Divagações sobre História e afins
Uma das razões para gostar de História é porque acredito que as pessoas não diferem muito umas das outras, isto é, nós não somos muito diferentes daqueles que viveram no século anterior que por sua vez não diferiram muito dos que os precederam e assim sucessivamente. Não estou a falar no plano tecnológico e isso...É certo que os carros já não andam só a vinte a hora e que não corremos o risco de morrer de peste, mas estou a falar no interior, na essência. pegando em personagens do passado e esquecendo aquelas aborrecidas listas de factos e datas que vêm nos livros, chega-se a conclusão, pelo menos é a impressão com que fico, que não há assim tanto que nos separe.
O que leva as pessoas a agir e os objectivos que pretendem atingir não parecem diferir muito com o passar do tempo: poder, atenção, conforto...Essas coisas. Ás vezes enquanto a minha professora de História dissertava eu ponha-me a pensar nisto. Também penso nisto quando leio certos livros: os livros do Eça são perfeitamente actuais, os do Dostoiévski ("o sangue corre alegremente como champanhe"...Se corre), até os da Austen. Em Agosto quando a Agnes Grey voltei a constatar isto...Estava ler e a pensar mentalmente em pessoas que se comportam exactamente assim, como se comportam as da história. Há autores que têm, de facto, uma capacidade acima da média para analisar a alma humana...E Cada vez me convenço mais que não mudamos nada. Pode-se pintar a maçã por fora para ficar mais vermelhinha, mas por dentro continua podre.
A nível de modas literárias e assim tenho vindo a constatar a falta de novidade das mesmas. O twilight, por exemplo, é a mesma história de sempre. Não é preciso ler mais que o primeiro livro para se perceber o sucesso...No caso das cinquentas sombras também is the same old story, mas o pessoal ouve falar em BDSM e não sei quê e fica logo a achar que está perante uma coisa moderníssima (sou só eu que não curto cenas de amarrar e tal? A menos que seja eu a amarrar e mesmo assim...). Fora do âmbito da literatura, o Facebook esse apanágio do nosso século é basicamente a exploração da necessidade básica do ser humano por atenção ("olhem para mim, eu existo..."). Todos queremos que nos dêem atenção e nos apreciem...Curiosamente parece é que sabemos comunicar cada vez menos. É um paradoxo.
É...Este é um dos motivos por que gosto tanto desta área das humanidades: como os humanos mudaram tão pouco ao longo do tempo, acabo por encontrar sempre maneira de me identificar. Isto tornava as minhas horas de estudo mais animadas: tantas questões em que o meu pensamento se poderia deter e que me pareciam muito mais interessantes que os factos no livro...Ás vezes tenho saudades das minhas aulas se bem que na altura achava-as um bocado secantes, ainda por cima eram segundas ás nove da manhã. Não havia condições para estudar coisas como os planos quinquenais ou o plano Marshall...
Pessoalmente acho que qualquer matéria se pode tornar divertida se for dada da forma certa, mas com turmas em que só a chamada gasta metade do tempo de aula, com programas chatíssimos e extensos...Ufa. Apesar de tudo tive uma excelente professora que disse algumas coisas que nunca esqueci. Uma foi que a História é um circulo. Na altura pareceu-me ridículo, mas agora já não tenho a certeza...Acho que ignorar a História é sempre perigoso.