Visto que o tempo está convidativo
Nada como uma sessão de leitura ao ar livre! (Nesta foto uma cena do último fim de semana, com participação especial de uma manta mais velha que eu, um livro muito bom e do meu bebé cor de rosinha)
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Nada como uma sessão de leitura ao ar livre! (Nesta foto uma cena do último fim de semana, com participação especial de uma manta mais velha que eu, um livro muito bom e do meu bebé cor de rosinha)
No início do ano eu tinha dois objectivos principais: não me matar e não matar ninguém. Na verdade, não são dois objectivos é mais um lema de vida: se eu chegar ao fim do dia sem que nenhum dos factos anteriores se verifique então é porque foi um bom dia, a despeito de tudo o que possa ter também acontecido. Neste momento estamos a meio do ano e penso ter motivos para me alegrar, pois a modos que ainda cá estou. Já disse que o Verão me deprime? Pois é, se me oferecessem um bilhete para a Lapónia aceitava com todo o gosto. Eu não funciono como o resto das pessoas: para elas começou o tempo da praia, para mim acabou. Enfim, também ainda não mandei ninguém para o além, embora num certo dia em que estive quarenta minutos para pagar três cêntimos na secretaria da faculdade me tivesse apetecido muito. Não sei porque é que o pessoal me chateia, tendo em conta que o instinto de sobrevivência até agora tem levado a melhor.
Ando a reler um livro que se passa em Veneza algures no século XIX e cuja personagem feminina principal é o que se pode chamar de uma femme fatale. Bela e com poucos escrúpulos, basta estalar os dedos para que os homens se arrojem aos seus pés e depois destrui-os apenas por capricho. Tudo com muita classe e postura. Ora, enquanto relia a sinopse do livro pôs-me a pensar que na literatura em geral não se encontram muitas personagem deste género. Não que eu tenha lido ainda muito, mas do que já me passou pelas mãos, parece-me que o número de heroínas é bastante superior ao de anti-heroínas. Acho que os leitores tem maior tendência para gostar das primeiras. Personagens tipo Jane Eyre com fortes convicções e valores. Já as segundas geralmente são adúlteras, mesquinhas, de moralidade dúbia e ambiciosas (característica condenável numa mulher, como se sabe...) e por isso não gozam de simpatia. Mesmo quando são rebeldes e desafiam as regras é sempre preferível que o façam do ponto de vista intelectual tipo Elizabeth Bennet, do que do ponto de vista sexual. Isto é perfeitamente aceitável numa personagem masculina, mas nunca numa feminina. É como a ambição.
Assim de repente a primeira anti-heroína que me lembro é Rebecca Sharp do livro do Thackeray (Vanity Fair). Ela é tudo o que eu disse acima: é pobre e quer á força chegar á nata da sociedade, escrúpulos nenhuns e maldade muita. Também há uma heroína neste livro que pelo lado oposto é tão boazinha que até a escrava Isaura se envergonharia de si própria. Claro que Rebecca é mais inteligente e proporciona momentos de leitura muitíssimo mais divertidos. Outro exemplo: Madame Bovary. Sempre que me aparecem no reader opiniões sobre esta obra leio com curiosidade e verifico que Emma não suscita muita simpatia, talvez por fugir ao estereótipo habitual de mulher bem comportada. Há quem lhe encontre atenuantes e quem não suporte tal personagem, adúltera e gastadora. De facto, ao ler opiniões a certos livros notam-se coisas interessantes do ponto de vista sociológico. Pessoalmente gosto de ambos os tipos de personagens: as tipo Jane Eyre e as outras mais dúbias...Só não gosto de personagens sem sal, que sejam imediatamente esquecidas assim que se fecha o livro. Isto costuma acontecer quando os autores descoram a construção das personagens deixando-as mais finas que uma folha.
Também me lembro de outra Emma, a livro da Jane Austen com o mesmo nome. Não que ela seja má, simplesmente é um pouco tolinha e não corresponde àquilo que são as heroínas habituais da autora. Além de um pouco superficial, Emma é bonita, rica e gosta de fazer de casamenteira...Isto é dito na primeira linha do livro e desconfio que metade das leitoras torce logo o nariz. Por acaso gosto mais deste livro do que do Orgulho e Preconceito: é mais corrosivo. Nos romances contemporâneos lá vão aparecendo algumas mulheres assim. A personagem da qual falei no inicio pertence a esta categoria; Zozie de l’Alba que entra nos Sapatos de Rebuçado da Joanne Harris (esta é mortal no sentido literal da palavra); Alice que é a personagem do segundo capitulo do Enquanto Salazar Dormia...Uma femme fatale por excelência. Mas sinceramente acho, e tendo em conta as novas modas literárias, que este género de personagem não está na moda. Mas este facto em concreto ficará para outro post.
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