Entretanto apercebi-me que já não compro livros há imenso tempo. É verdade. Este ano ainda não comprei nenhum. Não é por ter uns 40 em lista de espera...Os meus hábitos de compra são tão sem planeamento como os meus hábitos de leitura. Depende do apetite e do que aparece - às vezes depende de estar no dia certo no lugar certo. Dá para planear quando só se compram livros novos, mas eu raramente compro desses. Também não ligo muito a promoções a menos que sejam de 50% e depende dos livros. Outro dia estive numa livraria com alguns a metade do preço, mas não trouxe nada. Em compensação comprei uns sapatinhos! Em que tipo de pessoa me estou a transformar...Além disso decidi que só vou comprar autoras: vou tentar isso na FL. Vai ser desafiante.
Normalmente os leitores gostam de exibir as suas estantes: postando fotos ou colocando-as num lugar à vista de convidados em casa talvez até mesmo passando os livros mais feios para baixo. Não há mal nisto, a menos que o objectivo seja apenas a exibição e mais nada. Comprar livros para enfeitar sem os ler é muito deprimente. Mas quando se pensa bem: uma estante é uma coisa realmente íntima. Se olhar agora para a minha posso ver os livros que li quando era pequena, os que li quando era moça, o primeiro que sublinhei, os que foram relidos, os que foram lidos de seguida e aquele osso duro que levou meses e que está cheio de notinhas. Aquele especial que um dia simplesmente apareceu em casa sem que eu saiba como e o que caiu de uma varanda abaixo. Os que ainda devem ter areia. Os que andaram aos tombos dentro de malas. Os que foram novos mas já estão a ficar velhinhos. Onde foram comprados ou lidos: tempos, lugares, momentos de languidez ou de stress. Pessoas também. A nossa estante como um registo da nossa vida. É uma coisa bonita de se pensar.
Vocês a achar que esta que vos escreve não celebra o dia 14...Mas claro que sim! Mas não com jantares em que se paga muito por quase nenhuma comida, nem com o visionamento de filmes que dizem que um tipo pode abusar à vontade de uma mulher desde que seja rico e bem parecido, nem com pedidos de casamento. Honestamente, não casaria com alguém que achasse boa ideia fazer o pedido em tal dia. Quão aborrecida uma pessoa tem de ser? E aqueles pedidos em público? Que medo. A minha ideia de amor verdadeiro: fui buscar livros à estante, li passagens ao acaso, dei-lhes abracinhos...Acabei com duas pilhas em cima da secretária. Como já fiz um post sobre casais da literatura desta vez escolhi outra instituição cara a tantos leitores: a primeiríssima vez que as nossas personagens se encontram:
Possivelmente o encontro menos promissor de sempre
(Pride and Prejudice - Jane Austen)
Winterbourne encontra Daisy
(Daisy Miller - Henry James)
Alex encontra Tatiana na paragem do autocarro
(The Bronze Horseman - Paullina Simons)
Jane não se assusta com testas franzidas e ares rudes
Uma notícia que tinha de ser assinalada: faleceu ontem aos 105 anos Manuela de Azevedo, a primeira jornalista mulher a ter carteira profissional em Portugal e que era também a mais antiga repórter do mundo! Nascida a 31 de Agosto de 1911, em Lisboa, trabalhou em jornais como o Século, o República e o Diário de Notícias. Em 1930 quando entrou para o República quiserem criar uma secção especial só para ela - a Tribuna da Mulher. Recusou logo: "era só o que faltava, nem tribunas de homens nem de mulheres, ali havia jornalistas". Em 1946 disfarçou-se de criada para conseguir chegar ao rei Humberto II de Itália que estava exilado em Sintra. Uma das muitas personalidades que entrevistou. Durante uma conferência da NATO perguntou "se eles conheciam a democracia orgânica com que Salazar pretendia fugir à definição da palavra democracia" - uma peça de teatro sua e um artigo sobre a eutanásia foram censurados pelo regime. Também escreveu romances, ensaios e poesia e fundou uma casa dedicada a Camões em Constância. Em 2010 foi lançada esta biografia - gostei muito e recomendo a quem quiser conhecer a história tão rica desta mulher."O jornalismo não é só aquele que diz que morreram tantas pessoas num desastre. O jornalismo é o defensor da objectividade, de focos, de problemas sociais."
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Avisos
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