Em qualquer posição
Estava a tentar arranjar espaço para os livros que trouxe da Feira quando Leitora Júnior sugeriu que os colocasse na vertical - eu prefiro tê-los deitados para diferenciar dos que já foram lidos, mas ela disse que não tem importância porque a pessoa sabe o que já leu e o que não, uma mente racional. Este post não é patrocinado, mas algumas prateleiras ficaram com uma aparência satisfatória...Só que agora quando for tirar um para ler vai estragar - e sim aquele Henry James pode estar em espera há uma década, mas não falemos sobre isso. Deitados, em pé, em cima da estantes, uns atrás dos outros, dentro de cestos, uma pessoa arruma como pode.
Entretanto já acabei o livro que andava a ler da Rachel De Queiroz - para se ver que aqui também se acabam livros, embora claramente não há mesma velocidade com que entram novos. Na verdade, ele andou semanas a passear pelas várias superfícies do quarto, ridículo para um título que não é muito grande e cuja escrita é fluida. Mas também em minha defesa, já falei disto aqui, se há um termo que não conheço, um sítio que não sei onde é, um acontecimento - tenho de assinalar e depois ir ver.
É por isso que os contos da Karen Blixen ainda estão pendurados (faltam dois), são muito bons mas no fim de cada um lá vamos de novo ao inicio e estou presentemente a escrever no interior da capa que é o espaço que resta - o horror. Menos quando um livro me começa a irritar, aí desisto disso...O Rapariga, Mulher, Outra só está sublinhado até uma parte porque às tantas o objectivo tornou-se acabar o mais depressa possível. Não gostei mesmo (e agora tenho uma trindade de livros very overrated: Normal people - Circe - Rapariga, Mulher, Outra).
Este que acabei não posso dizer que tenha amado, mas gostei. Chorei no final - estava a ficar um bocado frustrada porque a personagem tinha conseguido sair de uma vida de submissão numa fazenda no interior do Ceará, notem que a narrativa acontece nos anos 30\40, em direcção a um mundo mais largo, torna-se actriz (de uma companhia amadora sem cheta, mas ainda assim), mas então conhece um homem e apaixonar-se não é suficiente, ela vira um pequeno satélite girando à volta de um planeta, porque têm de ferir o meu coração feminista assim - mas pronto lá fui pelos altos e baixos, umas partes são questionáveis outras são mais doces, então chegamos à parte fatal onde ela conta como o perdeu e ficou sozinha...Ela chora e eu também, é tão triste.
Depois reparei que o exemplar que comprei que estava em estado bem decente - a internet dir-vos-á que Rachel de Queiroz foi uma das mais importantes escritoras brasileiras do século XX mas este foi o único livro dela que alguma vez encontrei à venda - está agora meio torto e a descolar-se todo da capa, acabamos ambos fanados portanto.
Talvez leia um pouco de não-ficção a seguir...Encontrei um curioso livro sobre como as pinturas podem nos mover às lágrimas. Fiquei surpreendida pelo primeiro capítulo falar dos trabalhos do Rothko, nunca me ocorreu que pudessem ter tal poder emocional mas é possível que eu seja apenas ignorante e claro que ver algo em presença é diferente. De qualquer modo não faço julgamentos, especialmente nesta idade, sobre lágrimas alheias e aquilo que as causa. Talvez o mundo fosse um lugar melhor se todos fossemos mais delicados e suaves, em vez de mais fortes.