Que este país em termos de leis estapafúrdias é um fartote, já nós sabemos, mas é sempre interessante quando surge mais uma. Agora parece que Assunção Cristas não quer portugueses com mais de dois cães por apartamento. O pessoal manifestou-se e ela voltou atrás, dizendo que não perdeu um minuto a olhar para aquilo...
Eu tenho um papagaio e três periquitos, já tive cães e tive e ainda tenho maus vizinhos e péssimos exemplos de civismo, de maneira que me apetece comentar umas coisinhas sobre isto. Em primeiro lugar não estou a ver como é que esta medida iria ser posta em prática...É que já existe um limite de cães por apartamento que é de três, creio eu, e ainda não vi ninguém ficar sem os bichos por não cumprir isso. A medida não é fiscalizada, nem esta o seria. É o problema das leis tugas: são feitas no gabinete e não se adequam á realidade. Como meter trinta alunos por turma...Quem faz estas leis deve levitar numa realidade á parte. Não há como andar a ver quem tem três ou quatro cães...A menos que contem com a vizinhança para isso. Que saudável em democracia fomentar a cultura do bufo...Nunca nos livrámos totalmente dela pois não? Já me estava a imaginar a ir á casa do vizinho de cima pedir uma chávena de açúcar, a espreitar lá para dentro e a seguir ir malevolamente ligar para a polícia...
Acontece como a lei dos potencialmente perigosos. Uma aberração sem qualquer cumprimento útil em que os animais são sempre os que pagam: mordem e são abatidos. E os donos pagam a multinha e vão alegremente arranjar outros. Depois há uma coisa que não cheguei a perceber: imaginem que tenho três peludos em casa que não ladram nem cheiram mal e que o meu vizinho de cima tem um que uiva dia e noite como se o estivessem a esfolar. A lei iria prejudicar-me a mim, enquanto a fonte de barulho iria continuar. Qual é o sentido disto? Também não me parece que isto fosse melhorar as condições de higiene dos prédios. As pessoas quando são porcas e incivilizadas, tanto faz terem um cão, três, ou nenhum.
Até um chihuahua pode incomodar um prédio inteiro, quando não existe respeito. O problema não é o número de animais, é as pessoas serem pura e simplesmente umas porcas...Há prédios onde o pessoal deixa sacos de lixo no patamar a ponto de se tropeçar neles. Tive uma vizinha que arrastava móveis a meio da noite, enquanto a minha cadela ressonava pacificamente. Para mim, não é ter dois cães ou três gatos que iria aumentar a higiene urbana...O civismo é que iria. O problema são os bípedes como sempre...Confesso que achei esta parte da notícia do Público inquietante: basta haver uma queixa para a respectiva câmara ter o dever de retirar do apartamento os animais em excesso", independentemente dos incómodos que eles causem ou não à vizinhança. Imaginem que eu não gosto da vizinha da frente, poderia vingar-me fazendo queixa dela sem qualquer motivo. Está bom, mas melhor ainda era prenderem a vizinha lá em Peniche...Se é para viver como á trinta e tal anos, então que seja á séria.
E acho graça terem pensado nesta medida, mas não em nenhuma que proteja os animais contra os maus tratos, que puna essas bestas, sem ofensa para as mesmas, que abandonam os animais em qualquer esquina, nenhuma que vise evitar a propagação de cães e gatos errantes, nenhuma que vise melhorar as condições dos canis como o de Monsanto que é uma nojeira, nenhuma que vise acabar com as lutas de cães...Nada que seja realmente útil. Qualquer dia ainda limitam o número de vezes que podemos espirrar. big brother is watching you...
Outro dia fui á Orimundo e constatei que aquilo tem toda a espécie de animais: cães, gatos, aranhas até cães da pradaria e imensa passarada também...Como seria de esperar estava imensa gente á volta da zona dos cachorros que batiam com patinhas no vidro para chamar a atenção (os gatos, é claro, estavam-se nas tintas). Eu derreti-me igualmente com aquela visão...Não resisto a mamíferos bebés sejam cães ou ratinhos, até aos dragões barbudos acho graça com aquele ar zen. Mas quando sai da loja fiquei a pensar e acho que não deveria ser permitido vender assim animais, especialmente cães e gatos.
Alguns humanos que se acham o supra sumo da batata dizem que os animais não sentem nada, mas eu não creio nisso...Acho que os bichos devem sofrer imenso ali fechados sozinhos no escuro, sem falar ao fim de semana em que não devem ver mesmo ninguém. Os cachorros são um pouco como os bebés: gostam de colo, não gostam de estar sozinhos e ganem que se desunham. Todo o ser gosta de afecto, até as plantinhas. Devia haver uma fiscalização ás condições em que algumas lojas têm os animais. Por acaso a Orimundo não é muito má, mas há sítios em que os cachorros estão em espaços mais pequenos que a gaiola do meu pássaro...
A pior loja que já vi é uma no Oeiras Park: os cachorros e gatos estão mesmo na montra e têm uma data de coelhos ao monte num jaula minúscula. Muito mau...Depois faz-me alguma confusão comprar assim um cão sem ver os pais e muitas vezes sem registo...Se é por que é fofinho, bom...Os canais estão cheios de cães fofinhos de todos os feitios e alguns até de raça. Creio também que isto de vender animais assim fomenta as compras por impulso...O pessoal vê os cachorros pequeninos ali mesmo a pedir um dono e esquece a parte racional. Muitas pessoas não têm noção que os cachorros crescem, que fazem muita, mas muita sujeira, que estragam coisas inclusive as belas das férias, que precisam de comer e que ás vezes ficam mesmo doentes e é um dinheirão, que precisam de tempo, muitíssima paciência e certo desapego a algumas coisas tipo tapetes e divisões imaculadas.
Além disso muita gente também não têm noção que nem todas as raças que se adaptam a certos estilos de vida...Eu, por exemplo, adorava ter um dobermann (a sério, são lindos de morrer...), mas nunca terei pulso suficiente para tal. É por isto que se dão os acidentes...E infelizmente qualquer desculpa parece válida quando se trata de abandonar um animal: vão de férias, vão imigrar, suja, cresceu demais...Se até os velhos deixam em qualquer lado, o que não hão-de fazer a um simples cão. É preciso ter consciência que não é só trazer um animal e é um mar de rosas. E devia haver uma fiscalização a estas lojas que têm os bichos em péssimas condições...É preciso ganhar dinheiro, mas não estamos a falar de bibelots.
Os ataques de cães a pessoas volta e meia são notícia, especialmente se forem cães considerados potencialmente perigosos, e fazem correr muita tinta. O caso mais recente foi o da menina morta por um dogue argentino no Porto. Claro que as reacções não se fizeram esperar e como sempre as pessoas caem em extremos e há até quem ache que devíamos começar uma espécie de caça às bruxas.
Enfim, eu que os cães são o reflexo do dono. Se uma pessoa não tiver pulso e não souber educar o cão é óbvio que as coisas não vão correr bem. Todos os dias vejo pessoas a passear cães histéricos, que vão sempre à frente a puxar trela, rosnam a quem passa ao lado...Há quem ache que os cães são bibelots que não precisam de ser educados...Depois não é de admirar que não tenham mão neles. Também observo o oposto, embora seja menos frequente: cães obedientes e bem sociabilizados. Por mais que tentemos humanizar um cão é sempre um cão...se o dono não se souber impor o cão ocupa o lugar de líder e pode tornar-se dominante e possessivo. Antes de adquirir qualquer cão, as pessoas deviam pensar se vão ter tempo e disposição para o treinar devidamente.
Para mim, o problema está quase sempre não no animal que vai à trela, mas naquele que segura a trela. Na notícia em causa não consegui perceber se os cães estavam no terraço por causa das crianças, ou se era hábito estarem lá fechados. Gostava de saber que espécie de estímulo físico e mental era dado a estes dois cães...Não sou especialista obviamente, mas acho ter dois cães de porte grande muito exigentes a nível de exercício fechados é meio caminho andado para a desgraça. Não sabemos se foi este o caso, mas infelizmente é muito comum isto acontecer. A propósito do ataque de um rottweiler lembro-me de dizerem "ah e tal soltou-se da corrente...". Um rottweiler preso a uma corrente?? Acho uma falta de consciência tremenda as pessoas adquirirem um cão de raça sem se informarem sobre as necessidades dessa mesma raça.
Mas então e os genes pensarão algumas pessoas? não são estes cães tendencialmente mais agressivos do que os outros? Eu não concordo com nenhum dos extremos, ou seja, nem com aquele extremo do "estes cães são umas feras, deviam ser todos proibidos", nem com aquele do "estes cães são anjinhos que mordem ninguém". De facto, estamos a falar de raças desenvolvidas para lutas e que são dominantes e territoriais. Eu nunca teria um cão destes porque sei que não tenho pulso suficiente. Mas há quem não tenha essa consciência e apenas queira um cão destes por causa do status e da aparência.
Há cães que não são para todas as pessoas e estes não são certamente para pessoas inexperientes, com falta de pulso ou sem tempo para investir num bom treino. Claro que podem matar...Quando nas mãos das pessoas erradas. As facas não são um perigo nas mãos de pessoas sensatas que as usem para cortar a cebola para o estrugido, mas nas mãos de um maníaco...Pode parecer um exemplo ridículo, mas eu vejo assim. Já nem falo da lei: porque é que os cães são abatidos e o dono só tem de pagar uma multa, ficando livre para arranjar outro cão?
No caso desta notícia em concreto, houve muita coisa que ficou por explicar: porque é que as crianças estavam sem vigilância? Todos sabemos como são as crianças: puxam, dão gritinhos...E também sabemos como são os cães: animais irracionais que reagem por instinto. Os cães conheciam a criança? Estamos a falar de cães territoriais e como tal podem ter visto a criança como uma ameaça. Algo se passou naquela sala que resultou na morte de uma criança e no trauma de outra...Lamentável.
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