É engraçado o número de escritoras que achamos que são homens - até que vamos ao Google ou até a autora falecer e aparecerem nas notícias fotos e dados biográficos. Se eu fosse escritora também iria assinar os meus livros com iniciais, só para ser troll...P. D. James? Nunca ouvi falar desse autor. Ayn Rand? Arundhati Roy? A .S. byatt? Há dias encontrei um comentário de alguém que dizia estar muito desapontado porque esperava que Elena Ferrante fosse um homem. Não explicava porquê...Não é para admirar. É isto que nos ensinam: que só eles é que vão à guerra, dirigem empresas, escrevem bons livros...Os seus nomes são dados a prémios, biografias são escritas, filmes são feitos a um ponto em que acabamos a ter dois filmes sobre cientistas masculinos num mesmo ano e numa mesma lista de premiação. As suas vidas dão épicos de jornalismo e espionagem! Já elas não têm nada a dizer sobre nada. As suas vidas não têm interesse - ideia passada por inúmeros historiadores e arqueólogos e que continuamos a aceitar como se fosse verdade. Pior ainda, achamos que elas devem estar caladas: não é um horror quando mulheres se juntam para falar de partos? Recentemente li um livro muito bom (Filhos do Inverno, Dea Trier Mørch) passado numa maternidade. Conta a história de um grupo de mulheres desde que entram lá até darem à luz. Apesar de ser um livro dos anos 70, tem reflexões bem actuais: fala da importância das mulheres partilharem a sua experiência sobre este momento tão marcante e de como elas têm todo o direito a isso. A mera ideia de alguém achar que a nossa história como género é menos importante ou menos digna devia provocar repúdio.
No post anterior falei de como é bom encontrar pérolas literárias e tal...Dois dos últimos livros que li: O País de Outubro de Ray Bradbury: colectânea de contos de terror tão boa que é difícil descrever em palavras. Recomendo deveras. Bem apropriada para esta altura. Por acaso ainda não vi os posts do costume sobre o dia das bruxas. As pessoas ainda não perceberem que: Halloween e dia de Todos os Santos são uma e a mesma coisa; o Halloween é mais antigo; não foi inventado na América. Parece que é preciso fazer um post sobre isto todos os anos. O outro livro foi A Peregrinação do Rapaz Sem Cor do Murakami - não é muito bom. Nem tudo são rosas na vida de um leitor como se vê. A história é um bocado negra e não tem gatos. Tsukuru Tazaki é um loser patético. Quer dizer todos os protagonistas do Murakami são um bocado assim, mas este é pior. Os momentos eróticos estão a ficar demasiado kinky e essa visão tipicamente masculina (expressão diplomática) está a tornar-se irritante. Entretanto já tenho aqui a Alice (Munro), a Virginia e a Agatha: está na hora de voltar às senhoras.
Quando constato que um livro é realmente bom passado dias ou mesmo semanas de o ter acabado. São tantas coisas que podem passar despercebidas numa primeira leitura: podia fazer uma lista de todas as coisas novas que descobri no Memorial do Convento nesta terceira vez. Acontece-me pensar no livro quando estou a dar banho ou a descascar batatas (esse tipo de actividades especialmente filosóficas) e reparar em pormenores que me escaparam. Ou quando estou a escrever sobre o livro no meu caderninho. Outro dia estava a escrever e duas páginas depois tive que fazer uma pausa para apreciar o facto inequívoco que ali estava uma pérola. Claro que achei o livro bom quando estava a ler, mas estruturar as ideias no papel e divagar sobre elas (por economia de tempo e dinheiro agora ando a tentar não gastar mais de três ou quatro páginas por livro) fez aumentar essa percepção e fiquei feliz.
Feminista * plus size * comenta uma variedade de assuntos e acha que tem gracinha * interesse particular em livros, História, doces e recentemente em filmes * talento: saber muitas músicas da Taylor Swift de cor * alergia ao pó e a fascistas * Blogger há mais de uma década * às vezes usa vernáculo * toda a gente é bem-vinda, menos se vierem aqui promover ódio e insultar, esses comentários serão eliminados * obrigada pela visita!
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