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Desabafos Agridoces

"Enfim, bonito e estranho, desconfio que bonito porque estranho"

Desabafos Agridoces

"Enfim, bonito e estranho, desconfio que bonito porque estranho"

A leitora apresenta-se

Vi por aí esta espécie de desafio que consiste em numerarmos dez curiosidades literárias sobre nós - parece uma coisa gira de se fazer quando se abre um blog e vocês querem dar uma ideia de quem são enquanto pessoas que lêem, nem tanto quando o dito blog já tem dez anos... Mas acontece que esta é mais uma daquelas alturas em que tem de se aproveitar o que está à mão - especialmente porque estou constipada [nada de grave] e não me apetece pensar. Para tornar isto mais interessante coloco aqui uma rara foto minha a ler: 

 

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(Tirado daqui)

 

1. Geralmente quem lê diz que não há nada melhor do que chegar a uma livraria e comprar aqueles livros que queríamos muito, mas sair de casa com outra intenção e de repente encontrarmos um sítio a vender livros como uma feira, podendo lá estar coisas que nos interessam ou não...Não sabemos. É ainda melhor. E dá para comprar o dobro ou triplo. Tenho saudades disso.

2. O primeiro livro que li deve ter sido um álbum do Calvin - aquele em que, antevendo já a exploração espacial, eles vão para Marte no carrinho. Os miúdos de hoje não fazem ideia do que estou a falar. 

 

B3 (2).jpg

 

3. Não ter tido nenhuma experiência traumática com as leituras obrigatórias, gostei da maior parte, também se ficou a dever ao facto de nem o Amor de Perdição nem As Viagens na Minha Terra fazerem parte do currículo. Depois de os ter lido passei a olhar com um pouco mais de consideração para os espectros fatais. Não que eu ache que o problema de os miúdos não lerem é das próprias obras. Ah uma opinião controversa!

4. O Mr. Darcy é altamente sobrevalorizado. A minha ideia, que irei colocar em prática um dia, de ler todos os livros por ordem não tem como objectivo um enriquecimento literário, é apenas para provar este ponto. 

5. Se já levaram livros para os lugares mais improváveis onde ninguém espera que pessoas estejam a ler, têm a minha solidariedade. Até para o cinema já levei livros, em papel mesmo. 

6. Gostava de me lembrar das partes racistas de Os Maias, mas na verdade as três coisas que me lembro melhor da obra inteira são por esta ordem: as queijadas, as ervilhas com chouriço e a pinta na mama da Cohen. A memória tem estranhos processos.

7. Uma pergunta que suscitaria respostas interessantes: quando foi a primeira vez que encontraram uma cena picante num livro. Não me lembro, mas lembro-me quando encontrei a palavra orgasmo. Tive certas dúvidas, mas sabiamente guardei-as para mim mesma. 

8. Da primeira vez que tentei ler O Cão dos Baskervilles e a Alice no País das Maravilhas, requesitados na biblioteca da escola, não consegui acabar nenhum dos dois. Achei o primeiro demasiado assustador e o segundo demasiado nonsense. As crianças costumam ser boas a lidar com o nonsense - nenhum ser humano em outro estágio da vida podia perseverar em Wonderland. E cresci nos noventa, criar desenhos animados que fizessem sentido não era uma prioridade (e alguns não passariam hoje). Mas eu era um bocado sensível. São óptimos livros.

9. Hoje devem existir edições mais completas, mas a minha edição do Diário de Anne Frank é antiga e não dá detalhes do que aconteceu a seguir, resumindo tudo numa dúzia de linhas. Sempre achei esta economia de palavras ominosa, não sei porquê...

10. Continuo a achar estranho o hábito de saltar partes de um livro (e continuo a achar que as partes do Levin na Anna Karenina não devem ser passadas à frente, como algumas pessoas advogam), não vejo nada de errado em deixar um livro a meio e voltar a ele no futuro (ou nunca), mas se saltarem partes depois podem considerar o livro lido, no final do ano?

 

Humidade e outras irritações

- Não posso ser a única a ter ódio a este tempo húmido. Ter as roupas sempre coladas ao corpo, não conseguir dormir decentemente...Tenho morrido lentamente por estes dias ainda por cima em alguns deu em chover sem que com isso viesse qualquer alívio do abafado. Percebe-se que não nasci para climas tropicais pois só associo chuva ao frio e ao Outono. Que já devia cá estar. 

- Tão mau como a humidade: ajuntamentos de pessoas que me fizeram fugir da Feira do Livro. Já não sei lidar com isso, não que soubesse antes mas...Não comprei nada. De um ponto de vista estritamente lógico talvez tenha sido melhor assim já que ando a ler bem devagar. Ainda bem que decidi que este seria o ano da não pressão literária, os números vão ser uma tristeza. Por outro lado as últimas três leituras tiveram cinco estrelas ou quase. Qualidade ganha à quantidade.

- Ouvi alguém dizer que as instituições mentais do século XIX foram uma extensão da caça às bruxas dos séculos anteriores. Só estava à procura de reviews da Met Gala no Youtube para ver os vestidos, mas acabei com esta ideia na cabeça. Não é mentira. As ideias são as mesmas só mudam de forma. 

- Algo tão mau como humidade e os ajuntamentos: jogos cuja a premissa é investigar um mistério, geralmente em sítios como mansões ou hospitais abandonados que se revelam cheios de monstros que é preciso eliminar - e a personagem feminina está vestida com algo ridículo (e revelador) como um micro vestido. A agonia é real. É verdade que Hollywood faz a mesma coisa, por exemplo, colocando mulheres a fugir de dinossauros com saltos altos...

- É incrível  ver como as personagens femininas continuam a ser julgadas com tanta severidade em comparação com as masculinas. As pessoas mais depressa simpatizam com um psicopata do que com uma mulher que é infeliz no seu casamento. Um caso paradigmático, de que já falei aqui antes, foi o de alguém que indicava Dolores [Lolita] como a personagem que mais detestava. Tenho novidades sobre isto: encontrei alguém a afirmar que não existe abuso nesta história...Também descobri que passado tanto tempo ainda há homens que acusam o The Color Purple de misandria - um grande disparate. Mas é preocupante que esta seja a primeira coisa em que eles pensem perante a história de uma rapariga negra pobre que é tratada como um lixo, abusada sexualmente pelo pai e depois pelo marido (e que encontra amor nos braços de outra mulher).

Filmes: amores proibidos, mudanças de género

e pensos higiénicos

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Rafiki

Wanuri Kahiu

2018

"Bursting with the colorful street style & music of Nairobi’s vibrant youth culture, Rafiki is a tender love story between two young women in a country that still criminalizes homosexuality. Kena and Ziki have long been told that “good Kenyan girls become good Kenyan wives” - but they yearn for something more."

(Tirado daqui)

 

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Orlando 

Sally Potter

1992

"Orlando is about a person who achieves in one lifetime what most of us can only dream of doing: viewing four centuries of experiences through the eyes of both sexes. (...) a very long and unusual lifetime. Born as a man in the time of Elizabeth I, Orlando becomes a woman midway in the journey "

(Tirado daqui)

 

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Rayka Zehtabchi

2018

"In an effort to improve feminine hygiene, a machine that creates low-cost biodegradable sanitary pads is installed in a rural village in Northern India. Using the machine, a group of local women is employed to produce and sell pads, offering them newfound independence and helping to destigmatize menstruation for all."

(Tirado daqui)

 

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Quem Escreve Aqui

Feminista * plus size * comenta uma variedade de assuntos e acha que tem gracinha * interesse particular em livros, História, doces e recentemente em filmes * talento: saber muitas músicas da Taylor Swift de cor * alergia ao pó e a fascistas * Blogger há mais de uma década * às vezes usa vernáculo * toda a gente é bem-vinda, menos se vierem aqui promover ódio e insultar, esses comentários serão eliminados * obrigada pela visita!

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