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Desabafos Agridoces

"Enfim, bonito e estranho, desconfio que bonito porque estranho"

Desabafos Agridoces

"Enfim, bonito e estranho, desconfio que bonito porque estranho"

2017 no feminino

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Foi um ano bem complicado, eu sei. Mas agora é tempo de apreciar algumas das coisas incríveis que as mulheres fizeram a nível colectivo e individual. Janeiro veio mostrar que a união faz a força: no dia 21 milhões de pessoas participaram na Marcha das Mulheres contra o novo presidente e a favor da igualdade de género, da justiça social e da tolerância. Mais de 600 marchas em todos os continentes. Uma ideia que partiu de um grupo de mulheres comuns e que se tornou um dos maiores protestos da história americana, o maior jamais feito num único dia. Aqui neste cantinho organizaram-se protestos em MaioNovembro contra a violência doméstica e a rape culture. A revista Time escolheu como pessoa do ano os Silence Breakers: um colectivo de pessoas, mulheres e homens, de diferentes cores e estatutos socioeconómicos  que denunciaram casos de assédio e abuso. O dicionário Merriam-Webster elegeu feminismo como palavra do ano: os casos de assédio e séries e filmes como The Handmaid’s Tale e Wonder Woman contribuíram para que a pesquisa pela palavra aumentasse 70% face a 2016.

 

Em Julho na Tunísia fez-se história ao serem aprovadas medidas para proteger as mulheres contra a violência doméstica e o abuso sexual. Acontecimentos que colocaram a desigualdade de género no centro da discussão e que passaram uma mensagem forte: não temos de ficar caladas não importa quem seja o opressor. A nossa selecção feminina de futebol deu o seu melhor e mostrou que se deve investir no desporto não só nos homens. No resto do mundo as mulheres enfrentam os preconceitos para praticarem o que gostam, seja boxe em Cabo-Verde ou esgrima no Afeganistão. 

 

Elas correm 800 metros grávidas com um top da Wonder Woman e a barriga à mostra e correm 7 horas de saia e sandálias. A Alemanha tem agora uma mulher a arbitrar jogos de futebol da liga principal. Na Austrália a senadora Larissa Waters tornou-se a primeira mulher a amamentar na sala do parlamento. Até ao ano passado isso era proibido e as mães tinham que sair da sala. Arranjam maneiras criativas de alimentar quem precisa e salvam meninas de redes de tráfico. Vão ao espaço, não importa a idade. Ganham prémios com filmes sobre outras mulheres que também desafiaram a sociedade. A militar Noémie Freire é a primeira mulher admitida no curso de submarinista da Marinha portuguesa. 

 

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Yusra Mardini vivia em Damasco e costumava representar o seu país em campeonatos de natação, mas com a guerra as coisas mudaram: tinha de treinar em piscinas com telhados esburacados por bombas e uma acabou por atingir a sua casa. Ela e a irmã tiveram que fugir para a Turquia onde apanharam um bote em direcção à Europa. A frágil embarcação só devia levar 7 pessoas, mas levava quase 20. Quando o motor parou e o bote começou a fundar Yusra, a irmã e mais 2 pessoa, as únicas que sabiam nadar, saltaram para as águas geladas do Egeu e durante mais de 3 horas puxaram o bote em segurança até terra. Yusra foi da Grécia até à Alemanha onde continuou a treinar. Em 2016 foi incluída na equipa de refugiados que competiu nos Jogos Olímpicos e este ano tornou-se a mais jovem embaixadora da boa vontade da história do ACNUR. “The most important thing in my life is swimming. Then speaking and doing things to help refugees”

 

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O facto de ter Síndrome de Down nunca impediu Collette Divitto de levar uma vida activa: formou-se na universidade, fez voluntariado, jogou golfe e na adolescência ganhou gosto por pastelaria. Mas quando tentou encontrar trabalho tudo o que ouviu foram nãos: "many people who interviewed me for jobs said I was really nice but not a good fit for them". Então com o apoio da família ela decidiu abrir o seu próprio negócio - a Collettey's Cookies, com uma receita criada por si. No início recebia pedidos para 100 bolachas por semana, mas depois que um canal de televisão divulgou a sua história os pedidos chegaram a 25.000 por todo o país, incluindo um da organização dos Óscares. Agora o seu objectivo é conseguir instalações que lhe permitam expandir o negócio e contratar pessoas com deficiência

 

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Na primeira classe Kheris Rogers era uma das únicas 4 crianças negras da turma e começou a sofrer bullying. Mesmo depois de se mudar para uma escola mais diversa o tom escuro da sua pele continuou a ser alvo de gozo e não era fácil para ela fazer amigos. Quando a sua irmã mais velha viu o quão triste Kheris estava, começou a postar fotos dela no Twitter com a hashtag FlexinInHerComplexion. O post tornou-se viral e inspirou Kheris a criar a sua própria linha de roupa infanto-juvenil usando a frase Flexin in my Complexion [algo como Força na minha Cor]  como nome de marca. Ela apresentou a sua colecção na semana da moda em Nova York e com apenas 11 anos tornou-se a estilista mais nova que já participou no evento. Tem mais de 55 mil seguidores no Instagram e pretende continuar a inspirar outras pessoas a amarem a sua pele

 

Conversas com a voz interior - III

[um dia qualquer, numa Fnac]

 

Eu: achas que têm aqui aquele livro?

Voz: como hei-de saber?

Eu: deviam ter umas cenas que desse para pesquisar o livro e saber se há e onde está...

Voz: e têm...chamam-se pessoas. Funcionários

Eu: Oh, mas não posso ir perguntar!

Voz: e porque não?

Eu: i'm too shy!

Voz...

Eu...

Voz: Devo lembrar a little miss shy, por exemplo, do tempo que andou a estudar jornalismo?

Eu: e não correu mal!

Voz: até que não. Uma vez esqueceste-te completamente do nome da pessoa enquanto falavas com ela...

Eu: acontece a todos...E houve outra coisa que  aprendemos no curso

Voz: Sim?

Eu: Que devemos ser desenrascados e pró-activos...Por isso vamos continuar a procurar!

Voz: céus...

Melhores leituras de 2017

Então, os melhores livros do ano. Já falei um pouco do assunto no post sobre coisas que aprendi ao ler autoras e agora que tenho aqui a folha com todos os títulos posso dizer que estou bem contentinha com o modo como as coisas correram. Lá acabei por conseguir ler mais escritoras pela (penso eu) primeira vez - agora confirma-se! Foi um ano literário de aprendizagem e com várias surpresas. Fazer um top é que para não variar foi um bocado difícil. Para este post não ficar gigantesco escolhi apenas quinze livros. Ficou na mesma, mas ok. Aguentem-se firmes:

 

1. A Guerra Não Tem Rosto de Mulher; Svetlana Aleksievitch

 

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Quase um milhão de mulheres soviéticas participaram na Segunda Guerra: quer na retaguarda, quer na frente de combate elas faziam de tudo: eram enfermeiras, atiradoras, pilotos, conduziam tanques, desactivavam minas, cozinhavam, lavavam, combatiam corpo a corpo. Muitas eram também meninas com dezasseis ou dezassete anos, até menos. Mas quando a guerra acabou o seu papel foi ignorado e esquecido. Svetlana passou anos a recolher testemunhos e o resultado é um verdadeiro monumento à bravura feminina. Um relato íntimo e cru mesclado de morte e inocência.  Absolutamente esmagador

 

2. Novas Cartas Portuguesas, Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta 

 

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Em Maio de 1971 as três Marias (três aranhas astuciosas) decidiram começar a escrever um livro a seis mãos partindo do romance epistolar "Cartas Portuguesas" (as cartas de amor endereçadas a um oficial francês por Mariana Alcoforado, enclausurada no convento de Beja) onde denunciavam fortemente a ditadura, a sociedade patriarcal e a opressão contra as mulheres. Um escândalo: o livro foi considerado imoral, houve julgamento e até mobilização internacional. E ainda continua actual. Um verdadeiro monumento feminista, histórico e literário

 

3. Men Explain Things to Me, Rebecca Solnit

Partindo de uma situação caricata, um homem que lhe tentou explicar um livro que ela própria tinha escrito, Rebecca fala de feminismo e das várias formas de violência contra as mulheres

 

4. O Deus das Pequenas Coisas, Arundhati Roy

"Que tudo começou realmente na época em que as Leis do Amor foram feitas. As leis que estipulavam quem devia ser amado, e como. E quanto."

 

5. North and South, Elizabeth Gaskell

Conhecido clássico de 1855 ambientado na revolução industrial. Enredo, personagens, escrita - é tudo tão bom. Margaret e John 

 

6. Bad Behaviour, Mary Gaitskill

Um provocativo conjunto de contos sobre solidão, abuso emocional, sexo pago, sadismo e mulheres a tentarem vencer na grande maçã

 

7. Incidents in the Life of a Slave Girl, Harriet Jacobs

 

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Harriet Ann Jacobs (1813-1897) nasceu escrava na Carolina do Norte. Aos doze anos foi vendida a um tipo que a assediava sexualmente e a humilhava de forma persistente, recusando-se por todos os meios a libertá-la. Então Harriet elaborou um plano arriscado: ficar escondida até conseguir escapar para o norte. Ficou anos escondida numa divisão insalubre, sem poder ver os filhos, até finalmente conseguir fugir de barco para Filadélfia. Além de ser um relato incrível de luta pela liberdade é também um dos raros testemunhos da escravatura no feminino

 

8. Beloved, Toni Morrison

A história de uma mulher que tinha uma árvore nas costas, da sua filha e de um fantasma

 

9. O Despertar, Kate Chopin

O "despertar" de Edna Pontellier uma jovem mulher que decide romper com as conveniências sociais e com o papel tradicional reservado às mulheres e abraçar a independência e a realização sexual

 

10. A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, Martha Batalha

Eurídice Gusmão podia ter sido muitas coisas na vida. Mas não lhe permitiram ser mais que uma dona de casa - educada para ser propriedade masculina no recato do lar, sem hipóteses de se realizar. Como tantas mulheres neste mundo. Invisíveis

 

11. O Clube da Sorte e da Alegria, Amy Tan

Um livro lindíssimo onde a autora analisa a relação entre quatro mulheres vindas da China para São Francisco e as suas filhas já nascidas na América

 

12. Passing, Nella Larsen

Tudo na vida de Irene Redfield parecia estar seguro...Até aparecer Clare. Uma mulher enigmática com feitio de gata que consegue fazer-se passar por branca e que não se importa com o perigo. Uma novela cheia de areias movediças 

 

13. Wild: From Lost to Found on the Pacific Crest Trail, Cheryl Strayed

Uma mulher, uma mochila demasiado carregada, um longo caminho, nada a perder

 

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14. The Girl Who Circumnavigated Fairyland in a Ship of Her Own Making, Catherynne M. Valente

O conteúdo é mesmo tão bom quanto o título: a maravilhosa história de como uma menina chamada Setembro viajou até à terra das fadas montada num leopardo e das muitas aventuras que viveu lá

 

15. Fábrica de Oficiais, Hans Hellmut Kirst

A história de um misterioso crime ocorrido numa escola para oficiais alemães em 1944, do tenente incumbido de descobrir a verdade e das consequências que isso teve. Excelente sátira, especialmente para quem tem interesse nestes temas

 

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Quem Escreve Aqui

Feminista * plus size * comenta uma variedade de assuntos e acha que tem gracinha * interesse particular em livros, História, doces e recentemente em filmes * talento: saber muitas músicas da Taylor Swift de cor * alergia ao pó e a fascistas * Blogger há mais de uma década * às vezes usa vernáculo * toda a gente é bem-vinda, menos se vierem aqui promover ódio e insultar, esses comentários serão eliminados * obrigada pela visita!

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