Uma subtil opressão...
Encontro muitas vezes comentários deste tipo: "OMG, hoje em dia só se fala de raça"; "mas agora é tudo sexista", "esta coisa dos refugiados já mete nojo". Eu poderia classificar estes comentários como parvos, mas o facto é que estamos perante uma forma de opressão subtil - "a minha condição social, género ou cor dão-me o privilégio de não ter de me preocupar com o assunto e até de ficar irritado (a) com isso". Ou então: "o teu conceito de igualdade ofende a minha ideia de superioridade masculina por isso vamos a calar o bico". Como vocês sabem, há pessoas que realmente odeiam a ideia de todos terem os mesmos direitos. Há quem tente desviar todo e qualquer assunto para a sua própria pessoa: "ok, este debate sobre igualdade nos cargos políticos está a ser interessante e como tal gostaria de introduzir o seguinte tópico: o quão bom tipo eu considero que sou ".
E há quem tente desviar o assunto para mimimis sem importância: "feminismo não é uma boa palavra, devia dizer-se [inserir nome aleatório, por exemplo Gomes] ou: "aquele movimento na América, não gosto nada porque acho que todas as vidas importam". Certo...É claro. Mas não são todas as vidas que estão a ir desta para melhor em plena rua com dez balázios. Também não foram todas as vidas que tiveram de se disfarçar para conseguir entrar numa faculdade, ou que precisavam de autorização para sair do país ou que não podiam dispor do seu próprio dinheiro. Factos. É deprimente que uma pessoa tenha de perder tanto tempo a debater semântica, quando há questões muito mais relevantes. Outra forma de opressão subtil é tentar diminuir o sofrimento dos outros: "não entendo qual é o problema de viver num campo de refugiados, pelo menos ali não caem bombas não é? Eu estaria satisfeito (a)". Quão agarrada ao seu próprio privilégio uma pessoa tem de estar para achar que viver numa tenda no meio da lama, sem nada, sem futuro por meses ou anos é aceitável para qualquer ser humano?
"OMG, porque é que estas pessoas estão a fazer caos nas ruas, vão para casa como bons cidadãos!" Não basta minimizar o sofrimentos de outros como ainda lhes atiram a culpa para cima - como se a sua raiva não fosse justificada face a situações sociais injustas. Vejo isto muitas vezes: "isto não é sexista, o problema é vocês serem umas irritadinhas que mereciam [inserir aqui imagem obscena]. Tentar argumentar com alguém que acha que o problema não existe é o mesmo que tentar argumentar com o chapeleiro louco da Alice: vocês podem apontar inúmeros exemplos de como o problema existe mas a pessoa vai continuar a perguntar se querem mais chá. Não vale a pena.