Almofadinhas no fim do mundo
- Seria de esperar que se coloco aqui uma foto de um livro dizendo que é o que vou ler a seguir, a minha intenção seja mesmo essa e leia o dito livro. Só que não - está na mesa de cabeceira, mas decidi entretanto pegar em outro: Our Dead World, uma colecção de contos de ficção-especulativa de Liliana Colanzi, uma autora boliviana. Já tinha lido três contos antes para o desafio mas fiquei interessada em mais. Já terminei e gostei muito.
- Já falei aqui antes do surgimento periódico de notícias sobre a quebra da natalidade, mas continuo a notar que algumas pessoas parecem um arauto do fim dos tempos quando se fala disto, como se a questão fosse tão fácil e todos devêssemos de imediato começar a procriar. Há tantos factores, de saúde (física e mental), económicos, não ter interesse, ambientais - basta olhar pela janela. O mundo precisa de mais rinocerontes, gorilas, vaquitas, árvores, pandas...Humanos não estão na lista. Este pessoal ia dar-se bem com sua Santidade que acha que as pessoas que preferem ter animais em vez de filhos são o mal porque estão a negar o dom da parentalidade. A ironia é tão grande que era capaz de fazer reviver o próprio dodó...Tirem as mãozinhas e os crucifixos do nosso útero.
- Outro dia vi uma notícia sobre um jogador de futebol preso por violação. Ainda acordo de noite a pensar no facto de a pessoa que escreveu a peça ter achado que a vítima estar bêbada não só era um detalhe relevante como era tão relevante que tinha de ser mencionado cinco segundos depois da dita peça começar.
- As vezes que encontro a palavra panfletário quando estou a ler críticas a filmes (de mulheres) que vi ou quero ver: este filme fala de alguns temas feministas, mas sem ser panfletário. Ou seja: este filme fala de alguns temas feministas, mas é subtil o suficiente para eu não ficar irritado. Deve ser por isso que os três ou quatro filmes que tenho na lista e cuja sinopse implica vingança feminina - para todos encontrei críticas que dizem que são grotescos. Voltei a encontrar algo similar quando estava a ler sobre The Power of The Dog: o texto dizia que o filme aborda temas como masculinidade tóxica, mas sem sentimentos de punição ou vingança. Obrigada por me deixar saber, céus.
- Às vezes a internet embarca em cruzadas contra as coisas mais aleatórias, lamento informar mas eu gosto de ananás na pizza e também não vou entrar na cruzada contra as pequenas almofadas. Acho que uma casa para ser casa tem de ter almofadinhas inúteis espalhadas por camas e sofás.