Filme: The Age of Adaline
Nunca se deve perguntar a idade a uma senhora. Esta regra de etiqueta que vem desde os tempos imemoriais aplica-se que nem uma luva á personagem deste filme: Adaline Bowman não parecia destinada a ser mais que uma mulher comum no esplendor do início do século com as suas tragédias e glórias pessoais que o tempo se encarregaria de desvanecer até que um dia em 1937 sofre um grave acidente - depois disso descobre que deixou de envelhecer e que ficará eternamente presa nos vinte e nove anos. Mas o que parece ser uma bênção, juventude eterna, cedo se transforma numa maldição que acaba por a levar a uma existência solitária e sem laços durante décadas...Mas todos precisam de amor e quando um jovem carismático entra na sua vida e lhe desperta novamente o coração, Adeline percebe que terá de tomar algumas decisões difíceis.
O tempo é um daqueles assuntos que sempre fascinam os seres humanos talvez pelo seu carácter complexo e inexorável, por isso quando vi o trailer achei que era capaz de ser interessante além de ter uma personagem feminina como principal. E é uma boa ideia de base de facto...O problema é não passar disso mesmo: um verdadeiro festival de oportunidades perdidas. Até que não começa mal: Adaline passa de repente a ser um espécime muito especial e ganha consciência do perigo que isso representa deixando o espectador curioso pelo que vai suceder a seguir - há tensão, drama e também uma ligação ao passado histórico que fez o meu coração dar um pulinho de contente, pois claro: as máquinas de escrever, aqueles carros ridículos...Gente, aqueles vestidos. Por exemplo, há uma cena inicial em que ela põem a correr fitas que mostram a construção da Golden Gate nos anos trinta...Achei tocante. Por ironia Adaline deixa de ter futuro para passar a ter só passado. Ela vive entre memórias de coisas que não voltam - modas, assassinatos, invenções, presidentes - como se fosse uma espécie de guardiã do tempo involuntária. É um grande peso, mas tem qualquer coisa de fascinante. Pelo meio também há boas referências literárias. Só que depois as coisas começam a descambar...
Como disse lá em cima a premissa é interessante e passível de ser apresentada sob vários ângulos: científico claro, mas sobretudo moral - O que acontecia se de facto ninguém envelhecesse? Os humanos adoram sonhar com coisas destas: viver para sempre, ter asas...Claro que tudo tem um lado negro. Imaginem sermos nós a controlar o tempo e não ele a nós. Não sei se conseguiríamos viver com tal anormalidade...Porque no fundo não fomos programados assim não é? E não é o nunca envelhecer o desejo eterno de todas as mulheres - como é que uma mulher lidaria efectivamente com a não mudança? Nada, no entanto, é realmente aprofundado nem o espectador é alguma vez questionado. Ou seja, o que podia ser uma boa estória descamba num drama á lá Nicholas Sparks que gira em torno dos mesmo clichés de sempre: eu gosto de uma pessoa, mas tenho um segredo e agora. Por exemplo há uma cena que Adeline diz que não adianta ter uma relação com alguém se ela não pode envelhecer ao lado dessa pessoa - achei interessante, mas não achei mais nada mais porque a cena é logo cortada...Especialmente na segunda parte deixa de haver a conexão com a História que se viu antes: ela não envelhece, mas o problema podia ser outro que não fazia diferença. Torna-se desnecessariamente aborrecido e previsível.
Depois há partes que são explicadas a correr não sei porquê e tudo culmina num fim igualmente preguiçoso onde nada parece bater com nada. A Blake Lively é linda, isso é algo que não pode ser negado - ela deve ficar deslumbrante até com um saco de serapilheira metido. Não achei que ela estivesse mal de resto, mas a verdade é que no geral não há ali ninguém que segure realmente na narrativa (não sei como é que o Harrison Ford veio cair nesta estória, mas registo isso como um ponto positivo)...Tudo muito meh. Em termos estéticos é bastante apelativo com vistas de São Francisco e o guarda roupa é maravilhoso sem falar naqueles penteados. Também registo como ponto de positivo esta atenção aos detalhes...De facto é um filme muito bonito com toques de classe adoráveis e uma ou outra parte bem conseguida especialmente no início, mas é pena que não vá além de uma estoriazinha pois tinha potencial para mais.