O cor de rosa e o azul
Para além das fotos do post anterior também encontrei nas minhas navegações tardias outra coisa que achei que merecia comentário. Esta notícia: Obama Destroys Toy Gender Stereotypes. Basicamente o Obama e a Michelle foram distribuir presentes no âmbito de um programa que eles têm lá. Pelo vídeo que podem conferir no link acima parece ser uma espécie de pavilhão e há dois contentores: um para brinquedos de menina e outro para brinquedos de menino. É então que o Presidente decide espantar toda a gente presente ali colocando brinquedos como caixas de legos e jogos de ciência no recipiente das garotas - "I’m just trying to break down these gender stereotypes". Independentemente de tudo o resto, quão adorável é esta atitude? Porque a verdade é esta - passear pelos corredores de brinquedos dos supermercados e lojas especializadas é uma experiencia antropológica um tanto ou quanto inquietante. Lembram-se da família ideal Salazarista que vinha nos livros da escola? A mãe está em casa a cozinhar com dois filhos pequenos e marido vem a entrar vindo do trabalho...Ora, hoje em dia ninguém diria que esse é o modelo ideal, ou pelo menos o único modelo possível.
Porém, continuamos a achar normalíssimo que os brinquedos das crianças estejam divididos segundo esse modelo - carros de bombeiros, de polícia e coisas para construir para os rapazes e tábuas de engomar, cozinhas e bebés com berços para as raparigas. Homens fortes e trabalhadores no exterior, mulheres meigas e sensíveis no interior. Começa-se logo cedo a definir que características são aceitáveis para cada sexo. Com sorte encontram um corredor com brinquedos unissexo como puzzles, mas por vezes estes também aparecem na zona dos meninos. Alguém que com certeza acha que as meninas não precisam de desenvolver a imaginação ou a criatividade. E tem razão: contando que a menina se saiba vestir e arranjar tudo o resto se torna desnecessário - "com essa carinha não precisas de perder tempo a estudar".
“Some girls like superheroes, some girls like princesses!
Some boys like superheroes, some boys like princesses!
So why do all the girls have to buy pink stuff and all the
boys have to buy different-colored stuff"
Há uns tempos também vi uma notícia interessante no Blogtailors: uma editora inglesa de livros infantis decidiu deixar de identificar os seus livros como sendo para meninas ou para meninos. Eu fiquei tipo wtf? Como é que ainda se faz isso em pleno século XXI? Sempre achei que os livros, tirando aquelas omnipresentes colectâneas cor de rosa, eram a única coisa que ainda conseguia escapar a esta estereotipização massiva. Claro que havia pessoas nos comentários a dizer que isso ia destruir esse precioso pilar da sociedade que é saber o que faz de nós senhores ou senhoras. Suponho que essas pessoas também se devem arrepelar quando lhes falam em quartéis com balneários femininos e casas de banho masculinas com fraldários. Não era boa esta última ideia? Continuando com a experiência antropológica, uma vez fui a uma loja só de brinquedos e notei este facto - de um lado havia montes de brinquedo de luta. A sério era uma fila inteira de foices e martelos...E do outro só vestidos. Uns salvam e outros deixam-se salvar. Esta ideia é possivelmente das mais entranhadas e está ligada á da carinha laroca - se a tiveres não te preocupes porque alguém há-de aparecer. O problema é quando a imagem no espelho não é aquela que gostaríamos...A história da Bela e do Monstro só funciona num sentido, de facto.
Noto também, tal como foi bem apontado no vídeo, uma total ausência de super heróis do lado feminino o que deve estar igualmente relacionado com aquela ideia - as mulheres existem para ser salvas. É como fosse um campo proibido para as senhoras, não importa que na verdade até existam super heroínas relevantes. Super heroínas estas que estão ausentes do corredor dos meninos. As reacções dos pais não são menos digas de nota quando a criançada se engana no corredor: sai já imediatamente dai! Com tempo isto ganha novos contorno: "não és um homem a sério se não fizeres y, não és uma mulher completa se não fizeres x. Infelizmente tudo isto é passivamente aceite - vestir um bebé de rosa? nem pensar, queres que ele cresça com ideias esquisitas? Não é admirar, se os meninos continuam a passar á frente das meninas na sucessão de certos reinos apenas porque sim e ninguém faz um único comentário sobre isso. Quer dizer, somos quantos neste planeta? Sete bilhões? Porque temos de caber todos nas mesmas convenções, se somos todos diferentes?