Se as vaginas pudessem falar
You cannot love a vagina unless you love hair
Quando comecei a ler o Monólogos da Vagina fiquei logo cativada com esta frase que aparece no início. Há muito tempo que procurava alguém capaz de prenunciar tão taxativamente esta verdade. A ideia de ter de arrancar qualquer pelinho faz-me estremecer. Não desejo submeter mais nenhuma parte do meu corpo a esses métodos de tortura. Sou a favor de vaginas livres. Normalmente aplicamos o termo livre em sentido psicológico e social de nos libertarmos da repressão e da vergonha, mas não é só. Vaginas devem ter liberdade em todos sentidos. Livres de tortura disfarçada de limpeza, de coisas que apertem ou arranhem, de produtos químicos feitos para as porem a cheirar a pêssegos no Verão. É uma vagina, não um pomar na Tuscania. Querem pomares na Tuscania apanhem um avião.
My vagina doesn’t need to be cleaned up. It smells good already. Not like rose petals. Don’t try to decorate. Don’t believe him when he tells you it smells like rose petals when it’s supposed to smell like pussy. That’s what they’re doing—trying to clean it up, make it smell like bathroom spray or a garden. All those douche sprays—floral, berry, rain. I don’t want my pussy to smell like rain
A lista de métodos de tortura para as mulheres é infindável, quando para os homens nem existe tal lista e é irónico que tantas mulheres se submetam a isto apenas porque o seu companheiro quer, porque é mais atraente para ele. Qualquer tipo que ache que pode arranjar o vosso corpo como se vocês fossem um lego não merece o vosso tempo, e também não merece nenhum que queira enfiar-se dentro de vocês mas fique enojado por ver um livro sobre vaginas na mesa-de-cabeceira ou por ter de ir comprar um pacote de pensos.
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All this shit they’re constantly trying to shove up us, clean us up—stuff us up, make it go away. Well, my vagina’s not going away.
O conceito de ser feminino ainda está associado a coisas como ser pura, limpa e agradável (é por isso que estes conceitos de feminilidade e masculinidade deviam já ter desaparecido) em padrões de tal maneira elevados que nenhuma mulher os consegue atingir pois implicam deixarmos de ser humanas. Talvez todas gostássemos de parecer personagens de filme todas sensuais enquanto repousamos na cama sob temperaturas de 45 graus, quando o mais certo é estarmos inertes e suadas que nem um leitão, com as pernas em posições esquisitas. Quem produz a maior parte dos conteúdos não acha isso atractivo. Preferem colocar-nos no duche cheias de espuma sugestiva e ignorar as pingas de sangue no chão da banheira.
Ver homens enojados com isto é assustador: em que mundo vivem? Que espécie de relações irão construir? Já é mau que eles tomem por certo que vão encontrar uma mulher limpa que sirva os seus propósitos, mas todo o ambiente à volta lhes diz que isso é algo que devem exigir. Só que não, porque a verdade é esta: quem não ama a vagina e não está para a tratar como ela merece ser tratada, devia brincar sozinho.