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Desabafos Agridoces

"Enfim, bonito e estranho, desconfio que bonito porque estranho"

Desabafos Agridoces

"Enfim, bonito e estranho, desconfio que bonito porque estranho"

Três géneros e três continentes

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(Tirado daqui)

 

Terminei: um livro de não-ficção - O Meu Nome É Victoria. Victoria Donda, actualmente deputada do parlamento argentino, conta como descobriu que os seus verdadeiros pais tinham sido presos e assassinados pela ditadura (1976-1983) e que ela tinha sido adoptada por simpatizantes do regime  sob um nome falso. Um livro de contos - Distant View of a Minaret and Other Stories de Alifa Rifaat, um conjunto de quinze contos que se debruçam sobre a vida das mulheres na sociedade egípcia. Gostei muito. E três romances - Ancestor Stones de Aminatta Forna, uma saga de família que se entrelaça na História da Serra Leoa, contada na perspectiva de quatro mulheres. Também gostei muito. Balada de Amor ao Vento da Moçambicana Paulina Chiziane, que não posso dizer que tenha amado, e Conduz o Teu Arado Sobre os Ossos dos Mortos da polaca Olga Tokarczuk. Se vocês não têm este livro na vossa TBR então vão lá e coloquem-no, se já o têm então vão e puxem-no para cima. Conselho aqui da casa. Próximos destinos: Coreia do Sul, Guiné-Bissau e Myanmar.

Que o Dosto não nos bloqueie a visão

Voltei ao sistema de ler um livro de cada vez - escolho três livros e leio cada um à vez, só depois escolho mais três. Até estabeleci metas de tempo para começar e acabar, mas isso já foi ao ar. E escrevo sobre os livros logo que possível, em vez de deixar acumular. Ando tão certinha. Também dei por mim a pensar que mesmo passado todo este tempo a ler autoras, ainda continuo a ter provas de como isso é importante: outro dia vi uma lista com sugestões de livros curtos e não tinha nenhuma escritora. Antes provavelmente não teria notado, agora passei os olhos pelas sugestões, revirei-os e saí logo. Não me façam perder tempo com listas preguiçosas. Quando pesquiso, por uma questão de economia de tempo tenho preferência por listas só de autoras embora também clique em mistas e vez por outra acontecem este enganos - quer conhecer a literatura deste país? Veja estas sugestões! E quando vou a ver não há mulheres...Grande engano adentrar-se a literatura de um país ignorando metade da sua população. Há autores que parecem ter um efeito eucalipto (llosa, García Márquez, Borges...) tornando a visibilidade das escritoras ainda mais difícil e ainda pior quando são vários autores com este efeito (como acontece com a literatura russa). Vendo bem, pensar na literatura de um sítio e serem nomes de escritoras a primeira coisa que ocorre - é um acto de subversão.

Problemas com roupa

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(Foto de Kindra Nikole, tirada daqui)

 

Há dias enquanto navegava por aí encontrei alguém que perguntava se era a única a achar que as mulheres ficam sexy de armadura completa. Não, não é. Eu também acho. Assim como acho que as mulheres ficam bem de fato. Uma opinião polémica, já que vai contra o conceito de feminilidade e do que é apropriado para cada género, imposto pela sociedade patriarcal - e cujo objectivo é moldar-nos aos desejos masculinos. 

 

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(Marlene D. in Morocco, 1930)

 

Imaginem o perigo se começamos a sentir-nos como homens, ainda podemos pensar que temos o direito de participar no mundo...E analisando a moda feminina ao longo dos tempos não vemos apenas a intenção de nos transformar em objectos de consumo - esta é uma das razões porque casar está fora dos meus planos: não conseguirei agradar ao meu esposo ao estar em casa de vestido floral e cabelo arranjando com uma travessa contendo um peru inteiro, à espera que ele entre em casa. Mas também privar-nos de liberdade física e mental - com os pés amarrados não podíamos fugir para lado nenhum, presas em barbas de baleia provavelmente iríamos hesitar em fazer certas actividades.

 

How Could A Woman Possibly Fight In This? GIF - WonderWoman ...

 

Boa pergunta, Diana. Em Mulheres Viajantes, que li o ano passado, Sónia Serrano conta como a roupa era um problema para as primeiras viajantes - algumas adoptavam trajes masculinos, com a censura que isso implicava, mas outras não. O que significava ir para o meio da selva e atravessar pântanos vestidas como se estivessem a tomar chá em Londres. Queria ver os viajantes a fazer o mesmo. E liberdade psicológica: no subconsciente cimenta-se a ideia do sexo fraco, que precisa de ajuda. Virginia ilustrou isso muito bem, quando Orlando passa a usar as pesadas saias vitorianas:

 

"Era o mais pesado e banal de todos os trajes que já usara. Nenhum lhe impedira tanto os movimentos. Não poderia mais passear pelos jardins com os seus cachorros nem galgar apressadamente a alta colina e lançar-se sob o carvalho. Suas saias prendiam folhas úmidas e palha (...) Seus músculos tinham perdido a flexibilidade. Ficou com medo de que houvesse ladrões atrás dos lambris, ou, pela primeira vez na vida, fantasmas nos corredores. Todas essas coisas levavam-na passo a passo a submeter-se à nova descoberta (...) que a cada homem correspondia uma mulher (...)"

 

Em Clear Light of The Day de Anita Desai há uma passagem em que as duas irmãs, Bim e Tara, decidem às escondidas vestir as roupas do irmão e processa-se uma mudança que não é apenas física ("Great possibilities unexpectedly opened up now they had their legs covered so sensibly and practically and no longer needed to worry about what lay bare beneath ballooning frocks (...)"), mas elas começam a sentir um senso de confiança e possessão.

 

De independência ("Now they thrust their hands into their pockets and felt even more superior —what a sense of possession, of confidence it gave one to have pockets, to shove ones fists into them as if in simply owning pockets one owned riches, owned independence"). Não será coincidência quando várias autoras abordam um aspecto semelhante e não será de espantar que a roupa possa ser usada como arma social. Não há muito tempo podemos ver como este país ainda não lida bem com homens de saia. Problemas como violência doméstica ou desigualdade é como o outro, agora isso nem pensar.

 

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(Billy Porter nos Óscares de 2019)

 

Mas voltando às armaduras do início - é um assunto igualmente polémico pois alguns senhores não podem conceber a ideia de uma roupa que não identifique de imediato a personagem como feminina ou a ideia de não poderem ver o máximo possível de pele dela. E como muitos desses senhores são artistas\realizadores continuamos a ter de ver certas abominações...Num mundo patriarcal o desejo masculino heterossexual vem acima de tudo inclusive do mais elementar bom senso pois até uma criança perceberia que lutar de biquíni não faz sentido.

 

E não é preciso ser nenhum fã de comics ou de fantasia para se reparar, nem falando da câmara apontada para sítios estratégicos do corpo delas, das poses estranhas, dos papéis resumidos a apêndices românticos (um papel que não tem nada de mal claro, deve ser por isso que o vemos ser ocupado por tantos homens). É de tal modo que às tantas podemos ser levadas a pensar que nós é que estamos trocadas e que estas são as escolhas de guarda-roupa mais realistas e lógicas...

 

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(Patty Jenkins [Wonder-Women] Amazon warriors on the left.

Zack Snyder's [Justice League] on the right."

Tirado daqui)

 

Talvez as samurais ou Antónia Rodrigues, essa mítica figura portuguesa, lutassem realmente de calças justas ou como se estivessem a caminho da Caparica - Ora, deve ser coincidência que a personagem deste jogo seja uma colegial com uma micro saia e que quando se senta a câmara se foque directa nessa "fronteira" (pobre Carrie a ter de se expor para as hordas sedentas - "I emerge from my three-week-long ECT treatment to discover that I am not only this Princess Leia creature but also several-sized dolls, various T-shirts and posters, some cleansing items (...) It turns out I was even a kind of pin-upa fantasy that geeky teenage boys across the globe jerked off to me with some frequency")

 

Basicamente, é uma forma de nos dizerem que não nos podemos equiparar aos homens - claro que vocês podem ser badass mas não se esqueçam de que têm pipi e como tal a vossa principal função é serem agradáveis à vista. Ou seja, sermos fodíveis. Mas se decidimos andar na rua com uma micro saia corremos o risco de sermos insultadas e de não sermos colocadas na lista das que são material para casar. Muito confuso não?

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Quem Escreve Aqui

Feminista * plus size * comenta uma variedade de assuntos e acha que tem gracinha * interesse particular em livros, História, doces e recentemente em filmes * talento: saber muitas músicas da Taylor Swift de cor * alergia ao pó e a fascistas * Blogger há mais de uma década * às vezes usa vernáculo * toda a gente é bem-vinda, menos se vierem aqui promover ódio e insultar, esses comentários serão eliminados * obrigada pela visita!

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