O que se lê e o que se compra
A compra deste livro (do verde) resultou de uma pequena irritação durante a Feira do Livro...É que não sou muito esperta - já aprendi a tirar fotos aos títulos que tenho intenção de comprar numa futura visita mas ainda não aprendi a tirar também uma foto ao número da banca, como resultado não estava a conseguir encontrar um livro que queria muito e como era hora H não tinha tempo para andar para cima e para baixo à procura. Então vi este e decidi levar baseando-me numa review que sinceramente nem me lembro se era positiva ou não...Devia ter pesquisado melhor.
Passado na Índia, o tema central são os complicados laços que se formam entre mães e filhas. Neste caso temos uma mãe que levou uma vida fora da norma e que não prestava muita atenção à filha resultando em traumas. A filha é a narradora, saltando entre as suas memórias de infância e juventude e o presente onde se vê confrontada com o facto de mãe estar a perder a lucidez e a esquecer-se de tudo. Quando um livro abre com a frase "Mentiria se dissesse que a infelicidade da minha mãe nunca me deu prazer", uma pessoa cria expectativas. Mas achei aborrecido. O problema é que a história é contada sempre pela mesma voz sempre da mesma maneira, talvez se houvesse uma alternância de perspectivas...
E a nossa narradora não é lá muito interessante. A dada altura ler os seus pensamentos começa a assemelhar-se mais a ver tinta a secar numa parede. Na contracapa fala em sentido de humor, mas não, nem por isso...Muita gente no Goodreads não gostou do livro por ser nojento - este é um tique que tenho encontrado em outros autores, esta inserção de detalhes nojentos ou descrições abjectas por exemplo do corpo humano. Também não sou fã em especial quando parecem aleatórios ou só para chocar (precisava a protagonista de espreitar por uma porta e ver uma cena de violação? Não) A escrita é razoável em algumas partes mais meh em outras. Gostei do final. O outro livro também trouxe da Feira e é o que vou ler a seguir. As expectativas são elevadas.
Recentemente estava a ver um vídeo em que alguém falava das coisas que as influencers nos tentam conversar de que precisamos - o consumismo excessivo não poupa nada, nem os livros é claro...Estava a ouvir blasé, pelo menos até a pessoa dizer que se não estamos a contar ler aquele livro dentro de quinze dias então não o devemos comprar, aí derramei uma pequena lágrima. Já tinha pensado em como complicamos o acto de ler com coisas como listas, metas, número de horas ou de páginas lidas (e sim, eu sei que estas coisas resultam para algumas pessoas), mas este constante apelo ao consumo - como assim ler um livro de cor grená e não ter canetas e post-its a conduzir? Viver a vida sem três e-readers? - também é complicar algo que na sua essência é muito simples.
A leitura é um dos hobbies mais acessíveis e descomplicados, tudo o que é preciso é um único item que nem tem de ser vosso. E vá um marcador mas qualquer pedacinho de papel serve (alguém comprou coisas na Temu - oops - e deu-me aquele marcador fofo com um gatinho, os outros são marcadores que fiz há uns anos com recortes de revistas, ainda cumprem bem a sua função) e um lápis. E talvez um bloco de notas, se vocês não forem selvagens como eu que escrevo nos próprios livros.