Sobre não ver televisão
Enquanto estava a ver os Óscares - vi duas horas - lembrei-me por acaso que aquela era a primeira vez em bastante tempo que ligava a TV, tipo em meses...Não foi com a intenção de virar hipster ou assim simplesmente comecei só a ver os programas que me despertavam curiosidade e depois quando perdi o interesse neles deixei de ligar a caixa. As coisas que vejo são basicamente notícias e não na TV do quarto. Creio que consegui eliminar em definitivo o zapping...De facto, o computador satisfaz as minhas necessidades de entretimento e informação e tenho uma lista ridiculamente grande de livros por ler. A blogosfera vai-me sempre mantendo informada do que passa de interessante, por exemplo, acabei de ler um post sobre o festival da canção e eu nem sabia que ainda participávamos nessa coisa. Não foi tão difícil quanto pensava largar o hábito...talvez porque o objectivo não era tornar-me uma eremita - um meio tomou o lugar do outro - mas também porque as coisas já não são o que eram e neste caso não estou a falar da qualidade ou da falta dela. É que quando eu era pequena as pessoas ainda se juntavam em redor da televisão - era a coisa e não uma das coisas apenas - a discutir o que estavam a ver ou a vibrar com os jogos sem fronteiras. Puxa, as pessoas realmente viviam com intensidade esse momento em frente ao ecrã...Não é como agora ficar a vaguear por trezentos canais tipo zombie, quando mais se tem parece que pior é. Ainda gosto de ver programas de cultura geral acompanhada, por exemplo, infelizmente como não conseguem vencer a telenovela então acabo por não ver de todo. Outra coisa que se perdeu: lutar pelo comando da televisão.
E que lutas aguerridas eram! Então em miúdos...Hoje em dia o pessoal não precisa de partilhar a sua opinião á mesa de jantar pois tem uma imensidão de redes, como esta, onde divagar sobre como acabavam com o estado islâmico se fossem eles a mandar. Resolvemos todos os problemas do mundo enquanto teclamos. Acho que o acto de ver televisão perdeu a alguma da sua mística....E nós também estamos cada vez mais a perder a paciência para ela. Estamos a ficar com o raciocínio ao nível de um bebé que é incapaz de seleccionar os estímulos e tenta agarrar tudo - incapazes de concentração e pressionados a todo o momento para revelar coisas de níveis diversos de intimidade. É um pouco aquilo que disse há uns posts atrás sobre as pessoas já não terem paciência para obras contemplativas ou com muita descrição...Ficar parada em frente ao pequeno ecrã sem fazer mais nada é bem difícil. Também noto que o silêncio já teve maior importância - nunca como agora tivemos tantas opções para afogar os nossos pensamentos inquietantes, embora como pessoa que repassa os mesmos erros vezes sem conta não possa condenar totalmente isto. No fundo limitei-me a eliminar mais um estímulo e constato que até nem me faz assim tanta falta...Quando falo disto o pessoal tende a olhar meio de lado - deves ver montes de TV por dia! Nop. A net é outra estória se bem que não me considero um caso extremo - não do tipo ficar sem facebook cinco minutos e ligar para o número das urgências. Ao que chegámos...