o minimalismo ainda não tinha passado de moda...A ideia de uma casa hiper funcional, quase sem móveis e com paredes brancas não me atrai, do mesmo modo que certas imagens de interiores de casas em revistas ou imagens de certas salas de leitura não me atraem...São modernas mas não têm calor, boas para exibir mas desconfortáveis para quem queira realmente ler.
(que raio é isto?)
Definitivamente não preciso de um closet para a minha roupa e ainda menos para os sapatos. Nisto sou minimalista, mesmo antes de a coisa estar na moda! Devia ter escrito um livro...Claro que há pessoas que atribuem uma importância diferente a esses itens e de vez em enquanto precisam de se livrar de alguns. Mas sempre pensei que isso era algum comum...Mandar coisas fora, substituí-las por outras com o tempo e desde que não se caia em extremos tudo bem. Só que agora parece que existem gurus para nos ensinar a deitar fora e a arrumar coisas. Nada como pegar em algo corriqueiro e dar-lhe um nome e uma roupagem chique. É como os livros de auto-ajuda que agora toda a gente chama pelo nome mais catita de livros de desenvolvimento pessoal...
Nunca fazemos nada bem. Precisamos que nos ensinem o que vestir, como sermos melhores na cama, como devemos educar os cães, os filhos...Fónix. Se vocês querem vender roupa no OLX, doar os tupperwares para a caridade ou atirar os vasos chineses pela janela, é ok. Agora vamos lá manter essas ideias longe das nossas estante e dos nosso livros. Eu não quero uma estante minimalista e hiper organizada. Ontem encontrei um artigo com o título: What we gain from keeping books – and why it doesn’t need to be ‘joy’.
"Our book collections record the narrative of expansion, diversion, regression, terror and yet-to-be-discovered possibilities of our reading life." Exactamente! Uma estante com livros é um registo da vida do seu possuidor. Não tem de ser limpa, organizada e ter um propósito. A mera ideia de avaliar um livro pela premissa - “Will these books be beneficial to your life moving forward?” - não faz sentido. Suponho que devo deitar fora o meu livro sobre cientistas já que não faz parte dos meus objectivos tornar-me uma.
E de caminho deito também fora o Arquipélago de Gulag que não é alegre ("But I can’t imagine what a blank collection of physical books I’d be left with if they had to spark joy. (Goodbye Jelinek, Bernhard and Kafka, hello books with photos of hippo feet.)" Acho que metade da minha estante iria ao ar...Ou o Lolita porque não pretendo aplicar os valores do narrador para me tornar uma pessoa melhor.
Mesmo aquele livro meloso que vocês amaram em miúdas, aquele com a lombada já toda marcada ou aquele que se revelou uma desilusão são importantes. Porque nada é perfeito e nem sempre ordenado conforme queremos. Faz parte. Arranjemos um cantinho confortável com livros, muitos, à nossa volta. E fiquemos em paz com o facto de não dobrarmos roupa com perfeição. É o que tenho para dizer.