Filme - The Revenant: O Renascido
Estava moderadamente interessada em ver este filme: queria ver o Brooklyn com a Saoirse Ronan que me pareceu lindo pelo trailer. Mas depois vi que este tinha uma mega pontuação no imdb (8.3) e nomeações para os Óscares e pensei que não seria recursos em vão. É baseado num romance de Michael Punke que por sua vez é baseado na vida real de Hugh Glass (1783 – 1833), explorador e comerciante de peles que em 1823 durante uma campanha no oeste americano é atacado por um urso. É deixado para trás com dois companheiros (no filme Tom Hardy e Will Poulter) que supostamente deviam cuidar dele mas que também acabam por dar às de Vila-Diogo. Glass, segundo o registos, arrastou-se 200 milhas pela floresta sem armas nem suprimentos. E com a vingança em mente. É difícil dar detalhes sem cair em spoilers, embora a história seja famosa e esteja na Wikipédia. O que achei é que este filme é tipo uma concha: bonita, mas vazia por dentro.
A parte fotográfica e artística é de encher o olho. As paisagens são lindas e estão filmadas com técnica, usando a luz natural dos lugares - as filmagens foram feitas em três países diferentes. Há detalhes da água a correr, das formiguinhas, planos das árvores...Para termos a certeza que o protagonista está mesmo no fim do mundo e sozinho. Um sentimento bem conseguido, especialmente nas cenas em que ele é apenas um pontinho num campo aberto enorme. Nota-se o investimento para não recorrer apenas ao computador. As prestações também são boas. Não é que o Leo diga muita coisa já que a sua função é sobreviver (e bem) na neve, mas temos o Tom a mandar umas larachas profundas sobre encontrar Deus com um sotaque do Texas...Adorável. O filme beneficia muito com estas performances, especialmente quando tem tantos problemas a nível de tudo o que não seja a parte estética.
A narrativa estabelece-se no início e depois não se desenvolve mais. Não há plot twists ou reviravoltas: é sempre a mesma coisa. E é tão linear que nem o filme vai a meio e já conseguimos prever o que vai acontecer a seguir. Há uns flashbacks para tentar dar profundidade, mas que ao fim de um tempo também deixam de ter interesse. Não há desenvolvimento das personagens: quem é bom, mau...Fica logo visível. Esta previsibilidade leva a outro problema: não há conexão sentimental do espectador em relação ao que está a ver. Também acontece com os livros: quantas personagens não vão desta para melhor sem que o leitor sequer pense um segundo nelas. Num filme deste tipo (que tem a intenção de ser visceral e cru) e em que a maior parte das cenas estão focadas numa única personagem, o espectador têm de ficar com o coração nas mãos. Tem de ficar perturbado e sentir-se minúsculo no assento. No início isto acontece um pouco mas depois é apenas um bocejo.
Especialmente porque filme é a modos que absurdamente grande: quase passa as duas horas e meia de duração. O final também não é aquele bang que seria preciso para rematar. Estava a contar conseguir extrair mais sumo: qualquer coisa passível de análise. Ok, é uma história de sobrevivência, interessante claro, mas...Também não é como se estes temas (sobrevivência\vingança) fossem temas novos no cinema. No geral acaba por ser mais visceral do ponto de vista estético, do que propriamente psicológico. Algumas cenas são bem conseguidas (há uma envolvendo um cavalo que tem um certo simbolismo) e é visualmente apelativo mas o resto não acompanha o que torna a experiência não tão prazerosa quanto as várias possibilidades deixavam antever...Too much ado about (almost) nothing.