Sempre algo para dizer
Diz-se que um bom livro nunca acaba aquilo que tem para dizer. Ou seja, um bom livro pode ser lido várias vezes que o leitor irá sempre encontrar coisas novas. Aplica-se muito aos clássicos e pode parecer um chavão, mas mais uma vez comprovo a sua veracidade. Como planeado comecei a ler o Memorial do Convento e nem tinha passado dos primeiros capítulos e já uma quantidade de aspectos me saltavam agora à vista. Claro que pode acontecer eu ser simplesmente lerda. Ainda não é desta que passo a achar este livro ruim (é sequer possível isso?) ou que o meu coração fica indiferente e frio perante o momento em que as nossas personagens se encontram. As releituras estão sempre ligadas ao crescimento de cada leitor. Numa altura certos detalhes podem parecer de pouca importância e passado um ano ou muitos aquilo que parecia irrelevante toca de uma maneira especial, ou o inverso. Crescemos e os nossos livros crescem connosco, digamos assim.
Enquanto lia não conseguia deixar de pensar no quão Blimunda se afasta do papel de submissão e de mera reprodução exigido às mulheres e o modo como isso faz um contraste tão forte com as cenas que abrem o livro. É difícil encontrar uma melhor descrição do que este país era (ou é?). Também como planeado comecei a ler Jane Eyre. Com este a situação é um pouco diferente pois a única vez que o li foi há muito tempo. Tem sido uma experiência. Não é possível não gostar de uma obra onde a personagem responde que para não ir parar ao inferno tem de ter boa saúde e não morrer (senso de humor não é uma coisa com que Charlotte pareça ter sido abençoada, mas algumas resposta da Jane são hilárias) ou que coloca os seus protagonistas a encontrarem-se numa situação inesperada com ele no chão e ela de pé a oferecer ajuda. Mesmo que defeitos existam. Já estou a planear qual dos meus bebés favoritos vou à estante buscar a seguir.