Um post casual sobre listas
(Leisure Time, Alberto Vargas - 1920)
Há muitas coisas que as pessoas parecem fazer naturalmente e que a mim me deixam perplexa. Have I done all the living I’m going to do? A spectator now, calming down. Going to bed with The New York Times. Yet I thank God for this relative peace–resignation. Meanwhile the terror underneath grows, consolidates itself. How does one love? - uma citação de Susan Sontag que copiei para a minha agenda. Não posso dizer que saiba a resposta. Não sei muitas coisas, em dissonância com estes tempos modernos onde toda a gente sabe tudo logo imediatamente, resolvem qualquer problema nacional ou mundial à hora de almoço. Tem-se tornado muito cansativo nos últimos tempos.
Acho que não domino a arte do conhecimento casual - pesquisar algo, aprender e seguir em frente com apaziguamento. Passar um ano a ler apenas livros de autoras é um desafio normal, passar os anos seguintes a fazer isso provavelmente não, saber sobre as eras do planeta não exige ir até ao começo do universo, para recomendar um livro ou um canal não é preciso escrever um texto tão longo que nem alguém do século dezassete teria paciência para ler e que leva semanas a pesquisar...Mas este post não vai ficar grande de certeza!
E não vamos voltar a falar de arte, excepto para dizer que acabei de encontrar publicado por cá um livro chamado A História da Arte Sem Homens, um trabalho de divulgação de mulheres artistas, com mais de quinhentas páginas e ilustrado. Quero muito, mas são trinta e cinco euros e ainda nem tenho o livro da Patrícia Reis sobre a Maria Teresa Horta - esta é uma compra que vai acontecer mais cedo ou mais tarde. Ah sim, também queria o Studio Ghibli: The Complete Works, que já vi que existe numa Fnac, só custa quarenta euros. Devia tentar comprar via interwebs. Ou convencer alguém a fazer isso.
Estou agora a fazer uma lista de filmes antigos que gostaria de ver - tive esta ideia depois do livro (lista) dos 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer me ter sido trazido à atenção pela suspeita do costume. Na verdade, a ideia inicial era apenas abrir a agenda e tomar nota de alguns títulos de terror clássico que me interessavam dessa compilação. Rápido e fácil só que não pois como dito ainda não aprendi que nem tudo tem de ser um empreendimento especialmente quando são três da manhã. É por isso que este blog voltou a ser votado ao esquecimento: falta da vontade perante o estado actual e outras coisas que se meteram no meio. Se alguém tiver sugestões sinta-se livre para partilhar, tenho encontrado algumas interessantes em comentários e em páginas de Reddit - têm de ser filmes mudos ou até 1939.
Este também não será o assunto mais entusiasmante, estou ciente. Há quem ache que estes filmes são difíceis de ver, não sei bem porque seriam, considerando que a história é providenciada por escrito? Quando uma pessoa começa a pesquisar sabe lá o que vai encontrar, buracos de coelho uns atrás dos outros - o filme mais antigo na lista, tirando aquilo que está numa mini lista de curtas que estou a fazer em paralelo, é uma adaptação do Inferno de Dante feita em 1911...Tenho alguns títulos italianos, uma boa porção de alemães, aqui sem surpresa creio e a dada altura passa quase tudo a ser americano, embora tenha tentado inserir alguma diversidade. As coisas mudaram muito neste curto espaço de trinta anos...
Algo que descobri, agora pensando nisso talvez seja conhecimento geral - acho que mais depressa ia ao Preço Certo tentar ganhar um grelhador do que ia a um concurso de cultura geral, costumava pensar o contrário mas chega-se a uma idade em que se começa a desejar equipamentos para o lar e é quando percebemos que o nosso fim está mais próximo - mas Hollywood teve durante décadas um sistema de auto-censura que limitava aquilo de que os filmes podiam falar e o que podia ser mostrado. Aparecia no início do filme um texto a dizer que este tinha sido aprovado e isso podia implicar cenas terem de ser reescritas ou completamente cortadas.
Mas antes de 1934 ninguém se importava muito e em especial os títulos feitos mais ou menos entre 30 e o meio de 34, devem ter sido efeitos da depressão, ficaram conhecidos pela sua tendência para a marotice, entre outras coisas - depois de passar algum tempo a ler sinopses e reviews parece-me que cortando todas essas coisas de alguns filmes devia sobrar talvez uma meia hora de película.
Isto irritou certos grupos religiosos [católicos] que temendo que mais um par de pernas à mostra fosse mandar a nação inteira para a danação eterna, começaram a fazer pressão para que se apertasse o controlo - de modo a criar um entretimento correcto que elevasse a moral dos cidadãos, celebrando os valores da casa e do matrimónio e afastando-os de perversões.
(Não é assim que atendo o telefone e gostava que fosse. Dorothy Mackaill, Safe in Hell - 1931)
Demasiada pele à mostra, linguagem considerada profana ou coisas consideradas demasiado violentas ou sexuais, mas a lista é bem específica incluindo o ângulo pelo qual o assunto devia ser abordado, o documento tem mais de dez páginas. A julgar pelos artigos sobre o assunto que encontrei as regras para os beijos são um favorito, nem podiam ser muitos nem prolongados, também não se podia beijar bandidos, acho eu...Imagine-se a personagem fazer isso enquanto está vestida com uma transparência, num local inapropriado (que é como quem diz, o quarto). Que combo. Isto também se aplicava ao amor puro, bem entendido.
"Excessive and lustful kissing, lustful embraces, suggestive postures and gestures, are not to be shown (...) In general passion should so be treated that these scenes do not stimulate the lower and baser element" - não sei quanto a vocês, mas para mim só filmes que me façam ter vontade de começar a foder ali mesmo dentro da sala de cinema. Ámen.
(Thou Shalt Not, fotografia de A.L. “Whitey” Schafer - 1940)
Mas foi só quando vi a pergunta no Joker sobre a primeira guionista portuguesa (Virgínia de Castro e Almeida) é que me lembrei que não tenho filmes nacionais na lista até agora - alguma coisa que deva adicionar? O que se encontra parece-me tudo...Não muito interessante. Curiosamente, nunca derivei grande prazer em fazer listas literárias. Há pouco tempo estava com Leitora Júnior a responder a um quiz para saber que personagem masculino dos livros da Austen seria o nosso par e senti um certo embaraço, algo mais para me lembrar que os seis romances continuam por ler, quer dizer dois mas a intenção era ler tudo por ordem.
Estava a ler o Sensibilidade e Bom Senso - em retrospectiva já existiam sinais que um grande reading slump se aproximava mas também não estava a gostar assim tanto do livro. Parei a meio, na parte em que entra uma moça, Lucy talvez, que é suposto casar com o tipo de quem uma das protagonistas gosta e há uma cena em que eles se encontram os três numa sala, sinceramente acho que ele não vale o esforço, mas é muito possível que eu leia agora os livros e ache todos os personagens masculinos irritantes, nesta idade que homem não é irritante? É só uma piada.