Depois da lista chega a revelação
Vamos então ver se consegui comprar apenas os títulos da "modesta" lista que partilhei no post anterior, evitando assim trazer mais livros para os quais não tenho espaço - tenho os que estão por ler numa pequena estante à parte, estante esta que funcionou bem durante uns dias e agora já não cabe lá mais nada, pelo menos de maneira estética. De facto, foram feitas algumas compras extra lista...Descontando três delas, por razões que mais à frente serão explicadas, o resultado são doze - não é o número ideal realmente, mas foi um pouco melhor que o ano passado. E mantém-se a proibição de comprar mais livros até à próxima Feira.
A primeira visita aconteceu num Domingo - dia de muita gente e muito calor. Que o sítio é bonito já bem sabemos e que alguns leitores têm tendência a descrever as suas idas em termos poéticos também, mas há alturas em que a experiência ali se torna menos literária e mais a experiência de ser cozido vivo num caldeirão como um pecador num quadro de Fra Angelico, sem sítio algum onde nos possamos refrescar. No entanto o amor pelos livros persiste e assim lá fomos por ali abaixo. Mais ou menos seis horas depois cinco livros estavam dentro do saquinho.
Nota-se que há coisas em que não gasto dinheiro porque este saco de pano já o tenho há duas décadas ou mais, é um bocadinho estreito em cima mas é robusto, para quê andar a comprar tote bags...Dentro iam três títulos dos que estavam planeados - Estendais, livro de crónicas de Gisela Casimiro; Catarina e a Beleza de Matar Fascistas (que estava como livro do dia) e Racismo em Português - que tal como o título seguinte da série trás um DVD que não tenho onde ver. Mas o que interessa é que finalmente o comprei. Entretendo encontrei um post no Reddit sobre a Feira do ano passado e uma boa alma partilhou uma lista de livros sobre racismo\temas sociais, já adicionei alguns à wishlist.
E vieram também dois extras. Tinha deixado um lugar vago para qualquer coisa baratinha que calhasse a encontrar, mas num dos suspeitos do costume vi a review a um livro de poesia de um autor palestiniano e decidi que tinha de trazer, uma edição linda da Antígona - Rifqa de Mohammed El-Kurd. Se alguém tiver sugestões de livros de autores palestinianos faça o favor de partilhar [bons livros sobre o tema também] - serão apreciadas. O outro extra foi Os Anos da Annie Ernaux que estava a um bom preço como livro do dia e que me foi oferecido (e por isso não conta, ah)
Algumas coisas que vimos: vários dachshunds vulgo salsichas, mas curiosamente nenhum pug. Não estou por dentro das trends no que toca a raças de cães mas parecem incidir sempre nas raças mais derps - não que isso seja importante porque a seguir aos livros a melhor coisa da FL são os pets e nem eu nem Leitora Júnior conseguimos resistir seja que animal for- e vimos alguém com um furão. Os pombos mais espertos que nós porque enquanto estávamos ao sol, eles estavam deitados na relva na sombra longe do bulício.
Alguém tinha um saco que dizia sometimes antisocial, always antifascist. E apraz-me dizer que tote bags da Taylor Swift continuam a ser avistados pela FL, ri-me com um que dizia Who's Taylor Swift, anyway? Ew, algumas pessoas entenderão. Vimos labubus - três labubus numa única pessoa. Que flex - e um Stanley Cup. É a segunda vez que vejo esse treco e continuo a ter mais perguntas do que respostas.
Rapidamente constatámos que o booktok estava por todo o lado, era inescapável...Fugíamos a toda a brida apenas para encontrar mais livros virais no stand seguinte. Não me surpreende o tipo de "literatura" que fica popular ali, mas ainda me fascina o facto de toda a gente ler a mesma coisa...Não se chateiem se foram à Feira comprar o Icebreaker a metade do preço, mas mesmo que eu achasse que ler Colleen ou o Acotar não me ia derreter o cérebro, não consigo deixar de lado aquela sensação de que estaria a render a minha consciência à colmeia...
[Também penso que muito do fica popular e que é maioritariamente dirigido a um público feminino está dentro das narrativas misóginas que estão hoje em crescimento nas redes]
Paralelamente a isto LJ ficou surpreendida com a variedade de edições do 1984 que estavam disponíveis, incluindo novelas gráficas...Por acaso não abri para ver como eram (Já tinha falado aqui de um retelling aprovado em que a Julia é a personagem principal, mas vejo agora que está publicado em português...Do ponto de vista dos leitores dois anos inteiros de preço fixo não é mimoso.)
A segunda visita deu-se durante a semana. Desci a rua para ir buscar A Desobediente: Biografia de Maria Teresa Horta, já tinha perguntado por ele no Domingo mas estava esgotado. Depois voltei para cima e estive cerca de uma hora e meia à espera da Hora H na Penguin - sentada a analisar a fauna e sobretudo a admirar a confiança de quem chega a quinze minutos daquilo começar achando que não há fila, quando a fila já se desdobrou em quatro.
Trouxe o que tinha planeado: Mulheres Más da María Hesse, espreitei assim que pude e calhei numa ilustração da Hécate, senti que tinha feito uma boa escolha. Quando andava a pesquisar encontrei uma entrevista com a autora onde quando questionada sobre que outras biografias gostaria de escrever um dia, ela diz que gostava de trabalhar num livro sobre Leonora Carrington. Sim, por favor. Eu compro logo. Por falar em livros bonitos encontrei dois que quero muito - um é uma colecção de histórias do folclore japonês com ilustrações maravilhosas e o outro é um pequeno tomo com mais de quinhentas páginas sobre os vários movimentos artísticos da história mas só com mulheres...
Só que custavam ambos quase trinta euros e por isso tive de avançar. Aquário, crónicas da Capicua; Casa de Dia, Casa de Noite da Olga Tokarczuk, curiosa com este livro depois de ter gostado bastante do Conduz o Teu Arado Sobre os Ossos dos Mortos; e A Sexta Extinção, Elizabeth Kolbert.
O extra que veio foi Convite Para Uma Decapitação - o retorno de um velho conhecido. Este ano reparei que não havia a fila de livros a três euros nos descontinuados e não havia nada de muito interessante nos cinco. Num alfarrabista encontrei um desses livros da colecção Visão, de capa preta, e fiquei abananada por custar quase oito euros quando há anos comprei vários a um...
A terceira visita foi no último domingo e houve alguma precipitação - minha em relação a compras, não da meteorologia que continuava um abafado medonho. Tínhamos um objectivo específico, LJ queria ir à banca dos mangás - é uma coisa da qual não percebo, mas como não trabalho na vigilância do estado eu digo simplesmente fica aí a escolher o que queres, que eu vou ali ver não sei o quê. Não policio leituras.
Trouxe mais um livro de não-ficção - Femina: Uma nova história da Idade Média através das mulheres dela omitidas, procurava um exemplar que não estivesse sujo\fanado, avistei uma repórter da SIC que andava a falar com as pessoas e fugi em direcção aos alfarrabistas. Não consegui ver tudo em condições em nenhum dos dois Domingos, mas ainda assim por cinco euros trouxe O Nervo Ótico