O Circo dos Sonhos
O Circo dos Sonhos de Erin Morgenstern
Erin Morgenstern presenteia-nos assim com uma história repleta de magia e feitiços que se passa noutra dimensão onde tudo é possível. Infelizmente, é um livro que apresenta alguns falhas em termos de escrita e estrutura...É uma pena pois a ideia em si tinha bastante potencial (e daria um belíssimo filme, já agora). A escrita não é má de todo, mas revela inexperiência e uma grande necessidade de ser aprimorada. Descrições não existem e quando a autora se digna a explicar alguma coisa embrulha-se e acabamos a saber o mesmo que antes, isto é, nada. Um circo, de uma maneira geral, é uma conjugação de sentidos: visão (os malabaristas, a multidão…); o som (os risos, a música, o silêncio no momento fatal em que achamos que o equilibrista se vai estatelar no chão…) e o cheiro claro: algodão doce, pipocas! Se a história envolve um espaço destes o autor tem de ser capaz de por as sensações no papel fazendo o leitor sentir que está realmente lá, naquele local a sentir toda aquela excitação e encantamento. A isto se chama captar a essência…E acabei por não me sentir dentro da história a maior parte do tempo.
Ainda que pareça um pouco picuinhas pode deixar de reparar que a autora usa uma quantidade massiva de adjectivos acabados em “mente” que não têm grande utilidade e que repete muitas vezes as mesmas ideias. Em termos de estrutura a narrativa não é linear, por exemplo, há um capitulo que se passa em praga em 1894, depois passa para Massachusetts em 1902, volta para 1894 e os seguintes três ou quatro capítulos são em 95. É uma grande confusão…O tempo da acção é lento. Praticamente não se passa nada durante mais de metade do livro e só nos últimos capítulos a história ganha folgo.
Outro ponto que notei é que há algumas lacunas na história: Célia e a Marco tem de lutar um contra o outro devido a uma aposta feita pelos seus mestres, mas nunca se chega a perceber a que propósito a que esta aposta vem e quando é que começou, aliás não se sabe quase nada das personagens a não ser das principais, ou seja, as personagens secundárias vão aparecendo assim do nada. É uma pena que não haja melhor aproveitamento, por exemplo, da contorcionista Tsukiko (a minha personagem preferida já agora). Mais uma lacuna: as lições que os jovens mágicos receberam antes de se encontrarem. Sabemos que eles tiverem lições de magia, mas em que consistem concretamente ficamos sem saber. Conclusão: É um livro com uma excelente ideia de base que acaba prejudica pela inexperiência da autora, mas não deixa de ser uma história agradável e boa para exercitar a imaginação. Como se trata do primeiro livro de Erin Morgenstern e é de supor que estes aspectos menos bons, nomeadamente os estilísticos, serão melhorados. É uma autora a seguir.