Ilustres desconhecidas - II
A personagem de hoje foi uma sugestão do Tiago do blog Zanadu...E que sugestão! - Alfonsina Morini Strada nascida a 16 de Março de 1891 na localidade de Castelfranco Emilia - foi a primeira e única mulher a correr uma grande volta do ciclismo. Aprendeu a andar aos 10 anos quando o pai arranjou uma bicicleta velha em segunda mão e aos 13 já ganhava a sua primeira corrida. A família, camponesa e tradicional, não gostou e até os vizinhos achavam que ela estava possuída pelo diabo. Aos 16 foi sozinha para Turim para competir a sério e dois anos mais tarde participou no Grande Prémio de São Petersburgo onde recebeu uma medalha das mãos do Czar Nicolau II. Em 1911 quebrou o recorde de velocidade feminino definido seis anos antes: 37,192 kph (e que bateria de novo em 1938: 35,28 kph) e chega a Milão onde consegue contratos para correr em pistas e velódromos incluindo alguns em Paris. O seu jeito de correr considerado desapropriado e imoral para uma mulher causa escândalo por isso a família fica contente quando ela decide casar-se com um mecânico chamado Luigi Strada. Mas ele, que era igualmente apaixonado por ciclismo, não tenta impedi-la: dá-lhe como prenda de casamento uma bicicleta nova e passa a ser o seu treinador. Em 1917 e 1918 participou no Giro da Lombardia, prova de estrada de um dia feita anualmente, mas a maior ousadia viria em 1924 quando participou na 12ª edição da volta a Itália.
As pessoas reunidas no dia dez de Maio desse ano para verem o início da corrida devem ter ficado perplexas quando perceberam que o corredor nº 72 era uma mulher - de calções pretos, pernocas ali ao léu, no meio dos outros corredores. O percurso tinha 12 etapas: saindo de Milão descendo para Roma e Nápoles - Alfonsina provou o seu valor ao deixar vários concorrentes para trás e terminando a 3ª etapa a 45 minutos do primeiro classificado - chegando ao fundo da bota e começando a subir até Bolonha - as estradas não eram pavimentadas e estavam cheias de pedras e gelo. Ela cai, levanta-se e torna a cair. Na 8ª etapa começa a chover. O guiador da bicicleta parte-se e ela acaba por ser desclassificada por chegar fora do tempo. Mas decide prosseguir - entretanto a sua fama tinha-se espalhado e já ninguém quer arredar pé até vê-la passar. No dia 1 de Junho, 3610 km e muito esforço depois, ela é um dos 30 corredores (dos 90 iniciais) a chegar ao fim e é aplaudida efusivamente pelo público. Tinha acabado de provar que uma mulher se pode bater igual para igual com os homens mesmo nas provas mais duras - no total da carreira ela ganhou 36 corridas contra ciclistas masculinos. Embora não tenha mais participado no giro, ela contínuo a pedalar - em 1956 ganhou a sua última corrida. No ano seguinte comprou uma mota Guzzi V8 vermelha que conduziu ruas fora até ao seu falecimento em 59.