"Anna é uma jovem cineasta que está viajando pela Bélgica, Alemanha e França para exibir seu novo filme. Em cada etapa desse trajeto ela encontra figuras que têm em comum apenas a solidão: um diretor escolar; uma antiga amiga; um desconhecido no trem; sua mãe e seu amante parisiense"
Últimas leituras. Ficou um pouco maior do que o costume mas também já não escrevia aqui há uma semana por isso aqui vai:
Livros que gostei menos do que esperava
Normal People, Sally Rooney (Irlanda) - mesmo que nunca tivesse ouvido falar deste livro bastava olhar para a edição que tenho para ficar entusiasmada. Contado as citações elogiosas na contracapa, capa, interior da capa e três páginas extra são para aí umas trinta, fora os prémios. Infelizmente, vou ter de discordar desta gente toda - este livro é medíocre. Um rapaz, Connell, e uma rapariga, Marianne, conhecem-se no secundário e iniciam uma relação intermitente que é basicamente assim - encontram-se, fodem por um tempo, separam-se para foder outras pessoas, encontram-se de novo...É só isto, não há mais história. São capítulos e capítulos da mesma coisa...
Outras questões (saúde mental, questões de classe...) estão lá como mero ruído de fundo e nunca são exploradas. As personagens não são desenvolvidas. Connell é um idiota tremendo e Marianne é uma mistura trágica de Bella Cullen e Anastasia Grey (sim, também esta última. leram bem). Ela é abusada física e psicologicamente durante o livro inteiro, tem a auto-estima tão destruída que não é capaz de reagir e a autora nunca aprofunda o problema. Marianne diz que não se importa que o namorado lhe um dê um soco na cara porque se acha uma pessoa má e corrompida e por isso merece, então a cena termina e começa outra. Just like that.
E muitas outras coisas inquietantes como esta são ditas, en passant. Ela é agredida num capítulo e para o caso de não termos visualizado bem, no seguinte é agredida de novo. Sinto que a minha simpatia era suposto ter sido dirigida para a personagem masculina, pois é ela que se safa melhor e que tem as melhores perspectivas de futuro, enquanto Marianne não tem nenhumas a não ser continuar a ser uma menina obediente...Quase provoca dores físicas ler uma coisa destas por 266 páginas. E também é uma dor ver isto ser classificado como história de amor. Uma relação tóxica, como aliás o são quase todas as interacções neste livro. A escrita é inconsistente e a história salta por vezes dois dias outras vezes quatro meses, não percebi porquê. Enfim, não recomendo.
Behold The Dreamers, Imbolo Mbue - romance de estreia desta autora nascida nos Camarões e a viver em Nova York, lançado em 2017 ganhou o prémio PEN/Faulkner e foi seleccionado para o clube de leitura da Oprah. É sobre um casal, Jende e Neni, que partem dos Camarões à procura de uma vida melhor nos Estados Unidos.
As coisas parecem seguir um bom caminho: Jende consegue um bom trabalho como motorista de um executivo do Lehman Brothers e Neni começa a estudar para se tornar farmacêutica e depois também é contratada para trabalhar para a mulher do executivo. Mas quando eles se veem metidos no meio dos problemas conjugais dos patrões e cada vez mais perdidos nos trâmites legais para obter documentos (o tal cartão verde), os seus sonhos ficam em risco. Não posso dizer que tenha gostado muito, a ideia é boa mas a execução deixa a desejar.
Livros que gostei
Quarto de Despejo, Carolina Maria de Jesus - Nascida em 1914, Carolina foi uma mulher negra que vivia numa favela chamada Canindé, em São Paulo. Quase sem instrução e sozinha com três filhos sobrevivia de catar papel das ruas, nas horas vagas ela escrevia um diário usando cadernos apanhados entre o material que recolhia e onde relatava o quotidiano da favela. São relatos simples mas pujantes de fome, desespero e miséria extrema.
Livros que gostei mais do que esperava
The Artificial Silk Girl, irmgard keun - Na Berlim pré-segunda guerra, com as suas luzes ofuscantes e actividade frenética, uma jovem chamada Doris tenta o seu sonho de se tornar uma estrela. Publicado em 1932 tornou-se um best-seller, mas depois foi atirado à fogueira e esquecido até à década de 70 quando o movimento feminista o resgatou. Tem um tom de humor que o coloca na mesma linha de livros como O Diário de Bridget Jones, ao mesmo tempo é um registo histórico escrito com a precisão de um quadro expressionista e tem a universalidade própria de um clássico.
Redemption in Indigo, Karen Lord (Barbados) - Uma história charmosa que mistura magia (é parcialmente baseado num conto tradicional senegalês) e ficção científica, sobre uma mulher chamada Paama que recebe um presente muito especial: um objecto com o qual é possível controlar as forças do caos.
Fearless Fighter: The Life of Vera Chirwa - a autobiografia de Vera Chirwa, activista dos direitos humanos e a primeira mulher advogada no Malawi. Nascida debaixo do regime colonial, desde cedo tomou consciência do racismo e da descriminação instituída - duplamente por ser mulher e negra - e juntamente com o marido participou activamente na luta pela independência do Malawi (1964) e quando o poder foi tomado pela ditadura ela passou mais de uma década na prisão. A história é fácil de seguir, mesmo para quem não esteja familiarizado com a história do país, e apesar de tudo o que Vera sofreu não há aqui um traço de amargura. Uma mulher extraordinária.
Encontrei uma lista da BBC - The 100 greatest films directed by women, achei bastante interessante embora não consiga parar de imaginar um incauto ou incauta a escolher o Triunfo da Vontade para uma sessão de cinema num domingo à tarde...Depois constatei que dos cem este foi o único que vi, um bocado deprimente. A minha cultura cinematográfica não é grande coisa e fiquei a pensar em alargar o desafio de ler autoras pelo mundo de modo a incluir alguns filmes feitos por mulheres, de países onde ainda não "estive". Why not...Já tenho alguns numa pasta, encontrei no Youtube.
Feminista * plus size * comenta uma variedade de assuntos e acha que tem gracinha * interesse particular em livros, História, doces e recentemente em filmes * talento: saber muitas músicas da Taylor Swift de cor * alergia ao pó e a fascistas * Blogger há mais de uma década * às vezes usa vernáculo * toda a gente é bem-vinda, menos se vierem aqui promover ódio e insultar, esses comentários serão eliminados * obrigada pela visita!
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