Questões de Privacidade
Outro dia estava a ver uma peça no telejornal e uma especialista em qualquer coisa que não me lembro dizia que os jovens de hoje tem um conceito de privacidade totalmente diferente do das pessoas que os precederam. Achei esta afirmação deveras inquietante. Em primeiro lugar por ser realmente verdade. Nunca cesso de me espantar com as coisas que as pessoas são capazes de revelar na web...Nem vou falar nas redes, que isso daria pano para mangas e não sou grande expert, visto não ter conta em nenhuma, mas por exemplo a blogosfera. É algo que também já teve os seus dias dourados mas onde ainda se encontram coisas interessantes.
E igualmente coisas do além. A forma como algumas pessoas se expõem, tipo dizem tudo em detalhes e com nomes como se estivessem a escrever num caderninho cor de rosa com folhas de cheiro. Admito que é difícil separar as coisas...Acho que ás vezes digo demais neste blog e apetece-me apaga-lo, não o faço porque acho que depois ia ficar triste. Mas não tem conta a quantidade de textos que mando para as trevas do esquecimento, mesmo depois de ter perdido tempo a escrever e a revisar porque simplesmente não têm lugar aqui. Parece que as pessoas se esquecem que qualquer um pode chegar aqui, inclusive as pessoas visadas nos textos...
Creio que deve ser por causa deste aspecto íntimo que os blogs têm: são o nosso canto que tanto trabalho tivemos a pôr bonito e não sei quê. Agora imaginem que vocês têm um namorado. Isso é porreiro e é normal que falem disso, mas há coisas que são too much information. A menos que aconteça qualquer coisa de anormal tipo tiveram um orgasmo de três horas e tiveram de ir ao hospital como aquela senhora não sei onde, guardem certos pormenores para vocês...Depois também me parece que algumas se esquecem que nada do que é publicado desaparece.
Li sobre isto numa revista qualquer e passei a encarar o acto de clicar no botão de publicar com menos leviandade do que antes. Vamos ser apagados da superfície da terra, mas o nosso rasto na web continuará cá. Claro que isso pouco importa depois de mortos, mas sabem lá se aquela foto que publicaram no face á cinco anos quando estavam bêbedos não voltará para vos assombrar. Parece sinistro, porém possível...Anyway, o mundo parece funcionar ao contrário da lógica: criticam-se as pessoas com bom senso e louvam-se as pessoas que não têm nenhum. Também é por isto que não tenho face: não quero perder o que ainda me resta de esperança na humanidade...
De facto, eu contrario geral, ou seja, prezo a privacidade. Claro que faço concessões entre elas estes blog e outras indispensáveis á vida no mundo de hoje. Mas continuo a prezar o meu quarto de quatro paredes por enquanto não vigiado e os meus caderninhos. Pareço ter uma tendência para gostar de coisas em vias de extinção: canetas, maquinas fotográficas, carteiros, abraços, papel...Tento não cair nem muito para um lado nem muito para o outro, o que ás vezes...
O certo é que vivemos num mundo onde tudo é superficial desde a privacidade, que é cada vez mais um conceito de retórica, passando pelas pessoas, relações, democracias...Também achei a afirmação algo inquietante, porque creio que pior do que se esmorecer o conceito de privacidade é que as pessoas abdicam dela voluntariamente.Todos os dias perdemos um bocadinho e não há nada a fazer porque lá de cima dizem que é para nossa segurança e não sei quê...Aceitamos como normais, coisas não são nada normais. Associado a isto penso sempre, o meu pensamento é tipo salta pocinhas, na questão da individualidade. Aquilo que nos torna únicos estão a ver? Quando estudava os regimes totalitários na escola era das coisas que achava mais inquietante: o anular da individualidade de cada um, como lá na Coreia onde o pessoal só pode cortar o cabelo de determinada maneira. É como viver, sem no entanto existir...
Acho realmente que há valores que não se deviam perder. Por acaso não sei se já tinha falado destes assuntos aqui, afinal já lá vão quase quatro anos, mas admito que parece um cenário negro. É...Eu não tenho uma visão muito positiva do mundo. Para compensar vou mostrar onde fui no fim de semana passado, num próximo post!