Simplicidade nos Livros
Os leitores costumam ter um fraco por livros gordinhos, com várias personagens e reviravoltas do enredo. Mas devíamos apreciar os que não têm nenhuma destas características. Livros pequenos: é espantosa a quantidade de livros incríveis que não passam das duzentas ou cem páginas. Os contos: um género mal amado. Ao contrário da crença geral penso que escrever contos é mais difícil do que escrever histórias longas. Exige mais precisão, contenção e maturidade. Muitos leitores dizem que não gostam de ler contos porque ficam sempre com a sensação de que faltou mais. De incompleto. Mas um conto quando é realmente bom basta-se a si mesmo. Kate Chopin tem um conto chamado The Story of an Hour que nem chega a três páginas. Curto, mas passa a mensagem sem precisar sequer de mais uma linha. O The Yellow Wallpaper da Perkins Gilman. Ou o Nariz do Gogol. A Katherine Mansfield e a Alice Munro. Oh! e a Sophia. Da mesma forma que há livros pequenos incríveis, também há até mesmo obras primas cujos fios narrativos partem de detalhes corriqueiros, que não mudam de cenário ou que têm muito poucas personagens. A Paixão Segundo H.G da Clarice é um exemplo. Tão denso e maravilhoso, só tem duas entidades - uma mulher e uma barata e começa banalmente com a mulher sentada à mesa do café. Alguns autores conseguem escrever histórias até a partir de uma personagem sentada numa cadeira no meio de uma sala vazia e é um privilégio lê-los (e mesmo quando nos obrigam a olhar para recantos escuros cá dentro)