Parece que abandonei de vez este blog, mas o que aconteceu é que estive de cama com uma gripe. Fui acompanhando silenciosamente o estado da nação: com os seus interessantes debates sobre se existe racismo ou não em Portugal, não consegui evitar uma gargalhada febril perante esta questão. É incrível o quanto ainda vivemos iludidos, continuando a procurar refúgio debaixo do sinistro guarda-chuva do país de brandos costumes. Nunca houve momento algum da História em que esta expressão tenha sido verdade...Certamente não para um negro, uma mulher ou um animal. Vi o Festival RTP da Canção por alto e já perdi o sono a pensar quem é o Barber...Ao contrário da maioria eu não sou fã dessa música. Senti o clamor de todas as jornalistas que agora podem finalmente deixar cair a palavra alegado antes da palavra violador quando se referem a certas """pessoas""" e quando vi o novo clip da Taylor o meu coração deu um salto: não há um único segundo ali que não seja certeiro. Aproveitei para despachar três leituras que estavam pendentes - os livros parecem realmente ser agora a única forma segura de viajar. As máscaras estão esgotadas aqui na farmácia local.
Terminei: How to Lose a Country: The 7 Steps from Democracy to Dictatorship de Ece Temelkuran, uma espécie de guia de campo em que a autora de maneira bem clara expõe os mecanismos que levam os movimentos populistas ao poder e à destruição da democracia - de modo que o leitor seja capaz de identificar o perigo quando começar a acontecer no seu país, se já não estiver em andamento...Sem dúvida recomendado. Também li Picnic at Hanging Rock de Joan Lindsay, uma autora australiana. Passada em 1900 a narrativa gira em torno do misterioso desaparecimento de três alunas e uma professora de um colégio interno na zona de Hanging Rock, uma formação rochosa que realmente existe em Victoria. Foi uma leitura intrigante! Seguem-se Itália e China.
(Livros que já comprei este ano, tão lindinhos. Descobri que ainda existe um sítio que vende livros usados na estação do Oriente. Agora nada mais será comprado até à FL de Lisboa - que será de 28 de Maio a 14 de Junho. Felizmente, estou a pensar ir serena e controlada...É mentira, já tenho uma lista feita. Uma folha inteira.)
Quando digo que gosto de clássicos e que pouco sei do que está na berra, que não leio muitas coisas românticas nem de supernatural, de fantasia ou auto-ajuda...Faz parecer que sou uma esquisitinha. Mas constato agora que não sou nada comparado à pessoa que encontrei num vídeo algures a dizer que os miúdos na escola deviam era ler coisas práticas com factos e estatísticas em vez de romances, que não são produtivos...Não é a primeiro vez que encontro opiniões como esta e gente que ostensivamente diz que não lê ficção. Que vida literária triste...Também há a versão, menos dramática: não leio romances. Como se um sem número de autores consagrados não tivessem construido as suas carreiras escrevendo romances e como se isso não fosse uma boa parte do cânone literário...Talvez um dos motivos seja a confusão que se faz entre romance e romântico. Depois do outro lado há quem diga que nunca lê não-ficção - o que também não me faz muito sentido. Há não-ficção sobre todos os temas, escritos numa variedade de estilos...São dois tipos de leitura que podem muito bem conviver.
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Avisos
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