O coração desfalece
- Sinceramente não sei o que esperava de um livro literalmente intitulado Raparigas Mortas, mas como fiquei arrepiada logo na introdução decidi colocá-lo de lado por enquanto e pegar no Valley of The Dolls. Uma mistura de drogas, celebridades e sexo que foi publicado em 1966 e que esteve 22 semanas consecutivas na lista dos títulos mais vendidos, nos anos 70 entrou para o Guinness como o livro mais popular de sempre e em 2016 tinha vendido 31 milhões de cópias. Jacqueline Susann foi o primeiro autor a ter três livros seguidos no primeiro lugar da lista de best-sellers do New York Times.
E Isto apesar das péssimas críticas e de ter sido considerado um lixo. Já tinha encontrado pessoas no Goodreads a dizerem o mesmo e de facto não é nenhum fino pedaço de literatura...Também há quem extraia ilações sobre a experiência feminina, misoginia e masculinidade tóxica e lhe chame novela protofeminista. Eu cá ainda estou a processar o facto de este livro ser vendido com uma capa cor de rosa com pérolas...Uma estranha decisão quando isto é uma espiral depressiva que ao longo de quase 500 páginas vai ficando cada vez pior. Não me senti entretida, senti-me a morrer por dentro.
- É preocupante o facto de a relação entre tiroteios em escolas e indivíduos jovens do sexo masculino (e maioritariamente brancos) continuar a não ser debatida abertamente, em tempos já escrevi um texto sobre isto. Claro que temos de debater o tema das armas (nada vai mudar), bullying e saúde mental, mas outros espectros da população também têm acesso a armas e têm problemas de saúde mental e no entanto parecem ter menos tendência a ficar fascinados por armamento e a resolverem os seus problemas como se fossem o Rambo...Faz-me pensar nas pessoas que dizem que é melhor ter rapazes porque são mais fáceis de criar. Serão mesmo? A mim parece-me que criar rapazes equilibrados neste mundo é muito difícil...
- Também não consigo parar de pensar na gigante contradição de fazer tanto esforço para impedir o aborto por causa do direito à vida, mas não fazer nenhum para que as crianças tenham boas condições de vida, como fazer algo para impedir que o seu sangue e miolos cubram paredes de salas de aula. Se era preciso maior prova dos níveis grotescos a que o ódio às mulheres e a obsessão em controlar o seu o corpo podem chegar, aqui está.
- Outro dia vi um anúncio da Mimosa e o slogan era - leite aprovado pelos papás e pelas mamãs. Bem que podiam trocar por aprovado pelas famílias, já que nem toda a gente tem papá e mamã. O conceito de diversidade ainda não chegou a algumas empresas, mas não bate certos anúncios de bombons que mostram sempre casais brancos, heterossexuais, jovens e bonitos. Quem mais poderia ter interesse em bombons? Ou em amor?