Coisas bizarras e uma leitura lenta
(Marcha das Mulheres, 21 de Janeiro de 2017. Tirado daqui
'We are the granddaughters of the witches you weren't able to burn")
- Uma coisa excruciante de ser feminista é que antes de podermos sugerir qualquer ideia a respeito de um problema, temos de convencer hordas de gente que o dito problema realmente existe...Qualquer coisa que afecte as mulheres é imediatamente desacreditada ou negada: desigualdade de salários, dores causadas pelo período (episódios do Twilight Zone empalidecem perante a bizarria de termos um homem aleatório a tentar nos explicar que essas dores são pouca coisa...Se bem que isto não devia surpreender já que o corpo feminino é desde sempre regulado por governos masculinos), violência doméstica, objectificação...
E recentemente vi um tipo a tentar negar a caça às bruxas, dizendo que não passa de um mito. Que bizarro um mundo onde a caça às bruxas é mito mas os homens terem concedido direitos às mulheres é considerado um facto. E algumas pessoas ainda se perguntam se este mundo realmente odeia o género feminino...Já eu penso no quão mais profundo o poço do ódio pode ser.
(A mesma frase, aqui num protesto contra a proibição do aborto
na Polónia. 2020. Foto de Aleksandra Perzyńska)
- A expressão caça às bruxas é frequentemente usada em contextos diversos, mas às vezes ainda penso nas pessoas que no auge do Me Too a empregavam para defender os predadores sexuais. Usar uma perseguição massiva levada a cabo por agentes da Igreja e do Estado que visava, na sua grande parte forçar as mulheres, à submissão e controlar o seu corpo
(Handmaid's Tale protest outside European Parliament against Polish
abortion ban. 2020. Tirado daqui)
baseando-se em crimes que não eram reais e compará-la a um movimento que consistiu em mulheres civis [e alguns homens] revelarem como foram abusadas e assediadas depois de anos de sofrimento em silêncio e exigirem justiça; insinuando que estes homens, que não só praticaram crimes bem reais como muitos deles infelizmente mal tiveram qualquer punição, viviam no alto dos seus escritórios num ambiente semelhante ao de Salem - é absolutamente bizarro. Ironicamente estes predadores também são parte de um genocídio contra as mulheres. Um genocídio intelectual:
"We just don’t consider, don’t even see, the loss of all the women who—
driven out, banished, self-exiled, or marginalized—might have been more
talented or brilliant or comforting to us, on our airwaves or in our governing
bodies, but whom we have never even gotten the chance to know."
(Tirado de Good and Mad: The Revolutionary Power of Women's Anger, Rebecca Traister)
- Ainda não acabei O Fim do Homem Soviético. Tinha pensado numa semana, mas é bem angustiante então tem ido aos pedaços. É verdade que não há nenhum livro da Svetlana que não seja brutal...Não acho que seja necessário ler os livros por ordem mas faz sentido que este fique para último e ter algum conhecimento prévio ajuda, poupa algumas idas ao Google. Claro que pode ser que vocês à data já fossem adultos interessados em política internacional, mas eu nasci em Janeiro de 1991. Entretanto já vou a mais de meio.
Is it pretty?
You like how it tastes?
(...)
(...)
No wire hangerz ever"
- Tropecei num documentário que aborda a descriminação e a disparidade de género no cinema [e logo a seguir encontrei um comentário negando isto, ah pois é] e fiquei tão entusiasmada que não reparei logo que foi realizado por um homem com produção de três pessoas, duas delas também homens. Ainda gostaria de vê-lo, mas no momento achei este detalhe um tanto incongruente...
- Tenho andado a reparar num fenómeno bizarro nas caixas de comentários de canais de culinária. Há cavalheiros que vão lá comentar não o que é costume, por exemplo - que bom aspecto, mal posso esperar por fazer esta receita! Em vez disso, exprimem o seu desejo de encontrarem uma esposa que saiba cozinhar tão bem...Algumas pessoas podem achar isto inócuo, mas as coisas escalam e assim também encontramos comentários como: se pudesse casava contigo sem pensar duas vezes, és a esposa perfeita; que pena que hoje em dia não existam mais mulheres como tu; bonita e que sabe cozinhar o que mais um homem precisa na vida? O meu comentário preferido até agora era um que dizia: eu daria um murro na cara de uma modelo para ficar contigo. Tudo o que a moça do vídeo queria era ensinar a fazer uma quiche...