Um porco-espinho na vida
Acho que nunca tive uma fase de sonhar com príncipes encantados. Nunca liguei a esse tipo de filmes nem a bonecas e também nunca liguei a brincadeiras de meninas. Tinha livros de autoras e livros com personagens femininas (Zé e o Tim!). E amava aquela colecção sobre miúdas num colégio interno, não que alguma vez tenha desejado estar num colégio interno feminino ou outro. Li-os todos várias vezes. Cheguei a ler dois da colecção diários de Sofia, achava-os fúteis e fascinantes ao mesmo (ela tinha 17 anos! Uma rapariga crescida) Coisas que não gostava, e ainda não gosto agora: comprar roupa e sapatos (de facto, tenho mais livros que sapatos), ir ao cabeleireiro (agora acho mais interessante pois passei a prestar atenção às conversas), comédias ou romances românticos. Tudo o que me soasse a futilidade era uma perda do tempo que podia usar para ler ou ver coisas interessantes na TV. Que coisinha irritante eu era. Gostava da Sailor Moon. Mas não queria ser a Usagi, ela era engraçada mas eu queria ser a Rei [a de Marte] que tinha um feitio mais espinhoso. É claro. Como resultado disto tornei-me um frágil calhau que quando está com pressa mal se penteia e que mal sabe andar de saltos altos (entre outros) A diferença é que agora não acho que sou melhor porque tenho mais livros que sapatos e vejo estas ideias românticas como elas realmente são: não coisas de mulherzinha, mas tentativas de subjugar e manipular as raparigas.