Gosto daquelas fotos onde as bloggers mostram o que levam na mala. É um pouco como olhar para as estantes, dá para saber indirectamente coisas sobre a pessoa. Mas ao mesmo tempo é deprimente pensar que a minha mala não tem qualidade suficiente para ser mostrada. O termo mala é exagerado: aquilo é um saco preto com uma caveira na frente. O fecho também é em formato de caveirinha - achei um amor na altura em que comprei. Está cheia de lenços, papéis inúteis, pastilhas amassadas...Às vezes tiro de lá coisas aleatórias tipo uma tesoura de papel ou paus de canela. Numa das últimas vezes que fui à praia atirei para lá umas conchas que apanhei. Ou seja aquilo é mais uma lixeira onde nunca encontro à primeira o que preciso. No entanto gosto dela. Combina com o tipo de pessoa que ainda apanha conchas na praia. Há bocado li um comentário de uma moça de 23 anos preocupada por ainda não ter filhos. Fiquei ainda mais deprimida. Depois fui conferir as primeiras imagens dos Guardiões da Galáxia 2 e passou-me. Quem está ansioso ponha os braços no ar
Vamos lá ver: uma coisa é os livros serem caros. Outra é não se ler por causa disso. Vejo muitas vezes esta última frase e acho que há aqui alguma confusão. É claro que são caros - séries de cinco volumes divididas em dez ou coisas acima dos 25 euros é deprimente. Mas a verdade é que se consegue continuar a ler mesmo com estes preços. Podemos comprar em promoções, ir à FL e aproveitar a hora H ou escolher entre a variedade de livros que há a menos de 10 euros (e mesmo abaixo de 5), trocar os que já não queremos por novos, requisitar na biblioteca do sítio...Se são as últimas novidades que anda meio mundo a falar? Talvez não. Mas são livros pelo menos. Eu também queria ir à Fnac e comprar: a Guerra e Paz, a Odisseia, O Middlemarch, a colecção toda do Lovecraft...E vocês não me vêem queixar que não posso. Por acaso vêem e com muita frequência, mas adiante...Quando cheguei à conclusão que não era viável estar sempre a comprar livros de 15 euros pensei que ia ser mais difícil.
Agora dou por mim a fugir de livros a preços gostosos para os quais pareço ser sempre atraída - já mostrei aqui uns lindos que comprei em Agosto último. Quando fizeram alterações à lei do preço fixo o pessoal panicou como se essa lei já não existisse e fosse fazer com que os livros ficassem mais caros (não notei tal), mas a verdade é que não vamos falecer por não ler aquele livro. Também quem só lê um por ano não se importa se o preço sobe ou desce. Dizer que o preço é o principal ou o único culpado por não se ler é o mesmo que dizer que os miúdos não gostam de ler por causa dos livros obrigatórios: não me parece que o Cesário tenha culpa se miúdos com 16 ou 17 anos nunca leram um livro na vida. Não gostar de ler é um problema basilar da sociedade - há não muitos anos trás tínhamos uma taxa de analfabetismo monstra. Mais que achar aborrecidos, muita gente não vê utilidade nos livros. Se sou talhante ou engenheira...A literatura não serve para nada.
Como acham que eles não têm utilidade (Infelizmente a inclinação na sociedade actual é secundarizar as humanidades e as artes), também não se preocupam em adquiri-los (ou em arranjar alternativas para os adquirir) ou em colocá-los à disposição dos rebentos. Não vêem os benefícios que podem ter. Vocês podem dizer que não vão a museus porque são caros. Certo, mas alguns ao Domingo de manhã são grátis. Podemos dissecar o preço dos livros ou se as bibliotecas são bem ou mal geridas...Mas parece que em primeiro lugar temos um problema de mentalidade.
Aborrecem-me livros com boas ideias, mas que não dão em nada porque o autor naufragou no abismo que separa a teoria da prática. Ultimamente tenho encontrado alguns assim. Um thriller que achei que ia ser melhor e nem vamos falar de um certo lar para crianças peculiares. Mas o sol brilha e The Crying of Lot 49 existe: uma mulher, Oedipa Maas, vê-se metida numa estranha trama que envolve associações secretas de entrega de correio, bandas de rock, códigos escondidos e LSD. Parece caótico e é mesmo - genialmente caótico. A obra do autor está publicada cá por isso quando me perguntarem que livro quero receber de presente vou responder o Arco-íris da Gravidade: não importa que tenha um esgotamento a meio da leitura. Acabei os Versículos Satânicos (Gostei muito e recomendo), li uns contos do Kafka (quase chorei de tão bons. Não é vergonha dizer isto quando se trata do K.), A Revolução dos Bichos (já não morro ignorante) e uma coisa chamada a Invenção De Morel que começa desta maneira linda: Hoje, nesta ilha, aconteceu um milagre. Com as autoras é que ando desleixada...
Feminista * plus size * comenta uma variedade de assuntos e acha que tem gracinha * interesse particular em livros, História, doces e recentemente em filmes * talento: saber muitas músicas da Taylor Swift de cor * alergia ao pó e a fascistas * Blogger há mais de uma década * às vezes usa vernáculo * toda a gente é bem-vinda, menos se vierem aqui promover ódio e insultar, esses comentários serão eliminados * obrigada pela visita!
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