History Lover Problems - VIII
No sábado estava a ver isso do casamento à hora de almoço e a conversa desviou-se para o facto de haver ou não castelos na América, não me perguntem porquê. Mas como não sou fã de casamentos e ver o Harry a casar-se faz-me sentir velha, achei que este era um rumo de conversa mais interessante então eu disse que a América era uma colónia e a Austrália também e que esta aparentemente foi descoberta por nós...Não gosto deste termo e tive que morder a língua para não ter a tentação de o repetir - que branco e cruel é este termo: "descoberta". Cada vez menos partilho o entusiasmo por tudo que esteja envolvido nisso: navegações, odisseias, patriotismo, dar novos mundos ao mundo...Se eu chegasse aqui e dissesse que o que era giro era fazermos uma festa para celebrar o holocausto - é certo que algumas pessoas iriam concordar, mas em principio muitas não. Então porque tenho que ver este genocídio de civilizações como uma coisa gloriosa? Por causa do ouro para encher altares (se certos objectos pudessem fazer algo, esse algo seria sangrar em silêncio...) ou de um pau de canela?
Claro que vocês podem dizer, puxa então os avanços científicos e geográficos isso é muito importante. Pois, de tal modo importante que afoga tudo o resto...O que é violência, massacres, violação em massa e roubo quando são servidos numa bandeja reluzente? É como as revoluções, tão importantes mais as constituições que saíram daí...A menos que vocês não fossem homens brancos nesse caso a vossa vida continuava fodida à mesma. Não sei se já viram aquele livro Histórias de Adormecer para Raparigas Rebeldes. É fantástico. Mas para a "História oficial" essas mulheres não existem. Não admira que várias das personagens femininas mencionadas ali sejam quase desconhecidas, embora as pessoas consigam dizer o nome de mais do que um homem na mesma área - porque foi isto que nos ensinaram, que um único grupo tem a supremacia da importância. E fontes históricas consideradas "confiáveis" continuam a bombardear-nos com esta ideia enviesada da História, não mais que um instrumento de ignorância e submissão - ainda nos obrigando a pedir desculpa ou a ter vergonha de existirmos e de reclamar-mos o nosso lugar passado e presente no mundo.