Livros Amor Maldade
Aquele momento em que estou às gargalhadas por causa de um livro e me lembro que aquilo era suposto ser um drama e portanto não era suposto rir...E que drama! Eis algumas coisas que acontecem: uma violação, um incêndio, um triângulo amoroso, um suicídio, uma personagem desaparece, outra vai presa, outra tem uma deficiência...Uma verdadeira novela mexicana. Alguém diz não me deixes eu am...e antes de acabar a frase já me estou a rir. Aliás é por isso que não vou ao cinema ver dramas românticos: não quero chatear ninguém com a minha aparente falta de sensibilidade para com as cenas do ecrã. Também sei que algumas pessoas ficam chateadas quando se diz que os romances românticos não prestam, mas não me lixem: algumas coisas são mesmo ridículas...Como aquela notícia: indivíduo compra noventa iphones para pedir a namorada em casamento. Ainda nem tinha chegado à parte em que ela diz que não e já me estava a rir por dentro - estes pedidos de noivado públicos são um fartote. Então, não acho que seja esta a sensação que a autora pretendia provocar. Mas não estou a odiar nem nada...Há qualquer coisa de reconfortante no desenrolar dos episódios que me faz ficar com pena de acabar. Não sou totalmente desprovida de sentimentos, mas essas estórias tipo telegrama que agora se vê: Jen e Micheal vêem-se stop beijam-se debaixo de uma árvore stop cai uma pinha na cabeça de Jen stop em coma stop. A sério...
Há dias estive a reler a Daisy Miller. Demorei algum tempo a perceber que o Winterbourne estava errado quando pensa que a Daisy não quer saber dele - ela só não fala directamente. Quando estava a ler a Anna Karenina também achei difícil perceber algumas acções das personagens. Amo estes dois livros em parte por causa disso. Claro que a paciência em geral é cada vez menos: é preciso rotular as coisas e os outros o mais depressa possível e quem é quer ler uma página sobre os olhos ou lábios de uma personagem? Acho que muita gente fechando os olhos não conseguiria recordar todos os traços da pessoa com que vive talvez há cinco, oito anos...E não parece que hoje se escrevem livros longuíssimos e séries infinitas? Não desgosto, mas também aprecio a contenção – é mais difícil. Uma das minhas declarações de amor preferidas tem uma linha. Parece que a maior parte das estórias de amor que se escrevem são esquecíveis o que é pena....Se não toca qual é o valor? Só para marcar nas estatísticas? E já agora qual é o problema de criar uma personagem que não namora com ninguém, não quer nem tem interesse em fazer sexo a toda a hora? que apenas exista por si? A julgar pelos livros que se publicam as pessoas devem andar carentes, ou então estamos cada vez mais cheios de neuroses. O futuro é cada vez menos amor e cada vez mais Prozac: sorria caro leitor! E não se esqueça de publicar a foto a seguir.