Para este ano o objectivo era ler exclusivamente autoras. Dito assim não parece nada de espectacular já que há mais de um ano que é precisamente isso que tenho vindo a fazer...Mas continuo a encontrar pessoas que realmente acham que tal coisa não é possível, não devem existir bons livros de senhoras que cheguem. Ou a ser possível deve ser aborrecido ou redutor...Pensando nisto, decidi então fazer um ano de autoras todo certinho de Janeiro a Dezembro.
Não estava com grandes dúvidas que o desafio iria correr bem (li um livro escrito e ilustrado tanto por homens como mulheres mas acho que nem se pode considerar uma excepção) e que não seria nada aborrecido...Nunca tem sido, como sabe quem tem acompanhado os posts sobre o assunto. Para 2020 tinha pensando voltar a ler escritores - é desta! Só que este plano já está a ser atropelado pela ideia de ler autoras mais diversamente, até já comecei a pesquisar...Espero que vocês tenham tido um ano de óptimas leituras e agora aqui fica a lista com alguns dos favoritos:
"Well, I think home spat me out, the blackouts and curfews like tongue against loose tooth. God, do you know how difficult it is, to talk about the day your own city dragged you by the hair, past the old prison, past the school gates, past the burning torsos erected on poles like flags? When I meet others like me I recognise the longing, the missing, the memory of ash on their faces. No one leaves home unless home is the mouth of a shark.
(...)
The Libyan desert red with immigrant bodies, the Gulf of Aden bloated, the city of Rome with no jacket. I hope the journey meant more than miles because all of my children are in the water. (...) I want to make love, but my hair smells of war and running and running.
(...)
Look at all these borders, foaming at the mouth with bodies broken and desperate. I’m the colour of hot sun on the face, my mother’s remains were never buried. I spent days and nights in the stomach of the truck; I did not come out the same. Sometimes it feels like someone else is wearing my body.
I know a few things to be true. I do not know where I am going, where I have come from is disappearing, I am unwelcome and my beauty is not beauty here. My body is burning with the shame of not belonging, my body is longing (...) The lines, the forms, the people at the desks, the calling cards, the immigration officer, the looks on the street (...) But Alhamdulilah all of this is better than the scent of a woman completely on fire, or a truckload of men who look like my father, pulling out my teeth and nails, or fourteen men between my legs, or a gun, or a promise, or a lie, or his name, or his manhood in my mouth.
I hear them say go home, I hear them say fucking immigrants, fucking refugees. Are they really this arrogant? Do they not know that stability is like a lover with a sweet mouth upon your body one second; the next you are a tremor lying on the floor covered in rubble and old currency waiting for its return. All I can say is, I was once like you, the apathy, the pity, the ungrateful placement and now my home is the mouth of a shark, now my home is the barrel of a gun. I’ll see you on the other side."
Conversations About Home (at the Deportation Centre), Warsan Shire
Há coisas maravilhosas que acontecem por esta altura como por exemplo: circos com animais a passar na televisão ou a quantidade de aventais e tábuas de passar comprados para oferecer a meninas, não esquecendo os livros de princesas e a quantidade industrial de bonecas. Mas também é giro analisar as sugestões de livros para oferecer à família e amigos - para o lado feminino: livros de culinária (também já vi de astrologia) e livros cor-de-rosa, que até podem ter alguma filosofia e História desde que não seja nada muito pesado. História concreta e factual é para o lado masculino, livros com capas sóbrias. Ou sobre espionagem e FBI. E escritoras oferecem-se a senhoras, claro. Tenho sempre a sensação que basta um clique para encontrar alguém a sugerir um guia de como ser melhor nos negócios para o pai e a agenda da doméstica para a mãe, como se ainda estivéssemos presos dentro do Madman. Da próxima vez que estiver na secção de não-ficção histórica de uma livraria vou tirar um minuto para me sentir alienada e depois vou pegar num livro e folhear. Sou uma rebelde.
Feminista * plus size * comenta uma variedade de assuntos e acha que tem gracinha * interesse particular em livros, História, doces e recentemente em filmes * talento: saber muitas músicas da Taylor Swift de cor * alergia ao pó e a fascistas * Blogger há mais de uma década * às vezes usa vernáculo * toda a gente é bem-vinda, menos se vierem aqui promover ódio e insultar, esses comentários serão eliminados * obrigada pela visita!
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