Do que as pessoas perguntam...
Volta e meia sou abordada na rua por pessoas que querem saber como se vai para determinado sítio. O engraçado é que eu sou a pessoa mais desorientada que pode haver, ou seja, a probabilidade de me enganar e indicar á pessoa o caminho para Estocolmo em vez do caminho para as finanças é grande. Então quando me perguntam coisas á queima roupa e ficam paradas á espera de uma resposta pronta...Quando não me dão tempo de raciocinar simplesmente digo que não sei. Nas estações isto está-me sempre a acontecer, como se eu fosse uma espécie de painel de informações ambulante.
A maioria das pessoas não faz perguntas muito estranhas, mas ás vezes lá me deparo com alguma situação nonsense. Há algumas semanas atrás estava eu meio desesperada á procura do passe dentro da mala cheia de tralha, quando se aproxima uma mulher de uns trinta anos e me pergunta como é que se passa o bilhete nas portas. Assim do nada. "Tem de por o cartão no círculo", disse eu meio atordoada com a complexidade da questão. A mulher em tom de lamuria: "mas já fiz e não deu, sabe qual é o lado do cartão que tem que se passar?". Mais complicado que uma cirurgia, só voz digo...Uns dias depois encontrei na estação uma velhinha que andava ás voltas a resmungar sozinha. Eu solicita: "precisa de ajuda?". Resposta da velhinha: "preciso...Não sei sair daqui!".
Mas não...A velhinha não estava presa em nenhum jogo mortal, simplesmente achava que bastava passar o bilhete á ida. Lá lhe disse que tinha mesmo que passar o cartão novamente. Os velhotes conseguem ser surpreendentes, especialmente quando perguntam alguma coisa e depois não mais se calam. Mas enfim, muitos não terão ninguém para falar quando chegarem á casa...É preciso um bocadinho de paciência.
A mais recente que me aconteceu foi ontem. Chega-se ao pé de mim um senhor e pergunta se aquilo era a Amadora, ao que respondo que sim. "Mas eu não quero sair aqui...", respondeu ele e eu meio perplexa digo-lhe que tem de esperar mais três estações. É então que ele me diz: "é que sabe...Eu nunca andei de comboio". Já encontrei pessoas que não andavam de comboio á sessenta anos, trinta, vinte...Mas esta nunca tinha ouvido devo confessar. Tenho sempre de me lembrar que este é um país que não funciona todo á mesma velocidade, infelizmente...Depois há os mal-agradecidos, os que não acreditam no que digo e desatam a perguntar a toda a gente, os que estão na Damaia e dizem que querem ir para Olhão, sem esquecer os turistas que ás vezes se põem a fazer perguntas na sua própria língua como se eu soubesse indicar como se vai para Sintra em Holandês...Mas a maioria dos turistas até que são bastante autónomos. Há dias em que andar de transportes é um tédio...Mas há outros em que parece que caí na toca do coelho da Alice.